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TELEVISÃO
Rompimento brando assusta qualquer público
TELMO MARTINO
Colunista da Folha
Deveria ser um ponto alto dramático, numa novela de explosões, exclamações enfurecidas de
um proletário (Tony Ramos) e de
descontroles indignados (nunca
nos rrrrrrrrr quatrocentões) de
um Tarcísio Meira condenado
pela idade a ser um patriarca às
vezes apaixonado por moçoilas
apenas profissionais em seus beijos.
Durante alguns minutos do capítulo até que foi empolgante. O
Alexandre carregando as malas e
empurrando a Sandrinha portas
afora do casarão amarelo, cheio
de tendas e umbrelones nas imediações de uma piscina instalada
num gramado espaçoso. E os
olhos felizes da mãe, Gloria Menezes, muito agitados por detrás
da habitual máscara de plástico.
Alexandre (Marcos Palmeira,
um contente competente em sua
estréia muito desenvolta num papel urbano) e Sandrinha (Adriana Esteves também estreando na
cafonice bandida de uma garçonete, sem inaugurar qualquer
emoção em quem vê) são casados.
Ele com muito amor. Ela com
muita ganância pelo luxo dos ricos. Tipo piscina, gramado e casarão amarelo.
O rompimento foi porque apesar de toda a sapequice, a Sandrinha não consegue engravidar
e disse para o marido que tinha
um filho em seu ventre. Bucho
seria mais apropriado. Ventre
tem a suavidade de um anjo que
anuncia. E a Sandrinha rebola
no ritmo do "Só no Sapatinho"
para ter seu momento máximo e
já distante na novela.
Dia seguinte
Agora sem tchan nem nada, ela
padece no seu cortiço. Muito cuidadora, a TV Globo se deu conta
de que o cortiço é paulista. Pode
ser traduzido, então, por um Ritz
meia-estrela. Mas ela sofre com a
dor de quem conheceu todas as estrelas do céu. "Day after" de vigarista tem uma dor tão doída,
que elas sempre acham melhor
trocar de assunto.
Espera-se que um marido vítima
de tal engano busque uma distância que a mulher bandida nunca
terá meios de alcançar. Ele é rico.
Não precisa voltar à casa amarela
com gramado. Qualquer esconderijo serve para ele renovar seu
ódio. O autor Sílvio de Abreu prefere, porém, detê-lo para ouvir
um sermão do Stênio Garcia, aqui
um artista que trabalha o barro.
Quem quer ouvir um sermão do
Stênio Garcia? Os controles remotos são os primeiros a optar, se
possível, pelo bispo Macedo. Sob a
forma de Ratinho, Leão ou qualquer outro bicho em evidência.
Ruptura sem arranca rabo, nem
o príncipe Charles ainda acha graça.
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