São Paulo, Segunda-feira, 21 de Junho de 1999
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Cinema digital produz cópias piratas na Internet


Com a chegada dos filmes em formato digital e o aumento da velocidade das conexões com a Internet, os estúdios de cinema norte-americanos enfrentam casos de pirataria na rede e descobrem novos negócios


ALEXANDRE MARON
da Reportagem Local

"Star Wars: Episódio 1 - A Ameaça Fantasma" é o primeiro filme comercial a ser exibido em cinemas usando projetores digitais, sem as tradicionais películas. A chegada do cinema totalmente digital acontece ao mesmo tempo em que a pirataria de filmes surge na Internet.
"Star Wars" foi apresentado em formato digital na última sexta-feira, em quatro cinemas dos EUA, nas cidades de Los Angeles e Nova Jersey. Nesse tipo de exibição, os projetores lêem arquivos digitais que são transmitidos via fibra ótica, satélite ou armazenados num disco rígido de grande capacidade.
Se um filme pode ser armazenado num arquivo digital, também seria viável assisti-lo em um computador comum, como é feito com CD-ROMs e DVDs. Vencidas algumas barreiras técnicas, filmes digitais serão vendidos via Internet.
O cliente escolheria o filme e o copiaria para o seu computador debitando em seu cartão de crédito o valor do produto. Já há algumas empresas que tentam explorar esse filão.
Com tantas facilidades, surgiu a pirataria de filmes digitais. O fato é parte de uma revolução que coloca os estúdios de cinema dos EUA em um perigo parecido com o que a indústria de discos mundial enxerga na sigla MP3.
O MP3 é um formato digital que comprime música em arquivos pequenos, com pouca perda de qualidade. Alguns músicos já lançam composições diretamente na Internet sem precisar usar o sistema de distribuição das gravadoras.
Esse formato se tornou realmente um problema quando os internautas passaram a colocar faixas de CDs na rede. Muitas pessoas deixaram de comprar discos para copiar músicas de sites piratas.
Esse cenário começa a se repetir com as produções cinematográficas. Já existem em sites na Internet cópias de sucessos de bilheteria como "O Troco", com Mel Gibson, e "Matrix", com Keanu Reeves.
No dia 28 de maio, apenas nove dias após a estréia nos EUA, "Star Wars: Episódio 1 - A Ameaça Fantasma" já podia ser encontrado na Internet. Os executivos em Hollywood ficaram alarmados.
"Nós temos o tempo que a indústria fonográfica não teve", diz Jack Valenti, presidente da Motion Picture Association of America, entidade que defende os interesses dos grandes estúdios.
Ele se refere ao fato de que uma cópia pirateada de um longa-metragem como "Formiguinhaz", que também já está na Internet, tem cerca de 650 Mbytes. Mesmo com uma conexão com a rede muito rápida, com os modems de 56 Kbps, disponíveis no Brasil, copiar um arquivo desse tamanho leva mais de um dia inteiro.
"Quando o número de lares com modems de alta velocidade chegar aos 30%, nos EUA, nós queremos já possuir algum padrão de criptografia (codificação dos arquivos)", completa Valenti. Com isso, seria possível controlar a proliferação de filmes piratas.
Hoje, nos EUA, o número de conexões super-rápidas não chega a 2% do total de lares, mas elas são comuns em universidades. No Brasil, algumas cidades, como Sorocaba (SP), já deverão ter essas conexões operando comercialmente no ano que vem - por meio de cablemodems, que usam fibras óticas da infra-estrutura das TVs a cabo.
Para enfrentar esse tipo de pirataria, os grandes estúdios vão pressionar o governo norte-americano para que seja criada nos próximos anos uma legislação adequada. Além disso, aumentarão os lançamentos de filmes no mesmo dia em todo o mundo, dificultando, mais uma vez, as práticas ilegais.


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