São Paulo, sábado, 21 de agosto de 2010

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CRÍTICA FOTOGRAFIA

Curador do MoMA mostra Bresson inédito

Lançado agora no Brasil, livro revela anotações do fotógrafo francês e sua relação com a arte e o fotojornalismo

EDER CHIODETTO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Trazer à tona obras inéditas de artistas consagrados e já mortos é uma tentação e um grande perigo. Em "Henri Cartier-Bresson - O Século Moderno", livro-catálogo da mostra realizada este ano no MoMA, em Nova York, Peter Galassi, curador-chefe do departamento de fotografia do museu, consegue se equilibrar entre revelar novas imagens e informações.
Editado agora no Brasil pela Cosac Naify, o volume chega na sequência do sucesso da mostra "Henri Cartier-Bresson: Fotógrafo", realizada no ano passado, no Sesc Pinheiros, com público recorde de 160.560 pessoas. A exposição fez esgotar em pouco tempo os 3.000 volumes do livro homônimo lançado pela Cosac Naify em parceria com a Edições Sesc.
O próprio Cartier-Bresson (1908-2004) dizia que seu sucesso se deveu, em boa parte, à primeira exposição realizada por ele, em 1947, no MoMA, num tempo em que a fotografia estava longe de ser legitimada como arte pelas grandes instituições. Devido a esta relação com o museu, a fundação que cuida da obra do artista, em Paris, permitiu a Galassi o acesso irrestrito aos arquivos.

ESCRITOS POÉTICOS
Mais do que as fotos inéditas -que surgem editadas com as imagens clássicas-, a maior preciosidade do livro são as informações que Galassi conseguiu ordenar a partir de anotações do meticuloso e poético escritor que Cartier-Bresson ocultava.
No texto de 67 páginas, Galassi consegue detalhar a relação do fotógrafo com os editores das revistas ilustradas, como a "Life". Expõe, também, a dicotomia entre o fulgurante artista de viés surrealista dos anos 1930 em oposição ao fotojornalista do pós-Guerra.
Faz isso, por exemplo, quando reproduz o depoimento de Robert Frank, autor de "The Americans", que, em 1975, disse: "O trabalho dos últimos 20 anos de Cartier-Bresson -comparado ao inicial-, bem, eu preferia que ele não o tivesse realizado".
Dessa forma, Galassi consegue, pela riqueza de detalhes, superar na forma e na qualidade as informações da biografia "Cartier-Bresson: O Olhar do Século" (L&PM), escrita pelo jornalista Pierre Assouline, excessivamente adocicada e asséptica.
O fato é que se os rompantes surrealistas de Cartier-Bresson o inscreveram em definitivo na história da arte, e a sua posterior função como repórter "gerou a mais completa, variada e convincente descrição do século moderno que um fotógrafo já nos deu", como diz Galassi.
Nada mal para alguém que teve apenas uma vida e uma simples câmera Leica.


HENRI CARTIER-BRESSON: O SÉCULO MODERNO

AUTOR Henri Cartier-Bresson
ORGANIZADOR Peter Galassi
TRADUÇÃO Cid Knipel Moreira
EDITORA Cosac Naify
QUANTO R$ 185 (376 págs.)




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