São Paulo, sábado, 21 de maio de 2005

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CRÍTICA

Listas "à la Borges" são a mágica do livro

DA REDAÇÃO

No capítulo de "Os Livros e os Dias" dedicado a Conan Doyle, Alberto Manguel enumera enredos de detetive favoritos e comenta "O Signo dos Quatro", do escritor escocês. Eis que fica sabendo do suicídio de um conhecido e reflete: "De repente parece obsceno ser entretido por mortes brutais na ficção". É dessa perplexidade que a literatura provoca que trata o autor argentino.
Manguel viaja muito e levou os livros a que se propôs reler mundo afora. Assim, os comentários sobre cada leitura foram propositadamente contaminados pelo ambiente ao seu redor. Às vezes, funciona bem, como a ida a Buenos Aires com "A Invenção de Morel", de Bioy Casares, no bolso. Em sua primeira visita ao país desde o "estallido" de 2001, Manguel relaciona a espera do narrador do romance por algo miraculoso com a "valentia melancólica dos argentinos".
Em outras situações, por exemplo, quando analisa "Memórias Póstumas de Brás Cubas" na Escandinávia, a relação, como era de supor, não flui de forma natural, apesar das reflexões muito originais sobre Machado de Assis.
Mas é na herança borgeana que está a mágica do livro. Manguel elabora listas e mais listas a partir dos romances. E são elas que criam literatura dentro desse ensaio literário.
Há uma enumeração romântica das coisas de que se lembra de Buenos Aires (o escarlate da nota de dez pesos, o sifão de gasosa da mesa do jantar), outra de livros que falam do tempo suspenso, de lugares de onde não se pode sair ou de outros a que não se pode chegar.
São rígidas na forma e nas regras, mas permitem um elogio à digressão e a reconstrução dos próprios livros de que tratam. Assim, inscrevem "Os Livros e os Dias" na lista dos livros que, hoje, valem a pena ler. (SYLVIA COLOMBO)


Os Livros e os Dias
   
Autor: Alberto Manguel
Tradução: José Geraldo Couto
Editora: Companhia das Letras
Quanto: R$ 38 (212 págs.)



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