|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CRÍTICA FOTOGRAFIA
Curador do MoMA mostra Bresson inédito
Lançado agora no Brasil, livro revela anotações do fotógrafo francês e sua relação com a arte e o fotojornalismo
EDER CHIODETTO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Trazer à tona obras inéditas de artistas consagrados e
já mortos é uma tentação e
um grande perigo.
Em "Henri Cartier-Bresson
- O Século Moderno", livro-catálogo da mostra realizada
este ano no MoMA, em Nova
York, Peter Galassi, curador-chefe do departamento de fotografia do museu, consegue
se equilibrar entre revelar novas imagens e informações.
Editado agora no Brasil pela Cosac Naify, o volume chega na sequência do sucesso
da mostra "Henri Cartier-Bresson: Fotógrafo", realizada no ano passado, no Sesc
Pinheiros, com público recorde de 160.560 pessoas.
A exposição fez esgotar em
pouco tempo os 3.000 volumes do livro homônimo lançado pela Cosac Naify em
parceria com a Edições Sesc.
O próprio Cartier-Bresson
(1908-2004) dizia que seu sucesso se deveu, em boa parte,
à primeira exposição realizada por ele, em 1947, no MoMA, num tempo em que a fotografia estava longe de ser
legitimada como arte pelas
grandes instituições.
Devido a esta relação com
o museu, a fundação que cuida da obra do artista, em Paris, permitiu a Galassi o acesso irrestrito aos arquivos.
ESCRITOS POÉTICOS
Mais do que as fotos inéditas -que surgem editadas
com as imagens clássicas-,
a maior preciosidade do livro
são as informações que Galassi conseguiu ordenar a
partir de anotações do meticuloso e poético escritor que
Cartier-Bresson ocultava.
No texto de 67 páginas, Galassi consegue detalhar a relação do fotógrafo com os
editores das revistas ilustradas, como a "Life".
Expõe, também, a dicotomia entre o fulgurante artista
de viés surrealista dos anos
1930 em oposição ao fotojornalista do pós-Guerra.
Faz isso, por exemplo,
quando reproduz o depoimento de Robert Frank, autor
de "The Americans", que, em
1975, disse: "O trabalho dos
últimos 20 anos de Cartier-Bresson -comparado ao inicial-, bem, eu preferia que
ele não o tivesse realizado".
Dessa forma, Galassi consegue, pela riqueza de detalhes, superar na forma e na
qualidade as informações da
biografia "Cartier-Bresson: O
Olhar do Século" (L&PM), escrita pelo jornalista Pierre Assouline, excessivamente
adocicada e asséptica.
O fato é que se os rompantes surrealistas de Cartier-Bresson o inscreveram em
definitivo na história da arte,
e a sua posterior função como repórter "gerou a mais
completa, variada e convincente descrição do século
moderno que um fotógrafo já
nos deu", como diz Galassi.
Nada mal para alguém que
teve apenas uma vida e uma
simples câmera Leica.
HENRI CARTIER-BRESSON: O SÉCULO MODERNO
AUTOR Henri Cartier-Bresson
ORGANIZADOR Peter Galassi
TRADUÇÃO Cid Knipel Moreira
EDITORA Cosac Naify
QUANTO R$ 185 (376 págs.)
Texto Anterior: Houellebecq ataca mídia e a si próprio em novo romance Próximo Texto: Crítica/Fotografia: "Boris Kossoy: Fotógrafo" expõe outra face do artista Índice
|