São Paulo, sexta-feira, 21 de junho de 2002

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RUÍDO

Indústria admite imprecisão de números

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL

Debatendo -se entre piratarias e projetos de lei pela numeração de discos, a indústria fonográfica tenta recuperar imagem de lisura.
"A transparência das vendagens da indústria é absolutamente inquestionável. Há instrumentos legais para os artistas fiscalizarem isso", afirma o presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Discos (ABPD), Luiz Oscar Niemeyer, ao pregar a não-necessidade de novas formas de controle (como a numeração dos CDs).
Pouco depois, no entanto, ele admite a confusão que a indústria faz entre números vendidos para lojas (e passíveis de encalharem) ou para consumidores.
"Às vezes se coloca 1 milhão de discos na loja e o marketing divulga, mas seis meses depois voltam 150 mil. A devolução é uma realidade", diz Niemeyer.
As devoluções não costumam ser divulgadas pelas gravadoras, e graças a mecanismos como esses Roberto Carlos, por exemplo, ultrapassa a marca de 1 milhão de cópias vendidas de cada novo disco, religiosamente.
É vez de o consultor jurídico da ABPD, João Carlos Muller, abrir um outro jogo: "Se confirmar devolução, quem vai ficar irritado é o próprio artista. É golpe de marketing".

O NÃO-LANÇAMENTO

A obra do mineiro João Bosco está, em geral, bem representada em CD. Faltam poucos títulos, como "Tiro de Misericórdia" (77) e "Linha de Passe" (79), ambos pertencentes à BMG, e os hoje esquecidos "Comissão de Frente" (82), "Gagabirô" (84) e este "Cabeça de Nego" (86), todos agregados ao catálogo da Universal. "Cabeça de Nego" é o ápice do tratado afro-brasileiro de Bosco, especialmente na faixa-título, em "João do Pulo", em "Da África à Sapucaí" e na rara parceria com Martinho da Vila de "Odilê, Odilá".

MAIS NUMERAÇÃO

"Assinei a lista não por medo de represálias dos compiladores ou por ser contra gravadoras, mas por achar que elas devem nos proporcionar acesso automático, sem necessidade de auditorias, aos relatórios detalhados de venda", explica Paula Toller, do Kid Abelha, rebelde à ameaça de Lobão de que "será mais fácil depois dizer quem não participou".

TRANSPARÊNCIA 1

Em dezembro, a Abril Music dizia que o disco de Supla vendera 400 mil cópias; de lá para cá, já subiu para 600 mil. Mas o músico Eduardo Bid, líder do Funk como le Gusta e co-autor da faixa "Humanos", contesta. "Até o primeiro trimestre de 2002, só recebi royalties referentes a 300 mil cópias. Na mídia se fala que o disco foi platina dupla. Por que não recebo então?", pergunta.

TRANSPARÊNCIA 2

No final do ano passado, as herdeiras de Raul Seixas venceram em caráter definitivo processo contra a Universal, entre outras razões porque a gravadora pagava direitos autorais de CD com preço do extinto vinil. A gravadora conseguiu das herdeiras, à época, que os detalhes não fossem divulgados publicamente.

TRANSPARÊNCIA 3

"Nenhum artista que vende tem suspeita sobre números. Isso é coisa de quem não vende disco", afirmou nesta semana o executivo da Som Livre/Globo João Araújo sobre a polêmica da numeração. Pois entre os artistas da grande indústria que aderiram à corrente de apoio à numeração disseminada por Lobão e Beth Carvalho estão Marisa Monte, Titãs, Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Paula Toller, Frejat, Lenine, Marina Lima, Xis, Zizi Possi, Zeca Pagodinho, Fernanda Abreu, Marcelo Yuka (O Rappa), Los Hermanos, Jota Quest, Zezé di Camargo & Luciano etc. etc.

psanches@folhasp.com.br



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