MICHIKO KAKUTANI
DO "NEW YORK TIMES"

Era uma voz, Bruce Springsteen diria, repleta de "má atitude, vida, beleza, um terrível sentido de liberdade, sexo e uma experiência melancólica do mundo". A segunda coisa que você lembra é a atitude: as bebidas, as brigas, os cigarros Camel, os Jack Daniel's, as noites em pequenos bares e as noitadas em Las Vegas. Ele era o homem que irradiava o cinismo macho de Bogart e o romantismo melancólico de Fitzgerald.
Quando nevava, um escritor observou, "as garotas brigavam pelas suas pegadas, que algumas levavam para casa e guardavam na geladeira". Pete Hamill declarou certa vez que seria necessário alguém encarnar "uma combinação de Balzac e Raymond Chandler" para capturar as complexidades da vida e da obra de Frank Sinatra. É um desafio, o leitor deve supor, que foi assumido por algum biógrafo empreendedor interessado em contar esta história bem americana -repleta não apenas de estrelas e artistas mas também de sonhos e ambições de imigrantes, do nascimento da cultura popular americana e da relação tensa entre entretenimento, política e o submundo.
Os autores de "Sinatra" não mostraram apreço pelo trabalho do artista -e é isso que faz uma biografia valer a pena ser escrita ou lida. Eles não esclarecem as fontes biográficas de sua carreira, exceto para fazer as conexões mais óbvias. Obsessivamente centrado em manchetes sobre a vida do cantor, "Sinatra" (que tem o subtítulo presunçoso de "A Vida") é um sintoma espalhafatoso de nossa cultura baseada em fofocas -uma cultura que prospera em "reality shows", rumores duvidosos pela internet e em tablóides de supermercado.
Certamente "Sinatra" é um título descartável que extrai muito de livros publicados anteriormente. Além disso, os autores fazem muito pouco para checar várias afirmações de suas fontes e parecem felizes em citar qualquer um que tenha qualquer coisa a dizer sobre seu temperamento mulherengo, beberrão e violento ou sobre suas alegadas conexões com a máfia.