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MÚSICA
Crítica/"Ray Charles Live at the Olympia"
Teclado vulgariza obra de Ray Charles em show improvisado
Greve no aeroporto obrigou cantor a viajar sem o piano
para a apresentação, de 2000, que é lançada em CD e DVD
VINICIUS MESQUITA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Não se iluda com a capa
do DVD e do CD "Live
at the Olympia", gravado por Ray Charles na casa de
shows parisiense em 22 de novembro de 2000 e lançado neste ano no Brasil. A imagem que
ilustra os dois produtos mostra
o músico sentado ao piano. Mas
esqueça o instrumento. Durante 14 composições (setenta minutos), Ray Charles manobra
um ruidoso teclado Yamaha e
tem ao seu lado somente um
baterista (Peter Turre), um guitarrista (Bradley Rabuchin) e
um baixista (Thomas Fowler).
Não culpe Ray Charles
(1930-2004) pelo engodo. O
músico fez tudo o que esteve ao
seu alcance para chegar a tempo ao Olympia naquela noite.
Em tour pela Europa, Ray, a orquestra e as indispensáveis
cantoras do The Raelettes, grupo responsável pelos backing
vocals da banda desde os anos
1950, foram surpreendidos
com uma greve no aeroporto de
Lisboa. A paralisação atingia
exatamente a companhia aérea
que deveria conduzir toda a comitiva de Ray até Paris.
Cancelar o show era algo inimaginável. O Olympia tinha
um poderoso valor sentimental
para o músico. Foi lá que ele fez
a primeira apresentação na Europa, em 1960. Coube ao produtor Jean-Pierre Grosz criar
soluções para o problema (nos
extras do DVD, Grosz conta a
história em detalhes).
Após uma reunião, ficou estabelecido que Ray viajaria para a França somente com um
assistente, um produtor, um
responsável pela técnica e três
músicos. As salvadoras sete
poltronas foram encontradas a
muito custo por Grosz em um
voo da Air France. Em Lisboa,
ficaram a orquestra, as Raelettes e o piano.
No Olympia, o show beirou o
nonsense. Em um palco enorme, Ray assumiu o primeiro
plano com o Yamaha, deixando
na "cozinha" o trio ganhador
das passagens aéreas. Os efeitos especiais do teclado, sem a
proteção dos demais instrumentos da orquestra, vulgarizaram canções como "Georgia
on My Mind", "Stranger in My
Own Home Town", "Angelina"
e "Hey, Girl".
O Yamaha não prejudicou "I
Got a Woman" e "What'd I
Say?", mas o resultado teria sido mais bacana caso Ray tivesse à disposição teclados como o
Wurlitzer ou o Fender Rhodes,
suas opções preferidas antes
dos anos 1990.
O DVD convence mais que o
CD. Nele, ao menos, você pode
entender o milagre produzido
por Ray. Com o grupo esfacelado, sustentado por arranjos elaborados na última hora, o músico apelou às vozes da plateia
para ajudá-lo com os backing
vocals de "What'd I Say?" e, como prêmio, recebeu aplausos
de um público satisfeito.
RAY CHARLES LIVE AT
THE OLYMPIA
Artista: Ray Charles
Lançamento: Som Livre
Quanto: R$ 29,90, o CD, e R$ 39,90,
o DVD
Avaliação: regular
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