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PRÊMIOS - CRÍTICA
Emissora e Brasil reconhecem perda de identidade
da Reportagem Local
Foi, provavelmente, a mais honesta de todas as edições do VMB.
Tentando alegorizar os 500 anos
do Brasil (ou os de Oscar Niemeyer, a julgar pelo número de vezes
que seus edifícios apareceram nos
telões), a MTV só comprovou que
o Brasil se encontra, como ela
própria, numa baita crise de identidade, homem seu menino...
A escolha da audiência determinou que as camadas de público
que engrossaram Ibope antes
minguado não estão engajadas na
MTV e que os adolescentes fiéis
que a amavam e amam continuam a gostar de rock'n'roll.
A MTV em si se acovardou, expurgando axé e pagode. O Art Popular fez funk e aeróbica; Ivete
Sangalo arrepiou interpretando
soul sem axé; sertanejos não deram as caras.
O corpo de jurados, de "formadores de opinião" e "socialites",
foi em direção que não é nem a da
audiência nem a do abrasileiramento lobista tipo "salve-se quem
puder" por que passa a MTV.
Ignorou o Brasil andróide pós-axé. Não entendeu o espírito do
pagode mauricinho e premiou
Zeca Pagodinho. Deu chance a
Otto de encarnar um Jorge Ben
ano 2000, no adorável discurso de
pedido de respeito aos mais velhos, às crianças e à MPB (que ele
maculou, no entanto, louvando o
mangue sem citar sua ex-banda,
Mundo Livre S/A).
Sobretudo, reiterou-se a antipatia dos tais "formadores de opinião" pelo homem mais insistente do Brasil, Caetano Veloso. Sua
supremacia, exponenciada pelo
hit de chantagem emocional "Sozinho", sai arranhada, quando
menos pela derrota para Chico
Buarque -é tudo que Caetano
menos suporta-, que, nobre que
é, não se prestou ao circo.
Homem muito teimoso, Caetano comandou a nostalgia, jogando percussão de axé nos clássicos
da tropicália (o apresentador Cazé, Chacrinha -inteligente- do
século 21, buzinaria o show).
Caetano e um translúcido Gil
secundaram Tom Zé, estrangeiro
à própria pele, e Rita Lee, apaixonada pela tropicália em seu vestido medieval de Mutantes e nos
seios postiços a lançar acidez contra si própria. Reduzido a Quarteto Tropicália, o glorioso movimento se auto-enterrou outra vez.
E qual é a cara do Brasil, enfim?
Menos feia do que parecia (a estupenda montagem de samples a
cada categoria foi o que mais de
perto alegorizou o Brasil, eletrificando recortes de Mutantes, Nara
Leão, jovem guarda, Baiano & Os
Novos Caetanos, Jair Rodrigues,
Gal cantando Jorge Ben...).
Querendo ou não, a MTV sem
cara solapou o marketing bobo
das 500 caras do monstro Brasil
-ele está é sem cara nenhuma, e
se admitir assim é dar um primeiro passo rumo à busca da identidade perdida.
(PAS)
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