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Crítica/"Piratas do Caribe - O Baú da Morte"
Johnny Depp salva diversão em seqüência que exagera na gincana
SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA
Se é verdadeira a máxima
do "quem conta um conto aumenta um ponto",
sua variação hollywoodiana poderia ser "quem faz uma continuação exagera na ação". "Piratas do Caribe - O Baú da Morte"
não lida só com o desafio de
igualar (e superar) o bem-sucedido original, de 2003, mas
também por ser o episódio intermediário de uma trilogia.
Assim como em "O Império
Contra-Ataca" (1980), "O Senhor dos Anéis - As Duas Torres" (2002) e "Matrix Reloaded" (2003), muita estripulia
ocupa a atenção do espectador,
por duas horas e meia, até que o
final, em vez de finalizar a trama, adia a resolução para o terceiro episódio, com lançamento previsto para 2007.
A idéia de "passatempo" é
bem adequada -com a ressalva
de que uns gostam de queimar
o tempo assim, indo a lugar nenhum, e outros não. Pouco importa o destino, e sim a jornada? Então "O Baú da Morte" é
um exemplo perfeito de corre-corre (e "navega-navega") que
se encerra na própria (e barulhenta) movimentação.
Em "A Maldição do Pérola
Negra" (2003), eram apresentados o pirata Jack Sparrow
(Johnny Depp), figura escrachada que catalisava a atenção
do público, e dois pombinhos,
Will Turner (Orlando Bloom) e
Elizabeth Swann (Keira Knightley), fadados a terminar juntos
a aventura.
A continuação começa justamente pela cerimônia de casamento -que, o destino é cruel
com os amantes, só poderá ser
consumado se o foragido Jack e
sua bússola mágica forem entregues a Lorde Beckett (Tom
Hollander). E por onde anda
Jack? Ora, os pilantras nunca
mudam: às voltas com uma antiga dívida.
O problema, como no primeiro longa-metragem, é que o
credor pertence ao reino do sobrenatural. Davy Jones (Bill
Nighy), comandante de um navio-fantasma, quer seu coração
de volta. Quando ele fica nervoso, gera uma espécie de alter
ego de proporções gigantescas.
Estabelecidas as coordenadas, é dada a largada. Outros
personagens ajudam a transformar a gincana em busca do
baú do título em "cada-um-por-si-e-o-Jones-contra-todos". Gincana de altos e baixos,
que alterna ação e humor, mas
que também mistura uma coisa
com a outra.
Salta-se abruptamente de
uma piada mais sofisticada para uma cena de pastelão, de diálogos bem construídos para cenas gosmentas, como se o diretor Gore Verbinski ("O Chamado") e os roteiristas estivessem
empenhados em fazer da variedade e do exagero as ferramentas para "superar" o original.
O que eles têm de mais valioso, a exemplo do que já ocorreu
em "A Maldição do Pérola Negra", é mesmo Johnny Depp.
Com ele em cena, tudo se ilumina -embora às vezes o ator
também seja tragado pela overdose de situações. Sem ele na
tela, persiste um pequeno incômodo: vai demorar muito para
que esses chatos saiam daí e
Jack volte?
Como episódio intermediário que precisa lançar a isca para o final da trilogia, "O Baú da
Morte" investe precisamente
nessa sensação de que não haveria terceiro episódio de "Piratas do Caribe" sem o Jack
Sparrow de Depp como anti-herói.
Bloom fazendo o solo de mocinho? Nem pensar. Logo, não
se deixe levar por ilusões. E
aguarde uma surpresinha.
PIRATAS DO CARIBE - O BAÚ DA MORTE
Direção: Gore Verbinski
Produção: EUA, 2006
Com: Johnny Depp, Keira Knightley
Quando: a partir de hoje nos cines
Bristol, Interlagos e circuito
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