|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Lausanne se apresenta com brasileiros
da Reportagem Local
A Orquestra de Câmara de Lausanne é considerada uma das mais
uniformes e astutas formações européias de seu gênero.
Foi fundada em 1942 e tem hoje
como diretor musical o espanhol
Jesus Lopez Cobos, 57, que já dirigiu a Deutsche Oper de Berlim e a
Orquestra Nacional da Espanha, e
que hoje acumula Lausanne com a
Sinfônica de Cincinnati (EUA).
A orquestra se apresenta amanhã, às 21h, na temporada da série
Hebraica-Banco de Boston. Terá
como solista o violoncelista brasileiro Antônio Meneses, 39, que
também é professor do conservatório da Basiléia (Suíça).
Ele é proprietário de uma carreira meteórica, depois de um primeiro prêmio no concurso Tchaikovski de Moscou (1982) e de ter
gravado com o maestro Herbert
von Karajan, com a violinista Anne-Sophie Mutter e a Filarmônica
de Berlim, o "Concerto Duplo" de
Brahms.
Meneses não será o único brasileiro no concerto. Entre as violas,
estará Caio Carneiro, 52, há 30
anos na Europa, e com quem a Folha conversou.
Eis os principais trechos de sua
entrevista.
(JOÃO BATISTA NATALI)
Folha - O sr. já era músico profissional no Brasil?
Caio Carneiro - Eu era estudante de segundo ano na Escola Politécnica na USP e violinista amador. Fui para a Europa na excursão
de um coral e lá estou até hoje.
Folha - Onde estudou?
Carneiro - Fui para a Alemanha
pensando em estudar um ou dois
anos. Passei por Hannover seis
meses, fiz um curso de verão em
Portugal com Rudolf Baumgartner, e, a convite dele, me transferi
para Lucerna, na Suíça. Fiquei por
lá dois anos, e, como bolsista, terminei meus estudos em Munique.
Folha - Estava então na hora de
voltar para o Brasil?
Carneiro - Era o meu plano,
mas nesses quatro anos e meio de
estudos eu conheci minha mulher,
que é suíça. Casei-me, fomos para
Berlim, onde ela se tornou violinista na Orquestra da Rádio de
Berlim, e eu me tornei violista na
Orquestra da Ópera de Berlim.
Folha - Era e continua sendo uma
cidade com vida musical bastante
intensa.
Carneiro - Sem dúvida. Havia
semana em que na Filarmônica
havia concerto regido por Karajan, na ópera eu tocava "Tristão e
Isolda" (Wagner) com Zubin
Mehta, e minha mulher, na Orquestra da Rádio, era dirigida por
Lorin Maazel.
Folha - E porque deixou Berlim?
Carneiro - A cidade, mesmo
com toda essa música, tinha um
problema político bastante atemorizador. Eu não queria que meu filho crescesse junto ao muro (divisa das duas Europas) e das tensões
que isso gerava. Li um anúncio de
que a Orquestra Lausanne procurava um violista...
Folha - Seu filho é músico?
Carneiro - Fizemos de tudo para que ele se interessasse, mas sem
nenhum resultado até há uns quatro anos. Começou a tocar a violão
e agora se interessa enormemente
por música clássica. Passou a frequentar todos nossos concertos e a
discuti-los bastante.
Folha - Sua mulher também toca
na mesma orquestra?
Carneiro - Agora, sim. Ela violino, e eu viola.
Folha - Quantos músicos tem a
Orquestra de Lausanne?
Carneiro - Ao todo, 44 músicos,
mas em cada concerto há no máximo 36 ou 37. Os que não tocam estão de folga obrigatória.
Folha - Hoje, no Brasil, na melhor
das hipóteses, como músico de orquestra, o sr. ganharia R$ 3.200
mensais. Na Suíça é muito mais?
Carneiro - Não chega a ser o dobro dessa quantia, mas se ganha
bem mais.
Folha - O sr. tem algum contato
com a música brasileira?
Carneiro - Só toco a música
programada pela orquestra. Mas
nos últimos cinco anos fui eleito
representante dos músicos junto à
administração da orquestra (não
confunda com a função sindical!).
Como tomo parte em todas as decisões internas, também posso sugerir peças à programação. Já fizemos por isso Villa-Lobos e Camargo Guarnieri.
Folha - Como é composto o orçamento da orquestra?
Carneiro - Ele é de 9 milhões de
francos suíços por ano (R$ 6.7 milhões).
Concerto: Orquestra de Câmara de
Lausanne, dir. Jesus Lopez Cobos
Programa: Jarrell, Dvorak, Saint-Saes e
Mozart
Quando: quinta-feira, às 21h
Onde: A Hebraica (r. Hungria, 800, tels.
011/818-8888/8889)
Ingressos: de R$ 35,00 a R$ 70,00
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|