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RUÍDO
Indústria admite imprecisão de números
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL
Debatendo -se entre piratarias e projetos de lei pela
numeração de discos, a indústria fonográfica tenta recuperar
imagem de lisura.
"A transparência das vendagens da indústria é absolutamente inquestionável. Há instrumentos legais para os artistas
fiscalizarem isso", afirma o presidente da Associação Brasileira
dos Produtores de Discos
(ABPD), Luiz Oscar Niemeyer,
ao pregar a não-necessidade de
novas formas de controle (como
a numeração dos CDs).
Pouco depois, no entanto, ele
admite a confusão que a indústria faz entre números vendidos
para lojas (e passíveis de encalharem) ou para consumidores.
"Às vezes se coloca 1 milhão de
discos na loja e o marketing divulga, mas seis meses depois
voltam 150 mil. A devolução é
uma realidade", diz Niemeyer.
As devoluções não costumam
ser divulgadas pelas gravadoras,
e graças a mecanismos como esses Roberto Carlos, por exemplo, ultrapassa a marca de 1 milhão de cópias vendidas de cada
novo disco, religiosamente.
É vez de o consultor jurídico
da ABPD, João Carlos Muller,
abrir um outro jogo: "Se confirmar devolução, quem vai ficar
irritado é o próprio artista. É
golpe de marketing".
O NÃO-LANÇAMENTO
A obra do mineiro João Bosco está, em geral, bem representada em CD. Faltam
poucos títulos, como "Tiro de Misericórdia" (77) e "Linha de Passe" (79), ambos
pertencentes à BMG, e os hoje esquecidos "Comissão de Frente" (82), "Gagabirô"
(84) e este "Cabeça de Nego" (86), todos agregados ao catálogo da Universal. "Cabeça de Nego" é o ápice do tratado afro-brasileiro de Bosco, especialmente na faixa-título, em "João do Pulo", em "Da África à Sapucaí" e na rara parceria com Martinho da Vila de "Odilê, Odilá".
MAIS NUMERAÇÃO
"Assinei a lista não por medo de represálias dos compiladores ou por ser
contra gravadoras, mas por achar que elas devem nos proporcionar acesso
automático, sem necessidade de auditorias, aos relatórios detalhados de venda", explica Paula Toller, do Kid Abelha, rebelde à ameaça de Lobão de que "será mais fácil depois dizer quem não participou".
TRANSPARÊNCIA 1
Em dezembro, a Abril Music dizia que o disco de Supla vendera 400 mil cópias; de lá para cá, já subiu para 600 mil. Mas o músico Eduardo Bid, líder do Funk como le Gusta e co-autor da faixa "Humanos", contesta. "Até o primeiro
trimestre de 2002, só recebi royalties referentes a 300 mil cópias. Na mídia se fala que o disco foi platina dupla. Por que não recebo então?", pergunta.
TRANSPARÊNCIA 2
No final do ano passado, as herdeiras de Raul Seixas venceram em caráter
definitivo processo contra a Universal, entre outras razões porque a gravadora pagava direitos autorais de CD com preço do extinto vinil. A gravadora conseguiu das herdeiras, à época, que os detalhes não fossem divulgados publicamente.
TRANSPARÊNCIA 3
"Nenhum artista que vende tem suspeita sobre números. Isso é coisa de quem não vende disco", afirmou nesta semana o executivo da Som Livre/Globo João Araújo sobre a polêmica da numeração. Pois entre os artistas da grande indústria que aderiram à corrente de apoio à numeração disseminada por Lobão e Beth
Carvalho estão Marisa Monte, Titãs, Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Paula Toller, Frejat, Lenine, Marina Lima, Xis, Zizi Possi, Zeca Pagodinho, Fernanda Abreu, Marcelo Yuka (O Rappa), Los Hermanos, Jota Quest, Zezé di
Camargo & Luciano etc. etc.
psanches@folhasp.com.br
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