São Paulo, quinta-feira, 21 de abril de 2005

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Chef inglês reformula merenda escolar no país

DE LONDRES

Jamie Oliver nunca duvidou que conseguiria o sucesso atingido recentemente com seu programa "Jamie's School Dinners" -que foi transmitido pelo Channel 4- e se expressa de forma nada convencional para dizer isso.
"Estava completamente focado em conseguir uma grande mudança. Não gastei um ano e meio sofrendo abusos de garotos em escolas, sem a ajuda dos pais deles, porque gosto de abuso verbal", disse à Folha.
De forma geral, o chefe afirma que não acredita em fracassos. "Não, eu não acredito nisso. Não mesmo. O que eu faço, faço, não importa o que vai demandar."
Isso não significa que esse último projeto, no entanto, tenha sido fácil. Primeiro, foi a dificuldade de convencer as crianças a, pelo menos, tentar o cardápio proposto por Oliver.
Mesmo quando ele conseguiu autorização para banir completamente as comidas de má qualidade ("junk food"), muitos se recusavam a experimentar os pratos saudáveis sugeridos e ensinados pelo chef britânico.
Ao mesmo tempo, Oliver tinha de ensinar às cozinheiras suas receitas e convencê-las de que valia a pena o esforço -muitas tiveram de fazer horas extras no início do projeto.
Oliver conseguiu tudo isso. Ainda exibiu para a nação britânica, em horário nobre, a péssima qualidade das comidas que as crianças vêm comendo nas escolas. Mostrou, por exemplo, como são feitos nuggets (uma mistura triturada do resto da carcaça do frango com gordura) e conseguiu que muitas crianças abandonassem opções como essa. De repente, só se falava em Jamie Oliver e seu programa no Reino Unido.
Depois, veio a parte mais difícil: convencer o governo trabalhista de Tony Blair de que o orçamento reservado para as merendas era muito baixo. No último dia 30, acabou sendo anunciada uma injeção de 280 milhões de libras a mais para as merendas (cerca de R$ 1,4 bilhão).
Agora, diz Oliver, a expectativa é que o projeto de melhorar a qualidade das refeições escolares continue. "Continuarei envolvido na medida em que for necessário. Essencialmente, não é meu trabalho alimentar cada criança deste país. Sou chef, não babá. Mas fiquei muito feliz de passar um ano e meio provando a verdade e ficarei feliz de continuar sendo a voz das cozinheiras e dos pais", afirmou.
Apesar de sua linguagem e seu jeito causarem polêmica no Reino Unido, Oliver é admirado não só por ser considerado um excelente chef e um jovem para lá de midiático, mas pelos projetos sociais que desenvolve. Em seu restaurante, Fifteen, garotos de classes sociais mais baixas são treinados para se tornarem chefs. A experiência tornou-se o "reality show" "A Cozinha de Oliver", exibido no Brasil pela GNT. Quem trabalha com ele, como o brasileiro Almir Santos, só tem elogios.
"O Jamie é muito legal. É um sujeito especial mesmo. O trabalho que fazemos com os garotos aqui no restaurante é fantástico", afirma Santos, gerente de cozinha do Fifteen e amigo de Oliver. O brasileiro trabalha com o chef britânico há 13 anos, desde os tempos anteriores à fama. (EF)


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