São Paulo, sábado, 21 de junho de 2008

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análise

Obras de Cildo desafiam os sentidos

FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

Ao estampar em notas de dinheiro a pergunta "Quem Matou Herzog?", uma referência ao assassinato do jornalista Wladimir Herzog, então divulgado como suicídio, nos porões da ditadura, em 1975, Cildo Meireles, em tática de guerrilha, reunia vida e arte. Nas décadas de 60 e 70, a produção artística brasileira, capitaneada por Hélio Oiticica e Lygia Clark, procurava novos caminhos para a arte que retirassem o espectador de uma posição passiva.
Cildo é um dos mais importantes protagonistas dessa proposta, obtendo reconhecimento desde cedo. Já em 1970, tomou parte, junto com Oiticica, Artur Barrio e Guilherme Vaz, da histórica mostra "Information", no MoMA de Nova York, com curadoria de Kynaston McShine, apresentando "Inserções em Circuitos Ideológicos", série que posteriormente englobaria também o caso Herzog.
Na época, as notas carimbadas tornaram-se malditas. Ninguém queria uma frase subversiva na carteira, fazendo com que o dinheiro chegasse a sair de circulação. A ação artística, nesse caso, não deixava o espectador em mero ato contemplativo.
O caráter político e envolvente vai seguir o percurso de Cildo. Suas obras vão continuar desafiando os sentidos, seja criando um mar só de livros, como "Marulho" (1997), seja materializando a exploração das missões jesuíticas no sul do país, como "Missão/Missões" (1987), na qual 600 mil moedas ascendem por uma fileira de hóstias criando um céu de ossos.
Uma de suas ações recentes de maior repercussão foi se recusar a participar da 27ª Bienal, que havia reeleito Edemar Cid Ferreira entre seus membros, acusando a instituição de "gangsterismo cultural". Ferreira acabou sendo banido, mas Cildo não participou do evento.


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