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EXPOSIÇÃO
Ceuma abre mostras com móveis de fábrica dos anos 50, fotos de Lévi-Strauss e de três artistas contemporâneos
Criações da Unilabor seguem moldes da Bauhaus
FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL
Ação autogestionária, que mesclou arte moderna, religião e ação
política, da Unilabor, a fábrica de
móveis que funcionou entre 1954
e 1967, na capital paulista, recebe,
a partir de hoje, mostra que marca
os 50 anos da experiência, no
Centro Universitário Mariantonia
(Ceuma).
Iniciativa do frei dominicano
João Batista Pereira dos Santos,
em meio a um ambiente de forte
inserção da Igreja Católica nos
movimentos sociais -era o período da existência de grupos engajados nas áreas universitárias e
operárias-, a Unilabor foi um fábrica de móveis organizada, do
ponto de vista da produção, nos
moldes da Bauhaus, a escola organizada pelo arquiteto alemão
Walter Gropius (1883-1969).
"Criemos uma nova guilda de
artesãos, sem distinções de classe
que erguem uma barreira de arrogância entre o artista e o artesão",
chegou a declarar Gropius na
inauguração da Bauhaus, em
1919, na cidade de Weimar.
"Assim como a Bauhaus, a Unilabor partilhava da vontade de recuperar o fazer artesão vinculado
a um projeto moderno", conta
Mauro Claro, curador da exposição e autor de "Unilabor Desenho
Industrial, Arte Moderna e Autogestão Operária" (Senac, R$ 60,
190 págs.), livro que é lançado hoje, organizado a partir da dissertação de mestrado do autor.
Uma das presenças mais significativas na Unilabor é a do artista
plástico Geraldo de Barros (1923-1988). Foi em 1952, a pedido de
Ciccillo Matarazzo, segundo Claro, que Barros conheceu o frei
João Batista e acabou participando da criação da Unilabor.
"Geraldo de Barros aprendeu a
ser design lá, ele era artista, mas
não sabia como trabalhar a madeira e foi no contato com os artesãos que ele passou a desenvolver
projetos", conta Claro. "Por ser
amigo do Mário Pedrosa, que estudou na Alemanha na década de
20, ele chegou com influência da
Bauhaus", diz ainda o curador.
É na produção de móveis produzidos em escala e de desenho
modernista que a Unilabor se
aproxima mais ainda da escola
alemã. Um bom exemplo é o conjunto de móveis desenhados por
Barros, exibidos na mostra, realizados no final dos anos 50. "Foi o
período áureo da iniciativa", diz o
curador. A mostra traz ainda
obras do artista, como quatro trabalhos da série "Jogo de Dados" e
duas "Fotoformas" e documentos
da época.
Arte contemporânea
O Ceuma inaugura, também
hoje, outras quatro exposições,
uma dedicada ao antropólogo
francês Claude Lévi-Strauss e mais três dedicadas à produção contemporânea.
O artista plástico Eduardo
Coimbra apresenta, no 1º andar,
dois trabalhos inéditos, "Veículo
para Todos os Pisos", uma construção tubular branca, com rodas
em vários tamanhos que percorrem o espaço expositivo, e "Escadas", uma maquete de vários níveis. "São obras que, apesar das
diferenças, tratam do deslocamento", conta o artista, que também lança hoje o livro "Eduardo
Coimbra" (Casa da Palavra, R$
45, 142 págs.).
Na sala ao lado, Amália Giacomini apresenta uma instalação
com elásticos brancos numa sala
branca, uma obra que beira o invisível. "A invisibilidade é, de fato,
um dado, o observador precisa se
aproximar do trabalho para perceber sua construção", diz a artista plástica.
Finalmente, no segundo piso,
Fernanda Gomes monta uma instalação em uma pequena sala,
composta por dois livros em
branco que são marcados por
duas lâmpadas acesas, folhas de
eucalipto, tacos, tijolos, uma picareta e outros objetos. "Vim para
cá com a cabeça livre, trabalho
sempre com o mesmo princípio,
criar uma situação plástica que se
baseie onde estou, deixando que o
observador faça sua interpretação
o mais livre possível", conta.
UNILABOR, EDUARDO COIMBRA,
FERNANDA GOMES, CLAUDE LÉVI-STRAUSS E AMÁLIA GIACOMINI. Cinco
mostras, com destaque para o mobiliário
da Unilabor, com curadoria de Mauro
Claro. Onde: Centro Universitário
Mariantonia (r. Maria Antonia, 294, tel.
0/xx/11/3257-2760). Quando: abertura
hoje, às 20h; de seg. a sex., das 12h às
21h, e sáb. e dom., das 10h às 18h. Até
28/11. Quanto: entrada franca.
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