São Paulo, segunda, 21 de setembro de 1998

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MUNDO GLS
Livraria gay reúne humor, Garbo e pelúcia

Janete Longo/Folha Imagem
Aldo Bocchini, proprietário da Livraria do Meio, dedicada ao público gay


ERIKA PALOMINO
Colunista da Folha

Abre hoje em São Paulo a Livraria do Meio, espaço dedicado ao público gay para venda de livros, CDs, fitas de vídeo e objetos, iniciativa inédita no Brasil.
Quem poderia ver com ressalvas a idéia vai gostar de saber que o lugar é uma espécie de filial da Livraria da Vila, um dos mais simpáticos e bem-sucedidos empreendimentos no ramo, localizado na Vila Madalena.
O dono das duas livrarias, Aldo Bocchini Neto, ex-professor e tradutor, garante assim o atendimento cuidadoso e a seriedade na escolha dos títulos dos 3.000 livros, fitas de vídeo (para venda, não locação), CDs e objetos.
O ambiente é agradável, claro e arejado, localizado na r. Oscar Freire, junto à estação Sumaré do metrô. Tudo é bem-resolvido, em todos os sentidos.
No ramo livreiro há 15 anos, Bocchini afirma que teve a idéia de montar a livraria há dois anos, mas que faltou coragem para começar o negócio. Há seis meses, entretanto, deu a partida.
Cercou-se de uma equipe de oito pessoas, que o assessora também na escolha da "memorabilia". O que não é feito por autores ou artistas gays tem gays como tema ou é orientado para gays.
A seleção preenche o que se espera, mas também causa pequenas surpresas em todos os gêneros abordados, de gastronomia a jardinagem, de livros sobre bichos a guias de viagem. Estes são 62 títulos, em português, inglês e espanhol, incluindo o famoso "Spartacus", que não está presente na inauguração (mas já está a caminho).
Identidade
Houve uma opção por não internacionalizar demais. "Estamos no Brasil", diz Bocchini, que se preocupou também em manter uma identidade brasileira nos objetos à venda na loja.
A começar pela tentativa de fazer assumir o veado como símbolo da homossexualidade brasileira, sem medo de preconceitos ou ressalvas da própria comunidade.
"É coisa de viado com muito orgulho", brinca o proprietário com o trocadilho.
Assim, veadinhos e simpáticas sapas de pelúcia (alusão ao diminutivo para "sapatas") se misturam à "trecaiada" com a bandeira gay, a Rainbow Flag, e com o triângulo rosa que também é símbolo do movimento.
Velas, luminárias, colchas e até toalhas de jogo americano estão à venda, devidamente importadas do interior de Minas Gerais.
A Livraria do Meio faz para você aquela garimpagem de produtos que em outros lugares às vezes escapa. Da excelente seleção de CDs, há muitos nacionais (como os álbuns das cantoras ícones da comunidade), coletâneas de dance, clássicos da disco, títulos góticos e ainda Pet Shop Boys, Marc Almond, Les Rita Mitsouko junto a dezenas de Madonna, claro, e as sempre favoritas trilhas sonoras de filmes.
Dos vídeos, nada daquelas coisas "da salinha dos fundos da locadora", define Aldo Bocchini. Mas muita Greta Garbo, Marlene Dietrich, Marilyn Monroe e Judy Garland ("O Mágico de Oz" sai por R$ 29).
"Sendo feita para a minoria, tivemos a preocupação de não excluir ninguém", diz o proprietário da livraria, que vende também camisinhas sem lucro ("mais baratas do que nas drogarias", afirma) e, com humor, um kit de escova de dentes para aquelas visitas de última hora, as famosas "one night stand".

Onde fica: Livraria do Meio (r. Oscar Freire, 2.303, tel. 011/3064-5358)




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