São Paulo, sábado, 21 de maio de 2005

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58º FESTIVAL DE CANNES

Premiação acontece hoje à noite; "Caché", do cineasta austríaco, é escolhido pela crítica internacional e por Júri Ecumênico

Haneke e Wenders lideram competição

ALCINO LEITE NETO
ENVIADO ESPECIAL A CANNES

"Caché" (escondido), drama filmado em Paris pelo diretor austríaco Michael Haneke, e "Don't Come Knockin'" (entre sem bater), do alemão Wim Wenders, são os filmes com mais chances de ganhar a Palma de Ouro do Festival de Cannes, nas apostas da crítica internacional.
O filme de Haneke já arrebatou alguns troféus: ontem foi o escolhido da crítica internacional (Fipresci) e levou também o prêmio do Júri Ecumênico.
Outras premiações paralelas foram divulgadas em Cannes. O prêmio da mostra Um Certo Olhar, na qual concorriam dois longas brasileiros, foi para "A Morte do Sr. Lazarescu", do romeno Cristi Puiu. "Cidade Baixa", de Sérgio Machado, venceu o Prêmio da Juventude.
A 58ª edição do evento começou no dia 11 e terminou ontem, com a exibição do belo filme "Three Times" (três vezes), de Hou Hsiao Hsien. Hoje, serão anunciados os vencedores em uma cerimônia de gala que começa às 19h30 (14h30 em Brasília).
No contexto do festival, os filmes de Haneke e Wenders são os que mais bem se adequariam, entre os 21 concorrentes, ao gosto cinematograficamente conservador da maioria do júri presidido pelo cineasta sérvio Emir Kusturica e composto pela escritora norte-americana Toni Morrison, os atores Javier Barden (espanhol), Salma Hayek (mexicana) e Nandita Das (indiana), além dos diretores Fatih Akin (alemão), John Woo (chinês), Benoît Jacquot e Agnès Varda (franceses).
Os filmes "L'Enfant" (a criança), dos irmãos Jean-Pierre e Luc Dardenne, "Broken Flowers" (flores partidas), de Jim Jarmusch, e "O Anjo da Morte", de David Cronenberg, também estão na linha de frente da premiação. Exibido na primeira semana, "Last Days (últimos dias), de Gus van Sant, teve suas chances diminuídas no decorrer do evento.
Filmes com abordagens mais sociais devem agradar a uma boa parte do júri, cuja obra tem viés político, como a de Kusturica, Toni Morrison e Agnès Varda. Nesse caso, existe alguma chance para o provocativo "Manderlay", do dinamarquês Lars von Trier, cuja reflexão sobre escravatura nos EUA pode interessar a Morrison, que é afro-americana -mais provável é que o filme leve algum prêmio de interpretação.
Haneke tem a vantagem de conciliar bom cinema com drama doméstico, enfoque político e sátira social. "Caché" narra a história de um apresentador de TV que começa a receber fitas de vídeo com flagrantes de sua vida. Ao buscar a origem das fitas, ele acaba se deparando com dois recalques do passado -o seu próprio e o da França.
É muito provável que um ator americano leve o prêmio de interpretação. Os americanos dominaram o festival em emocionantes performances, como as de Bill Murray ("Broken Flowers"), Michael Pitt ("Last Days"), Sam Shepard ("Don't Come Knockin'") e Danny Glover ("Manderlay"). O melhor ator francês em atividade, Daniel Auteil, presente em dois filmes ("Caché" e "Peindre ou Faire L'Amour", dos irmãos Larrieu), é outro nome forte.
Poderoso rival é o ótimo ator Jérémie Renier, de "L'Enfant" -filme que pode levar ainda o prêmio de atuação feminina (Déborah François). Outras cotadas são Juliette Binoche ("Caché"), Maria Bello ("O Anjo da Morte"), Charlotte Rampling e Charlotte Gainsbourg ("Lemming", de Dominik Noll), Sabine Azema ("Peindre ou Faire L'Amour") e a maravilhosa Mona Hammond ("Manderlay").


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