São Paulo, segunda, 21 de setembro de 1998

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MÚSICA
A Concertgebouw de Amsterdã faz duas apresentações em São Paulo, regida pelo milanês Riccardo Chailly
Orquestra do ano toca hoje no Municipal



IRINEU FRANCO PERPÉTUO
especial para a Folha

A orquestra do ano toca hoje no Municipal. Entre os corpos sinfônicos da temporada erudita deste ano, nenhum tem maior tradição que a Orquestra do Concertgebouw de Amsterdã.
A Concertgebouw faz duas apresentações sem solista na série do Mozarteum Brasileiro. O programa de hoje traz a "Sinfonia nē 2", de Rachmaninov, e "El Sombrero de Tres Picos", de Manuel de Falla.
Amanhã, a orquestra toca "Metamorfoses", de Richard Strauss, e a "Sinfonia nē 5", de Mahler.
O maestro é Riccardo Chailly, um milanês de 44 anos que virou regente titular em 1988 e quebrou a tradição da casa em trabalhar com maestros nativos.
Chailly implantou ópera italiana e música contemporânea na programação da orquestra. Artista exclusivo da Decca há 15 anos, foi encarregado pela gravadora de preencher o vácuo criado pela morte do regente Georg Solti, com um projeto de gravação de 20 CDs.
Ele falou por telefone à Folha de sua casa, em Amsterdã.
Folha - O sr. é conhecido como um dos regentes que mais procura defender a música do século 20. Como colocar autores de Berio a Maderna na programação de uma orquestra e não perder público?
Riccardo Chailly -
No começo, o trabalho era radical, pois a orquestra não havia dedicado atenção suficiente constantemente à música contemporânea. Nos primeiros anos, havia uma tendência do público a desertar dos concertos em que eu trazia música nova. Foi uma aproximação progressiva que fiz, abrindo os ensaios gerais ao público e apresentando as obras antes do concerto, e falando, nas rádios e jornais, as razões para tocar música contemporânea. Tive, assim, a oportunidade de criar uma convincente credibilidade para todo o público, musical e não-musical, que pudesse ter o sentimento de aventura musical.
Folha - Como se convence a orquestra a tocar esse repertório?
Chailly -
Há que se insistir e explicar as razões aos músicos -coisa que fiz durante anos. Porque, quase sempre, no início de meu período em Amsterdã, os músicos questionavam minha escolha de repertório. Levou muitos anos para chegar a uma confiança e conhecimento em relação à escrita de diversos autores contemporâneos.
Folha - O sr. também pôs a orquestra para tocar ópera.
Chailly -
Sim, muita ópera italiana, pois, como milanês, cresci com essa tradição. E o fato de já ter feito muitas óperas de Verdi com a Concertgebouw na Ópera da Holanda foi, para a orquestra, uma experiência extraordinária. Partituras da grandeza de "Falstaff", "Otello", "Tosca" e "Aída" são capitais para a história de música.
Folha - Todos falam na crise do mercado fonográfico. Em seu caso, contudo, parece não existir a crise, já que o sr. acaba de assinar com a Decca um contrato para 20 discos.
Chailly -
(Risos) A crise existe para todos. Represento uma pessoa que, mesmo em período de crise, pode levar avante um projeto de longo prazo com a multinacional Decca. Seguramente os anos do grande "boom" dos CDs acabaram. Estamos em novo período de crise. Porém o fato de que haja, não apenas de minha parte, mas da parte da gravadora, a vontade de levar adiante nossa identidade confirma que, como em todas as crises, tem de haver a possibilidade de renascer.
Folha - Quais as dificuldades de ter sido o primeiro não-holandês titular da Concertgebouw?
Chailly -
O problema da língua é relativo; basta dedicar tempo e força de vontade para estudar um novo idioma e não ser um estrangeiro no país. O problema maior foi ideológico, quanto à rotina de trabalho. Não queria repetir constantemente aquilo que já havia sido tocado nem ficar tranquilamente apenas com o repertório já experimentado, ou seja, sem perigo. Isso eu acho deplorável.
˛
Concerto: Orquestra do Concertgebouw de Amsterdã Onde: Teatro Municipal (pça. Ramos de Azevedo, s/nē, tel. 011/222-8698) Quando: hoje e amanhã, às 21h Quanto: de R$ 50 a R$ 150
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