São Paulo, sexta-feira, 21 de agosto de 2009

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Crítica/ "Veronika Decide Morrer"

Adaptação de livro utiliza ingredientes manjados

Baseado em livro de Paulo Coelho, filme permanece refém de clichês

CRÍTICO DA FOLHA

Por razões mercadológicas que o leitor pode imaginar, a produção independente americana "Veronika Decide Morrer" é apresentada pelos distribuidores como o "primeiro longa" baseado na obra de Paulo Coelho.
Alguém por aí, e talvez não sejam os distribuidores, pode estar constrangido em dizer que o mesmo romance deu origem a "Veronika Wa Shinu Koto Ni Shita" (2005). Escrita por Tomomi Tsutsui e dirigida por Kei Horie, essa modesta produção japonesa teve circulação restrita ao mercado oriental.
Se a ideia era jogar para debaixo do tapete algo que viesse a atrapalhar o conceito de pioneirismo, seria coerente passar por cima deste longa também e aguardar que a próxima adaptação de um livro de Coelho seja o "primeiro longa" -ou, traduzindo para a língua dos cifrões, o primeiro a satisfazer certa expectativa de bilheteria em torno do escritor.
Não parece que o "Veronika" de Emily Young tenha fôlego para isso. Orçada em cerca de US$ 9 milhões (nove vezes mais do que o longa japonês, mas ainda assim um valor modesto em Hollywood), a adaptação -baseada em roteiro de Larry Gross ("Crime Verdadeiro") e Roberta Hanley- faz apenas um cozido moderninho de ingredientes bem manjados.
De acordo com a estratégia de comercialização da atual editora de Coelho, seus livros trabalham conceitos. "O Diário de um Mago" é sobre "determinação"; "O Alquimista", sobre "descoberta"; "Brida", sobre "liberdade". A "Veronika", caberia falar de "coragem".
Não há dúvida de que a história do filme trata disso, mesmo com as transposições feitas por Young e seus roteiristas. E o faz de maneira ostensiva, como se houvesse legendas -no estilo daquelas satirizadas pela série "Apertem os Cintos, o Piloto Sumiu"- piscando com a "mensagem". Curiosamente, no entanto, a ausência de um certo tipo de coragem -a de ir além de chavões cinematográficos- engessa a adaptação, que usa as convenções do "filme-de-clínica-psiquiátrica" como se "Um Estranho no Ninho" (1975) e "Garota, Interrompida" (1999), entre outros, nunca tivessem sido feitos.
O que poderia oferecer novidade não ajuda muito, como a "humanização" do médico (David Thewlis, de "Assédio", em papel afetado) que demonstra precisar, ele mesmo, de tratamento, como lhe sugere... uma paciente (Melissa Leo).
Ficção de tese, com moral explícita anunciada em simbólicas letras garrafais pelo esquematismo da trama: a beleza da vida se esconde à nossa volta, em epifanias cotidianas, e pode se materializar na forma de um verdadeiro amor. (SÉRGIO RIZZO)


VERONIKA DECIDE MORRER

Direção: Emily Young
Produção: EUA, 2009
Com: Sarah Michelle Gellar, Jonathan Tucker, Melissa Leo
Onde: Anália Franco, Bristol, Iguatemi Cinemark e circuito
Classificação: 14 anos
Avaliação: ruim




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