São Paulo, quinta, 21 de maio de 1998

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Debate uniu teóricos e rappers

da Reportagem Local

Para o lançamento de "Vivendo a Arte - O Pensamento Pragmatista e a Estética Popular", a editora 34 organizou em conjunto com a PUC (Pontifícia Universidade Católica) e a Folha um debate entre o autor Richard Shusterman, professores e rappers.
Participaram da mesa, anteontem à noite, no Tuca, o professor Luiz Felipe Pondé, recém-doutor em filosofia pela USP e professor pesquisador no CNPq, Silvia Anspach, professora do Departamento de Inglês da Faculdade de Comunicação e Filosofia da PUC, e os rappers paulistas Thaíde e DJ Hum. A mediação foi do editor da Ilustrada, Sérgio Dávila.
Shusterman abriu o debate elogiando a interdisciplinaridade da formação da mesa. "A mistura interdisciplinar é algo que meu trabalho tenta encorajar. Essa idéia é algo básico para a estética que eu tento promover", afirmou.
Em seguida, explicou o pragmatismo, uma filosofia norte-americana focalizada na ação humana como a base do pensamento, em oposição à filosofia tradicional que coloca a verdade como o conceito filosófico básico.
Citou o trabalho de John Dewey, seu precursor, e afirmou que, para o pragmatismo, a arte tem funções e não é algo separado da realidade, da política e da ética. Segundo ele, sua função mais global seria intensificar o desfrutar da vida.
Shusterman expôs ainda a opção do pragmatismo pela "experiência estética", definindo o valor da obra de arte menos no objeto e mais nas experiências que tal objeto pode oferecer, tanto na realização quanto na observação.
O filósofo mostrou-se entusiasmado após a fala dos rappers. "Há 15 anos, eu não estaria aqui. Eu era um ninguém, um número nas estatísticas. Mas estou aqui porque é importante, como a presença de cada um é. Eu quero fazer parte disso. E sei que as pessoas da periferia também querem. Mas, infelizmente, a informação não chega", afirmou Thaíde.
Em sua exposição, a professora Silvia Anspach questionou a necessidade de uma legitimação para a cultura popular, que ela caracterizou como um "outro".
"Resta saber se é realmente o caso de se legitimar o outro dentro de um quadro de tantas ilegitimidades e legitimações possíveis quanto o contemporâneo. O outro quer ser legitimado? Ele precisa de mão externa e alheia? Ou ele deve permanecer e resistir numa teimosa alteridade?", disse.
Já Luiz Felipe Pondé baseou sua argumentação no pensamento de Alexis de Tocqueville -autor de "A Democracia Americana", no século 19-, questionando o próprio pragmatismo em oposição à chamada filosofia tradicional.
"Tocqueville vai dizer que os jovens americanos são fantásticos nas ciências práticas, toleram as ciências teóricas aplicadas à prática, mas que, pela situação em que estão imersos na sociedade, começam a desenvolver uma total dificuldade de lidar com ciências puramente teóricas. E que essa tendência levaria a jovem democracia americana a desenvolver um método filosófico em que tudo o que você pensa está submetido à idéia de utilidade, eficácia e resultados", afirmou. (PD)

Livro: Vivendo a Arte - O Pensamento Pragmatista e a Estética Popular
Autor: Richard Shusterman
Lançamento: editora 34
Quanto: R$ 29 (268 págs.)



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