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CRÍTICA
Listas "à la Borges" são a mágica do livro
DA REDAÇÃO
No capítulo de "Os Livros e
os Dias" dedicado a Conan Doyle, Alberto Manguel
enumera enredos de detetive
favoritos e comenta "O Signo
dos Quatro", do escritor escocês. Eis que fica sabendo do suicídio de um conhecido e reflete:
"De repente parece obsceno ser
entretido por mortes brutais na
ficção". É dessa perplexidade
que a literatura provoca que
trata o autor argentino.
Manguel viaja muito e levou
os livros a que se propôs reler
mundo afora. Assim, os comentários sobre cada leitura
foram propositadamente contaminados pelo ambiente ao
seu redor. Às vezes, funciona
bem, como a ida a Buenos Aires com "A Invenção de Morel", de Bioy Casares, no bolso.
Em sua primeira visita ao país
desde o "estallido" de 2001,
Manguel relaciona a espera do
narrador do romance por algo
miraculoso com a "valentia
melancólica dos argentinos".
Em outras situações, por
exemplo, quando analisa "Memórias Póstumas de Brás Cubas" na Escandinávia, a relação, como era de supor, não
flui de forma natural, apesar
das reflexões muito originais
sobre Machado de Assis.
Mas é na herança borgeana
que está a mágica do livro.
Manguel elabora listas e mais
listas a partir dos romances. E
são elas que criam literatura
dentro desse ensaio literário.
Há uma enumeração romântica das coisas de que se lembra
de Buenos Aires (o escarlate da
nota de dez pesos, o sifão de gasosa da mesa do jantar), outra
de livros que falam do tempo
suspenso, de lugares de onde
não se pode sair ou de outros a
que não se pode chegar.
São rígidas na forma e nas regras, mas permitem um elogio
à digressão e a reconstrução
dos próprios livros de que tratam. Assim, inscrevem "Os Livros e os Dias" na lista dos livros que, hoje, valem a pena ler.
(SYLVIA COLOMBO)
Os Livros e os Dias
Autor: Alberto Manguel
Tradução: José Geraldo Couto
Editora: Companhia das Letras
Quanto: R$ 38 (212 págs.)
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