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MÚSICA
A Concertgebouw de Amsterdã faz duas apresentações em São Paulo, regida pelo milanês Riccardo Chailly
Orquestra do ano toca hoje no Municipal
IRINEU FRANCO PERPÉTUO
especial para a Folha
A orquestra do ano toca hoje no
Municipal. Entre os corpos sinfônicos da temporada erudita deste
ano, nenhum tem maior tradição
que a Orquestra do Concertgebouw de Amsterdã.
A Concertgebouw faz duas apresentações sem solista na série do
Mozarteum Brasileiro. O programa de hoje traz a "Sinfonia nē 2",
de Rachmaninov, e "El Sombrero
de Tres Picos", de Manuel de Falla.
Amanhã, a orquestra toca "Metamorfoses", de Richard Strauss, e
a "Sinfonia nē 5", de Mahler.
O maestro é Riccardo Chailly,
um milanês de 44 anos que virou
regente titular em 1988 e quebrou a
tradição da casa em trabalhar com
maestros nativos.
Chailly implantou ópera italiana
e música contemporânea na programação da orquestra. Artista exclusivo da Decca há 15 anos, foi encarregado pela gravadora de
preencher o vácuo criado pela
morte do regente Georg Solti, com
um projeto de gravação de 20 CDs.
Ele falou por telefone à Folha de
sua casa, em Amsterdã.
Folha - O sr. é conhecido como
um dos regentes que mais procura
defender a música do século 20.
Como colocar autores de Berio a
Maderna na programação de uma
orquestra e não perder público?
Riccardo Chailly - No começo, o
trabalho era radical, pois a orquestra não havia dedicado atenção suficiente constantemente à música
contemporânea. Nos primeiros
anos, havia uma tendência do público a desertar dos concertos em
que eu trazia música nova. Foi
uma aproximação progressiva que
fiz, abrindo os ensaios gerais ao
público e apresentando as obras
antes do concerto, e falando, nas
rádios e jornais, as razões para tocar música contemporânea. Tive,
assim, a oportunidade de criar
uma convincente credibilidade para todo o público, musical e não-musical, que pudesse ter o sentimento de aventura musical.
Folha - Como se convence a orquestra a tocar esse repertório?
Chailly - Há que se insistir e explicar as razões aos músicos -coisa
que fiz durante anos. Porque, quase sempre, no início de meu período em Amsterdã, os músicos questionavam minha escolha de repertório. Levou muitos anos para chegar a uma confiança e conhecimento em relação à escrita de diversos autores contemporâneos.
Folha - O sr. também pôs a orquestra para tocar ópera.
Chailly - Sim, muita ópera italiana, pois, como milanês, cresci com
essa tradição. E o fato de já ter feito
muitas óperas de Verdi com a
Concertgebouw na Ópera da Holanda foi, para a orquestra, uma
experiência extraordinária. Partituras da grandeza de "Falstaff",
"Otello", "Tosca" e "Aída" são capitais para a história de música.
Folha - Todos falam na crise do
mercado fonográfico. Em seu caso,
contudo, parece não existir a crise,
já que o sr. acaba de assinar com a
Decca um contrato para 20 discos.
Chailly - (Risos) A crise existe para todos. Represento uma pessoa
que, mesmo em período de crise,
pode levar avante um projeto de
longo prazo com a multinacional
Decca. Seguramente os anos do
grande "boom" dos CDs acabaram. Estamos em novo período de
crise. Porém o fato de que haja, não
apenas de minha parte, mas da
parte da gravadora, a vontade de
levar adiante nossa identidade
confirma que, como em todas as
crises, tem de haver a possibilidade
de renascer.
Folha - Quais as dificuldades de
ter sido o primeiro não-holandês
titular da Concertgebouw?
Chailly - O problema da língua é
relativo; basta dedicar tempo e força de vontade para estudar um novo idioma e não ser um estrangeiro
no país. O problema maior foi
ideológico, quanto à rotina de trabalho. Não queria repetir constantemente aquilo que já havia sido
tocado nem ficar tranquilamente
apenas com o repertório já experimentado, ou seja, sem perigo. Isso
eu acho deplorável.
˛
Concerto: Orquestra do Concertgebouw de
Amsterdã
Onde: Teatro Municipal (pça. Ramos de
Azevedo, s/nē, tel. 011/222-8698)
Quando: hoje e amanhã, às 21h
Quanto: de R$ 50 a R$ 150
Patrocinador: Votorantim
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