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Crítica/ "Veronika Decide Morrer"
Adaptação de livro utiliza ingredientes manjados
Baseado em livro de Paulo Coelho, filme permanece refém de clichês
CRÍTICO DA FOLHA
Por razões mercadológicas que o leitor pode
imaginar, a produção
independente americana "Veronika Decide Morrer" é apresentada pelos distribuidores
como o "primeiro longa" baseado na obra de Paulo Coelho.
Alguém por aí, e talvez não
sejam os distribuidores, pode
estar constrangido em dizer
que o mesmo romance deu origem a "Veronika Wa Shinu Koto Ni Shita" (2005). Escrita por
Tomomi Tsutsui e dirigida por
Kei Horie, essa modesta produção japonesa teve circulação
restrita ao mercado oriental.
Se a ideia era jogar para debaixo do tapete algo que viesse
a atrapalhar o conceito de pioneirismo, seria coerente passar
por cima deste longa também e
aguardar que a próxima adaptação de um livro de Coelho seja o "primeiro longa" -ou, traduzindo para a língua dos cifrões, o primeiro a satisfazer
certa expectativa de bilheteria
em torno do escritor.
Não parece que o "Veronika"
de Emily Young tenha fôlego
para isso. Orçada em cerca de
US$ 9 milhões (nove vezes
mais do que o longa japonês,
mas ainda assim um valor modesto em Hollywood), a adaptação -baseada em roteiro de
Larry Gross ("Crime Verdadeiro") e Roberta Hanley- faz
apenas um cozido moderninho
de ingredientes bem manjados.
De acordo com a estratégia
de comercialização da atual
editora de Coelho, seus livros
trabalham conceitos. "O Diário
de um Mago" é sobre "determinação"; "O Alquimista", sobre
"descoberta"; "Brida", sobre
"liberdade". A "Veronika", caberia falar de "coragem".
Não há dúvida de que a história do filme trata disso, mesmo
com as transposições feitas por
Young e seus roteiristas. E o faz
de maneira ostensiva, como se
houvesse legendas -no estilo
daquelas satirizadas pela série
"Apertem os Cintos, o Piloto
Sumiu"- piscando com a
"mensagem". Curiosamente,
no entanto, a ausência de um
certo tipo de coragem -a de ir
além de chavões cinematográficos- engessa a adaptação,
que usa as convenções do "filme-de-clínica-psiquiátrica" como se "Um Estranho no Ninho" (1975) e "Garota, Interrompida" (1999), entre outros,
nunca tivessem sido feitos.
O que poderia oferecer novidade não ajuda muito, como a
"humanização" do médico (David Thewlis, de "Assédio", em
papel afetado) que demonstra
precisar, ele mesmo, de tratamento, como lhe sugere... uma
paciente (Melissa Leo).
Ficção de tese, com moral explícita anunciada em simbólicas letras garrafais pelo esquematismo da trama: a beleza da
vida se esconde à nossa volta,
em epifanias cotidianas, e pode
se materializar na forma de um
verdadeiro amor.
(SÉRGIO RIZZO)
VERONIKA DECIDE MORRER
Direção: Emily Young
Produção: EUA, 2009
Com: Sarah Michelle Gellar, Jonathan Tucker, Melissa Leo
Onde: Anália Franco, Bristol, Iguatemi Cinemark e circuito
Classificação: 14 anos
Avaliação: ruim
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