São Paulo, quarta-feira, 21 de julho de 2010

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Classificação emperra filme adolescente

Trailer de "Desenrola" teve piadas cortadas para poder ser exibido em sessões de "Toy Story 3" e "Eclipse"

Filme sobre a perda da virgindade, dirigido por Rosane Svartmann, foi exibido pela primeira vez em Paulínia

ANA PAULA SOUSA
ENVIADA ESPECIAL A PAULÍNIA

Foram pelo menos duas décadas de descaso. Mas eis que, como se uma vara de condão tivesse tocado produtores e diretores, o cinema brasileiro decidiu que era hora de desencantar o público juvenil.
Patrocinadores e subsidiárias de Hollywood passaram a repetir que é na infância e na adolescência que se formam as plateias.
Logo, os meninos e meninas brasileiros não poderiam ficar à mercê dos produtos americanos. Nasceram assim "As Melhores Coisas do Mundo", de Laís Bodanzky, lançado em abril, e os inéditos "Eu e Meu Guarda-Chuva", de Toni Vanzolini, e "Desenrola", de Rosane Svartmann, exibidos no Festival de Paulínia, que se encerra amanhã.
Mas, conforme os filmes deixam a lata rumo às salas, os diretores vão descobrindo que a viabilização econômica dos projetos era só o primeiro obstáculo da corrida pelos ingressos que o público teen consome.
"O lançamento de um filme para essa faixa etária fica limitado por causa da histeria em torno da proteção ao adolescente", diz Bruno Wainer, da Downtown, distribuidora de "Desenrola".

CORTES
O longa de Svartmann, diretora também de "Tainá 3", em filmagem, mira quem tem entre 12 e 16 anos. Qual não foi sua surpresa quando, ao submeter o trailer ao Ministério da Justiça, recebeu o carimbo de 14 anos.
Com essa classificação, o trailer não poderia ser veiculado nas sessões de "Toy Story 3" e "Eclipse", por exemplo. O jeito foi fazer cortes. Com isso, a classificação caiu para dez anos.
"Mudamos o trailer inteiro", diz Wainer. Foi limada, por exemplo, a cena em que dois garotos, ao procurar uma prostituta, perguntam se estudante paga meia. "É uma piada boba, mas não pode. Tiramos todas as referências sexuais."
Detalhe: é de sexo, e de perda da virgindade, que o filme trata. "Estamos preocupados com a classificação do filme. Mas qualquer produção teen americana, no estilo "Curtindo a Vida Adoidado", traz esse tema, e não enfrenta problemas", diz Wainer.
Svartmann, ainda no roteiro, optou por deixar de fora as drogas, justamente, para evitar problemas com a classificação.
"Não é caretice. Mas não quero que os adolescentes tenham que ir ver o filme, necessariamente, com os pais."


A jornalista ANA PAULA SOUSA viajou a convite do festival.


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