FABIO CYPRIANO
DE SÃO PAULO

Boris Kossoy é um dos poucos pesquisadores da fotografia no país. Professor da Universidade de São Paulo (USP), ele comprovou a importância de Hercules Florence (1804-1879), que viveu no Brasil, como um dos precursores da fotografia. Já o recém-publicado "Boris Kossoy: fotógrafo" apresenta outra faceta desse pesquisador ao explorar, em 134 registros, seu trabalho como criador de imagens, realizadas entre 1955 e 2008.
No entanto, fotógrafo e pesquisador não são figuras distintas, como se pode observar no livro. Organizada em ordem não cronológica, a publicação atesta a diversidade da produção de Kossoy, que se alterna entre o documental e o encenado. Nessas categorias, contudo, não há polaridades. "A realidade do fato é traduzida, filtrada e elaborada pela realidade da imagem, uma segunda realidade, a da representação", diz Kossoy no texto de abertura do livro.
Assim, conclui-se, toda imagem é uma construção: sejam as imagens da série "Viagem pelo Fantástico", notadamente encenadas, ou as fotografias documentais da série "Cartões Antipostais", ambas dos anos 1970.
De certa maneira, contudo, ambas refletem uma preocupação antropológica: em "Viagem pelo Fantástico" por certos estados existenciais, enquanto nos "Cartões Antipostais" domina uma observação acurada de questões sociais.
E a união entre fotógrafo e pesquisador se revela ainda pela seleção de textos que acompanha o livro, especialmente as entrevistas e depoimentos concedidos pelo autor a Augusto Massi, Julia Bussius e Paulo César Boni. Por meio deles percebe-se melhor como a reflexão sobre o fotográfico em Kossoy ocorre tanto na construção da imagem como na construção das ideias.