São Paulo, sábado, 21 de março de 1998

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PARLAPATÕES
Shakespeare cai nas graças dos Parlapatões

da enviada especial

Quem for assistir hoje, às 21h30, no teatro Fernanda Montenegro, a "ppp@WllmShkspr.br" terá uma surpresa logo de cara: uma lista com o nome das 37 peças de William Shakespeare (1564-1616) será distribuída à platéia.
Trata-se da mais nova brincadeira do grupo Parlapatões, Patifes & Paspalhões, que promete, em cerca de 1h40, mostrar a obra completa do famoso bardo.
Baseada no texto "The Complete Works of William Shakespeare Abridged", dos norte-americanos Jess Borgeson, Adam Long e Daniel Singer, a montagem propõe uma espécie de "tour de force" a seus atores (Hugo Possolo, Alexandre Roit e Raul Barreto).
Em pequenos quadros, com alguns dos diálogos originais, o Parlapatões viajará pelo misticismo de "Macbeth", o amor de "Romeu e Julieta", a loucura de "Hamlet".
Tudo isso somado a muito humor, marca registrada do grupo que começou em shows de rua.
O projeto de montar toda a obra de Shakespeare partiu do diretor Emílio Di Biasi (de "Budro"), que encomendou a tradução a Bárbara Heliodora, crítica de teatro e grande conhecedora do dramaturgo inglês.
"Eu pensei que ela fosse achar uma heresia. Que nada, ela adorou, disse que era uma brincadeira supersaudável", contou o diretor.
Biasi, que nunca havia montado um texto de Shakespeare antes, chamou então os Parlapatões.
"Eu precisava de uns caras muito loucos, que já tivessem uma linguagem própria e que somassem seu humor dos anos 90 ao meu, dos anos 60. E, como o que tem sido feito de Shakespeare no Brasil é uma bobagem, resolvemos escrachar de vez."
Em ensaio assistido pela Folha, o grupo misturou trechos de "Hamlet" com piadas sobre a adocicada Eduarda, da novela "Por Amor", além de mostrar o atormentado protagonista cheirando cocaína, enquanto declamava seu texto.
"Com essas referências, procuramos trazer o espetáculo para a realidade brasileira. Mas é preciso dizer que nenhuma piada é gratuita, mas sim fruto de profundo estudo", ressalta Biasi.
O fato de 98 ser o centenário de nascimento do dramaturgo alemão Bertolt Brecht (1898-1956) contribui muito para a realização de "ppp...", brincam os atores.
"Já que todo mundo iria querer fazer Brecht, resolvemos escolher Shakespeare. E, como se isso não bastasse, vamos montar ele todinho", gargalha Possolo.
Há controvérsias quanto ao número exato de peças produzidas por Shakespeare. Eximindo-se dessas discussões, a companhia apresentará 37 obras, que, se não tiverem pelo menos um trecho interpretado, serão citadas de alguma maneira.
A platéia, como em todas as montagens anteriores do grupo, participará ativamente das esquetes -há inclusive um momento em que uma pessoa é chamada para ser a Ofélia, de "Hamlet".
"Desculpem-nos nossa incapacidade, mas não conseguimos fazer espetáculo que não mantenha contato direto com espectador", finaliza o ator.



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