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São Paulo, sábado, 21 de junho de 2003

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Livro investiga valas comuns de Franco

"Revirar todo esse passado é muito doloroso", diz historiador

FREE-LANCE PARA A FOLHA, EM BARCELONA

Membro do partido de oposição Izquierda Republicana, Emilio Silva Faba, 37, foi preso e fuzilado com outros 15 companheiros pelas tropas franquistas no dia 16 de outubro de 1936, no pequeno povoado de Villafranca del Bierzo, na província de León. Um sobrevivente da chacina contou o ocorrido à mulher de Silva. A história então foi silenciada. Nenhum dos filhos do casal soube exatamente o que ocorrera.
Até que o neto mais velho, o jornalista e historiador Emilio Silva, começou a rebuscar os arquivos da família. Com a ajuda do arqueólogo Julio Vidal e as indicações de Francisco Cubrero, um senhor de 85 anos que foi obrigado a ajudar a enterrar os corpos na ocasião, encontrou, no dia 28 de outubro de 2000, os restos mortais do avô.
Um complexo teste de DNA confirmou a identidade do velho republicano. Os seis filhos de Silva Faba puderam então enterrar o corpo do pai junto ao túmulo da mãe. Pela primeira vez, o cadáver de uma vítima da Guerra Civil Espanhola e da repressão franquista foi tirada de uma fossa comum e levada a um cemitério.
O caso provocou alvoroço. Silva começou a ser procurado por milhares de familiares de republicanos mortos ou desaparecidos. Em Madri, fundou a Associação para a Recuperação da Memória Histórica. Até agora, já foram abertas 40 fossas comuns e identificados 106 corpos em todo o território espanhol. E as buscas continuam. "Existe um vazio em parte da história de muitas famílias espanholas", afirma Silva. "Queremos ajudá-las a resgatar essa memória."
Estima-se que entre 30 e 35 mil espanhóis foram enterrados em valas comuns. Silva conta sua luta pessoal em "Las Fosas de Franco". Para ele, a maior dificuldade no trabalho ainda é o silêncio. "Durante décadas não se falou sobre isso. Revirar todo esse passado é um processo doloroso." (IP)


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