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Gostaria de ser Deus, diz Iggy Pop
Em entrevista à Folha, cantor de 62 anos fala sobre morte, explica seu fascínio por cachorros e critica U2 e Coldplay
Artista que, ao lado do grupo Stooges nos anos 60, influenciou o punk diz
que não se sente muito inspirado por bandas atuais
Bill Auth - 10.ago.08/Reuters
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Iggy Pop em show do Stooges nos EUA; grupo acabou após morte de guitarrista, e banda-irmã Iggy and the Stooges deverá voltar
BRUNO YUTAKA SAITO
DA REPORTAGEM LOCAL
Quinze minutos é o tempo de
duração da fama instantânea
prevista pelo artista Andy Warhol ("No futuro, todos serão famosos por 15 minutos"). Quinze minutos também é o tempo
de duração da entrevista do
cantor norte-americano Iggy
Pop, 62, à Folha, por telefone.
A importância de Iggy à história não apenas do rock, mas
da cultura pop, não é possível
de ser mensurada em minutos,
mas em intensas décadas de
loucuras, pioneirismo e entrega total à música.
Desde os
anos 60, quando surgiu como
vocalista do Stooges, Iggy ajudou a moldar o punk e o sombrio pós-punk, fez a cabeça dos
grunges e até hoje é referência
básica em bandas de garagem
mundo afora.
Ele lança "Préliminaires"
(EMI, R$ 30), disco com influências de jazz e bossa nova.
E, em 15 minutos, bem-humorado e rindo do repórter, Iggy
fala sobre a morte, seus cachorros e a vontade de ser Deus.
FOLHA - Algumas letras de "Préliminaires" abordam a morte. Você
tem pensado nisso ultimamente?
IGGY POP - Comecei a pensar
sobre a morte quando eu tinha
sete anos (risos)! Uma das coisas que me fizeram escolher a
minha carreira foi que eu pensava: "Se eu ficar fazendo coisas
que não acredito, um dia vou
morrer e... merda!". Quando
era mais jovem, não acreditava
em Deus nem ia à igreja. Costumava deitar na cama abraçado
com meu ursinho de pelúcia
pensando: "Todas as crianças
que vão à igreja vão pro céu,
mas eu não vou pro céu! Então
pra onde eu vou? Talvez leve
meu ursinho comigo!" (risos).
FOLHA - E hoje, você acredita?
IGGY - Não (enfático). Sinto
que há vários deuses, mas o
maior deles é como uma grande
corporação, uma invenção dos
líderes da sociedade para controlar as pessoas. É muito conveniente: só há um Deus, ele está no comando de tudo, é maior
que você, e você não pode incomodá-lo. E eu não posso nem
falar com ele! Eu gostaria de ter
esse emprego! (risos). Iggy Pop:
"representante de Deus na Terra", nada mal, hein?
FOLHA - Mas, aos 62 anos, você
tem medo de morrer?
IGGY - Todos têm um pouco.
As duas coisas mais assustadoras são: 1, o desconhecido, e 2, a
ideia de fim. Então, tenho um
pouco. Mas não fico pensando
nisso, a não ser que alguém como você venha e me pergunte
(risos)! Quando vou me deitar,
fico com tesão, penso sobre
meus desejos, minhas contas a
pagar, como todo mundo.
FOLHA - É bom ficar mais velho?
IGGY - Tem sido para mim.
Mas o próximo passo é tipo:
"Opa!". Não sei nada sobre os
80 e poucos, mas enquanto estou nos 60, estou me saindo
bem, melhor do que em qualquer outra idade. Estou muito
mais confiante, objetivo, gosto
de mim tanto quanto antes ou
até mais, meus problemas são
mais específicos, as coisas não
estão uma confusão completa.
Estou um pouco mais controlado. Após um tempo, você sabe
do que pode se safar ou não.
FOLHA - Como você se sentiu com a
morte [em janeiro] de Ron Asheton
[guitarrista do Stooges e amigo de
adolescência de Iggy]?
IGGY - (longo suspiro) Vou ser
bem honesto com você. Seja lá
o que senti, se contasse por telefone para alguém com o seu
emprego, que eu nunca encontrei antes na vida, em uma entrevista para o público, seria
falso. Então, não sei o que senti,
senti muitas coisas.
FOLHA - Mas podemos dizer que
você começa nova fase na vida?
IGGY - Estou abrindo novas
portas no meu castelo que eu
nunca tinha entrado. Mas isto
não significa que vou evitar o
banheiro (risos), que é o lugar
onde vivi toda a minha vida e fiz
as minhas melhores músicas.
FOLHA - E como você se imagina no
futuro, daqui a uns dez anos?
IGGY - Nunca fiz isso. O que faço é estabelecer situações para
que eu possa viver de uma certa
maneira e deixar as coisas
acontecerem. É o que faço desde meus 16, 17 anos. Eu apenas
arrumo as coisas para que eu
possa tocar um pouco de guitarra, cantar, escrever uma letra ali, dar uma volta, arranjar
um emprego temporário -já
fui garçom e hoje em dia sou
ator também; este é o único
emprego legalizado que tive. Se
ouço uma voz interior de um
garotinho [faz voz de garotinho] dizendo: "Tô cansado dessa merda, não quero fazer isso
hoje", então eu simplesmente
paro de fazer.
FOLHA - Você se cansou do rock?
IGGY - Quando comecei, nos
anos 60, eu tocava [bateria] em
bandas pequenas e via ao meu
redor uma gloriosa paisagem.
Você olhava para a esquerda e
lá estava Syd Barret, e você
olhava pra frente e via o Kinks,
e atrás, Chuck Berry e Bo Diddley, e no outro lado, Bob
Dylan, e atrás dele, escritores
como Ginsberg e Burroughs...
Hoje você tem livros de auto-ajuda do Deepak Chopra (risos)! Você tem U2, Coldplay e
novas bandas de neopunk que
eu ouço e depois nem lembro os
nomes. Sabe, eu não fico muito
inspirado por isso.
FOLHA - Por que o tema recorrente
de cachorro ["dog"] nas suas letras?
IGGY - Peguei isso do blues
americano, é um arquétipo.
"Dog" era até um verbo, o conceito de "a woman dogs a man",
ou seja, uma mulher que faz um
homem segui-la e implorar.
Quando as crianças têm 3 ou 4
anos, "doooog" [fazendo voz de
bebê] é uma das primeiras coisas que elas falam depois de
"mamãe" e "papai".
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