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AMÉRICA DO SUL
Relato tem 1ª versão brasileira e será filmado por Walter Salles
Diário de Che faz do leitor cúmplice e voyeur
FRANCESCA ANGIOLILLO
DA REPORTAGEM LOCAL
Guarde bem a impressão marota do meio sorriso na foto da carteirinha acima; ela é a primeira
que fica ao ler "De Moto pela
América do Sul", que a Sá Editora
acaba de lançar, em primeira tradução autorizada no Brasil pela
casa italiana Feltrinelli, que detém
os direitos do texto.
O livro nos leva até 1951, quando, num quintal em Córdoba, Argentina, Che Guevara, um curioso
garoto de 23 anos, tem a idéia,
com o amigo Alberto Granado, de
ir até a América do Norte.
Foi assim que "La Poderosa 2"
-a então já velha moto Norton
500 de Granado- foi alçada a
"cavalo" desses dois "reconquistadores" do continente americano, a partir do começo de 1952.
"La Poderosa" não aguentou o
tranco e entregou os pontos já no
Chile, segunda escala do roteiro
que começara na Argentina e passaria ainda pelo Peru, Colômbia e
Venezuela, incluindo entrada
clandestina e involuntária no Brasil, pelo rio Amazonas, a bordo da
balsa em que rumavam à cidade
colombiana de Leticia.
O livro (que também nos faz
sentir voyeurs, uma vez que já sabemos o fim do sonhador Che) foi
reelaborado pelo viajante depois
de sua volta a Buenos Aires, em
setembro de 52, vindo de Miami,
para onde seguira, deixando Alberto em Caracas, Venezuela.
Talvez por isso nem todos os lugares ganhem uma descrição detalhada no relato de Che (existe
ainda o de Alberto, cujos direitos
a Sá também comprou, mas ainda
não tem previsão de lançar).
Por exemplo, a Bolívia é mencionada apenas como breve parada, durante a navegação pelo lago
Titicaca, de cuja margem peruana
saíram Alberto, o "grande Che" e
"pequeno Che", o Guevara (a partícula "che", explica uma das notas, designa camarada, na Argentina, e ficou sendo usada nos outros países latino-americanos para chamar os argentinos).
Seria, 15 anos depois, o país em
cuja selva Che morreria.
Che inspirador
A mistura de curiosidade juvenil e ímpeto revolucionário encontrada no jovem Guevara conquistou, antes da edição brasileira, o cineasta Walter Salles.
"Li pela primeira vez "De Moto
pela América do Sul" há quatro
anos, na versão italiana. Fiquei
fascinado com aquele relato. É
uma surpreendente viagem iniciática, que desvenda toda uma
geografia física e humana que nos
é própria, a do continente latino-americano", diz Salles, que vê no
texto "um pouco um encontro
entre "Easy Rider" e "O Capital'".
O convite para levar a viagem às
telas veio, conta o diretor, de Robert Redford e seu produtor Michael Nozik, há dois anos.
"Desde então, foi desenvolvido
todo um processo de pesquisas e
de elaboração de roteiro, cuja primeira versão ficou pronta há pouco." O autor do roteiro é Jose Rivera (egresso dos laboratórios de
Sundance, onde a idéia de "Central do Brasil", maior sucesso de
Salles, foi premiada).
O diretor explica que o filme será uma ficção a partir do livro,
com informações vindas de entrevistas feitas pelo jornalista
Gianni Miná (editor da versão italiana do diário) com Granado
-que, aos 78, vive em Cuba, para
onde foi atendendo a convite da
Revolução para a pasta da Saúde.
Salles anunciará as próximas
etapas do projeto no Festival de
Veneza, em agosto, mas adianta
que os atores serão latinos (ele pediu que o filme fosse em espanhol) e a escolha do elenco e locações começará até o fim do ano.
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