São Paulo, sexta-feira, 21 de julho de 2006

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Crítica/"Piratas do Caribe - O Baú da Morte"

Johnny Depp salva diversão em seqüência que exagera na gincana

SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA

Se é verdadeira a máxima do "quem conta um conto aumenta um ponto", sua variação hollywoodiana poderia ser "quem faz uma continuação exagera na ação". "Piratas do Caribe - O Baú da Morte" não lida só com o desafio de igualar (e superar) o bem-sucedido original, de 2003, mas também por ser o episódio intermediário de uma trilogia.
Assim como em "O Império Contra-Ataca" (1980), "O Senhor dos Anéis - As Duas Torres" (2002) e "Matrix Reloaded" (2003), muita estripulia ocupa a atenção do espectador, por duas horas e meia, até que o final, em vez de finalizar a trama, adia a resolução para o terceiro episódio, com lançamento previsto para 2007.
A idéia de "passatempo" é bem adequada -com a ressalva de que uns gostam de queimar o tempo assim, indo a lugar nenhum, e outros não. Pouco importa o destino, e sim a jornada? Então "O Baú da Morte" é um exemplo perfeito de corre-corre (e "navega-navega") que se encerra na própria (e barulhenta) movimentação. Em "A Maldição do Pérola Negra" (2003), eram apresentados o pirata Jack Sparrow (Johnny Depp), figura escrachada que catalisava a atenção do público, e dois pombinhos, Will Turner (Orlando Bloom) e Elizabeth Swann (Keira Knightley), fadados a terminar juntos a aventura.
A continuação começa justamente pela cerimônia de casamento -que, o destino é cruel com os amantes, só poderá ser consumado se o foragido Jack e sua bússola mágica forem entregues a Lorde Beckett (Tom Hollander). E por onde anda Jack? Ora, os pilantras nunca mudam: às voltas com uma antiga dívida. O problema, como no primeiro longa-metragem, é que o credor pertence ao reino do sobrenatural. Davy Jones (Bill Nighy), comandante de um navio-fantasma, quer seu coração de volta. Quando ele fica nervoso, gera uma espécie de alter ego de proporções gigantescas.
Estabelecidas as coordenadas, é dada a largada. Outros personagens ajudam a transformar a gincana em busca do baú do título em "cada-um-por-si-e-o-Jones-contra-todos". Gincana de altos e baixos, que alterna ação e humor, mas que também mistura uma coisa com a outra.
Salta-se abruptamente de uma piada mais sofisticada para uma cena de pastelão, de diálogos bem construídos para cenas gosmentas, como se o diretor Gore Verbinski ("O Chamado") e os roteiristas estivessem empenhados em fazer da variedade e do exagero as ferramentas para "superar" o original.
O que eles têm de mais valioso, a exemplo do que já ocorreu em "A Maldição do Pérola Negra", é mesmo Johnny Depp. Com ele em cena, tudo se ilumina -embora às vezes o ator também seja tragado pela overdose de situações. Sem ele na tela, persiste um pequeno incômodo: vai demorar muito para que esses chatos saiam daí e Jack volte?
Como episódio intermediário que precisa lançar a isca para o final da trilogia, "O Baú da Morte" investe precisamente nessa sensação de que não haveria terceiro episódio de "Piratas do Caribe" sem o Jack Sparrow de Depp como anti-herói.
Bloom fazendo o solo de mocinho? Nem pensar. Logo, não se deixe levar por ilusões. E aguarde uma surpresinha.


PIRATAS DO CARIBE - O BAÚ DA MORTE   
Direção: Gore Verbinski
Produção: EUA, 2006
Com: Johnny Depp, Keira Knightley
Quando: a partir de hoje nos cines Bristol, Interlagos e circuito


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