São Paulo, segunda, 21 de setembro de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

TELEVISÃO
Rompimento brando assusta qualquer público

TELMO MARTINO
Colunista da Folha Deveria ser um ponto alto dramático, numa novela de explosões, exclamações enfurecidas de um proletário (Tony Ramos) e de descontroles indignados (nunca nos rrrrrrrrr quatrocentões) de um Tarcísio Meira condenado pela idade a ser um patriarca às vezes apaixonado por moçoilas apenas profissionais em seus beijos.
Durante alguns minutos do capítulo até que foi empolgante. O Alexandre carregando as malas e empurrando a Sandrinha portas afora do casarão amarelo, cheio de tendas e umbrelones nas imediações de uma piscina instalada num gramado espaçoso. E os olhos felizes da mãe, Gloria Menezes, muito agitados por detrás da habitual máscara de plástico.
Alexandre (Marcos Palmeira, um contente competente em sua estréia muito desenvolta num papel urbano) e Sandrinha (Adriana Esteves também estreando na cafonice bandida de uma garçonete, sem inaugurar qualquer emoção em quem vê) são casados.
Ele com muito amor. Ela com muita ganância pelo luxo dos ricos. Tipo piscina, gramado e casarão amarelo.
O rompimento foi porque apesar de toda a sapequice, a Sandrinha não consegue engravidar e disse para o marido que tinha um filho em seu ventre. Bucho seria mais apropriado. Ventre tem a suavidade de um anjo que anuncia. E a Sandrinha rebola no ritmo do "Só no Sapatinho" para ter seu momento máximo e já distante na novela.

Dia seguinte
Agora sem tchan nem nada, ela padece no seu cortiço. Muito cuidadora, a TV Globo se deu conta de que o cortiço é paulista. Pode ser traduzido, então, por um Ritz meia-estrela. Mas ela sofre com a dor de quem conheceu todas as estrelas do céu. "Day after" de vigarista tem uma dor tão doída, que elas sempre acham melhor trocar de assunto.
Espera-se que um marido vítima de tal engano busque uma distância que a mulher bandida nunca terá meios de alcançar. Ele é rico. Não precisa voltar à casa amarela com gramado. Qualquer esconderijo serve para ele renovar seu ódio. O autor Sílvio de Abreu prefere, porém, detê-lo para ouvir um sermão do Stênio Garcia, aqui um artista que trabalha o barro. Quem quer ouvir um sermão do Stênio Garcia? Os controles remotos são os primeiros a optar, se possível, pelo bispo Macedo. Sob a forma de Ratinho, Leão ou qualquer outro bicho em evidência.
Ruptura sem arranca rabo, nem o príncipe Charles ainda acha graça.



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.