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Peça sobre ruína lidera invasão russa em SP
"Casting", primeira montagem de texto de Aleksandr Gálin, estreia hoje
Dramaturgo retrata pessoas que tentam sair da Rússia a qualquer custo e permite paralelo com autores clássicos já em cartaz
GUSTAVO FIORATTI
DA REPORTAGEM LOCAL
Já faz 19 anos que a União Soviética foi extinta e os russos
ainda comemoram uma sensação atípica de liberdade.
Esse sentimento é especialmente presente entre artistas
traumatizados pela censura do
antigo regime, diz Aleksandr
Gálin, dramaturgo contemporâneo russo encenado pela primeira vez no Brasil -a partir de
hoje no Sesc Vila Mariana.
Ainda assim, sua peça -dirigida por Marco Antônio Rodrigues e com Caco Ciocler no
elenco- fica distante de ser
condescendente com uma nova
situação política. O título em
inglês ("Casting") já aponta a
intenção da sátira.
Seu enredo revela um cenário de ânimos exaltados. Mostra um povo que ainda procura
assentar tranquilidade com as
novas possibilidades, representado por um grupo de mulheres
à beira da histeria, dispostas a
tudo, ou a quase tudo, para deixar a Rússia.
Vale, por exemplo, se arriscar
em shows de striptease num incerto destino em Cingapura, ou
enfrentar situações que sugerem prostituição -o que não fica explícito no texto. "São pessoas comuns tentando ser livres", defende o autor.
A descrição do cenário, igualmente, retrata um país que tece
caminhos sobre ruínas. Tudo se
passa num grande e velho cinema de Moscou chamado Cosmos, referência tanto a um instrumento de propaganda comunista para as massas como
-por conta do nome- à corrida espacial empreendida durante a Guerra Fria.
Quem vence o embate, na situação proposta pela peça, no
entanto, é um time de japoneses que chega à Rússia para recrutar garotas bonitas e jovens.
Como boa comédia, o texto
parte de um primeiro conflito:
entre as candidatas, fazem
maioria as feias e as velhas.
Há o risco, num primeiro
momento, de um traço estereotipado, que Rodrigues sabe
bem trabalhar por meio de sua
linha brechtiana ligada ao circo. E o retrato de Gálin, de qualquer forma, também parte de
uma situação real.
O autor diz que testemunhou, em um teatro tradicional
da cidade, um recrutamento da
mesma espécie, empreendido
também por japoneses, nos
dias que seguiram a queda da
União Soviética.
"O teatro estava vazio, e dois
homens e um tradutor, atrás de
uma mesa, olhavam para duas
russas seminuas", conta.
Saber rir
É em boa hora que chega a
São Paulo um exemplar russo
contemporâneo.
Especialmente para os entusiastas, é possível hoje fazer um
bom paralelo com a densidade
de autores clássicos -Tchecov
e Dostoiévski- que estão ou
entrarão em cartaz em breve
(veja ao lado a programação).
Além da adaptação de "O
Idiota" para os palcos, com direção de Cibele Forjaz, que vai
iniciar turnê pelo interior paulista, começa um especial em
homenagem aos 150 anos de
nascimento de Tchecov.
Quem realiza o evento é a
Caixa Cultural, com programação de leituras, espetáculos e
debates. Também em cartaz,
Celso Frateschi encena adaptação para "O Grande Inquisidor", trecho de "Os Irmãos Karamázov", de Dostoiévski.
O diretor Marco Antônio Rodrigues até arrisca uma comparação. "Ainda há no texto de
Gálin aquela vontade de deixar
o lugar em que se vive, de ir embora", diz, em referência especialmente à peça "As Três Irmãs", de Tchecov.
A escolha de Rodrigues também rastreia uma possível afinidade cultural entre russos e
brasileiros. "São povos que sabem rir de si mesmos", resume.
CASTING
Quando: sex. e sáb., às 21h; e dom., às
18h; até 20 de junho
Onde: Sesc Vila Mariana (r. Pelotas,
141, tel. 0/xx/11/5080-3000)
Quanto: R$ 30
Classificação: 16 anos
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