São Paulo, quinta-feira, 21 de outubro de 2004

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EXPOSIÇÃO

Ceuma abre mostras com móveis de fábrica dos anos 50, fotos de Lévi-Strauss e de três artistas contemporâneos

Criações da Unilabor seguem moldes da Bauhaus

FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

Ação autogestionária, que mesclou arte moderna, religião e ação política, da Unilabor, a fábrica de móveis que funcionou entre 1954 e 1967, na capital paulista, recebe, a partir de hoje, mostra que marca os 50 anos da experiência, no Centro Universitário Mariantonia (Ceuma).
Iniciativa do frei dominicano João Batista Pereira dos Santos, em meio a um ambiente de forte inserção da Igreja Católica nos movimentos sociais -era o período da existência de grupos engajados nas áreas universitárias e operárias-, a Unilabor foi um fábrica de móveis organizada, do ponto de vista da produção, nos moldes da Bauhaus, a escola organizada pelo arquiteto alemão Walter Gropius (1883-1969).
"Criemos uma nova guilda de artesãos, sem distinções de classe que erguem uma barreira de arrogância entre o artista e o artesão", chegou a declarar Gropius na inauguração da Bauhaus, em 1919, na cidade de Weimar.
"Assim como a Bauhaus, a Unilabor partilhava da vontade de recuperar o fazer artesão vinculado a um projeto moderno", conta Mauro Claro, curador da exposição e autor de "Unilabor Desenho Industrial, Arte Moderna e Autogestão Operária" (Senac, R$ 60, 190 págs.), livro que é lançado hoje, organizado a partir da dissertação de mestrado do autor.
Uma das presenças mais significativas na Unilabor é a do artista plástico Geraldo de Barros (1923-1988). Foi em 1952, a pedido de Ciccillo Matarazzo, segundo Claro, que Barros conheceu o frei João Batista e acabou participando da criação da Unilabor.
"Geraldo de Barros aprendeu a ser design lá, ele era artista, mas não sabia como trabalhar a madeira e foi no contato com os artesãos que ele passou a desenvolver projetos", conta Claro. "Por ser amigo do Mário Pedrosa, que estudou na Alemanha na década de 20, ele chegou com influência da Bauhaus", diz ainda o curador.
É na produção de móveis produzidos em escala e de desenho modernista que a Unilabor se aproxima mais ainda da escola alemã. Um bom exemplo é o conjunto de móveis desenhados por Barros, exibidos na mostra, realizados no final dos anos 50. "Foi o período áureo da iniciativa", diz o curador. A mostra traz ainda obras do artista, como quatro trabalhos da série "Jogo de Dados" e duas "Fotoformas" e documentos da época.

Arte contemporânea
O Ceuma inaugura, também hoje, outras quatro exposições, uma dedicada ao antropólogo francês Claude Lévi-Strauss e mais três dedicadas à produção contemporânea.
O artista plástico Eduardo Coimbra apresenta, no 1º andar, dois trabalhos inéditos, "Veículo para Todos os Pisos", uma construção tubular branca, com rodas em vários tamanhos que percorrem o espaço expositivo, e "Escadas", uma maquete de vários níveis. "São obras que, apesar das diferenças, tratam do deslocamento", conta o artista, que também lança hoje o livro "Eduardo Coimbra" (Casa da Palavra, R$ 45, 142 págs.).
Na sala ao lado, Amália Giacomini apresenta uma instalação com elásticos brancos numa sala branca, uma obra que beira o invisível. "A invisibilidade é, de fato, um dado, o observador precisa se aproximar do trabalho para perceber sua construção", diz a artista plástica.
Finalmente, no segundo piso, Fernanda Gomes monta uma instalação em uma pequena sala, composta por dois livros em branco que são marcados por duas lâmpadas acesas, folhas de eucalipto, tacos, tijolos, uma picareta e outros objetos. "Vim para cá com a cabeça livre, trabalho sempre com o mesmo princípio, criar uma situação plástica que se baseie onde estou, deixando que o observador faça sua interpretação o mais livre possível", conta.


UNILABOR, EDUARDO COIMBRA, FERNANDA GOMES, CLAUDE LÉVI-STRAUSS E AMÁLIA GIACOMINI. Cinco mostras, com destaque para o mobiliário da Unilabor, com curadoria de Mauro Claro. Onde: Centro Universitário Mariantonia (r. Maria Antonia, 294, tel. 0/xx/11/3257-2760). Quando: abertura hoje, às 20h; de seg. a sex., das 12h às 21h, e sáb. e dom., das 10h às 18h. Até 28/11. Quanto: entrada franca.


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