São Paulo, quinta-feira, 21 de junho de 2001

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RELÂMPAGOS

Estada

JOÃO GILBERTO NOLL

Bateu na porta. Era uma casa de vila no Catete. Ao pé de uma pedreira que calçara metade do Rio. Não lembrava onde tinha lido a informação. Bateu mais. Um vizinho contíguo abriu sua janela. "Hein?", perguntou. "Não!, preciso é falar com ela aqui", respondeu áspero, como se o outro quisesse entrar no circuito exíguo entre ele e a mulher cujo simples nome lhe franqueava uma espécie de último desejo. Não esse que se costuma extrair de um moribundo, coisa que ele não esperava ser. Um último desejo de outra paragem: vontade de ganhar de alguém certa ausência inesperada, a prova de que não é preciso ter mais, voltando assim mais pobre ainda para onde quem sabe já nem se possa voltar. Ou não; talvez sentar na sombra limpa do degrau de pedra -e ficar...


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