|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Knuckles e Farrell "eletronizam" Tim
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma conversa com Frankie
Knuckles pode gerar momentos
tensos. Porque ele tem um passado singular -criou um gênero, a
house music-, mas não gosta de
falar do passado nem da house
music. Não renega o legado, mas
parece não gostar muito do que
aquilo se transformou.
"Não me peça [sobre o que representa a house hoje] para responder isso. Não importa o que
eu acho que é porque todos têm
uma definição diferente do que é
a house music. Eu sei o que é house music, de onde vem e por que
tem esse nome. E havia apenas
um DJ naquele clube quando tudo isso aconteceu, certo? Não precisamos entrar nesse assunto."
Certo. Voltando um pouco: nascido no Bronx, em Nova York, em
1955, Frankie Knuckles começou
trabalhando como DJ -ele e
Larry Levan- para Nicky Siano,
em 1973, no clube The Gallery.
Em 1977, Levan abriu o legendário Paradise Garage. No mesmo
ano, Knuckles mudou-se para
Chicago, para tocar na noite de
abertura -e depois tornar-se o
DJ residente- do Warehouse (o
Warehouse é "aquele clube" citado por ele no parágrafo acima).
Bem, Knuckles e o clube -que
fechou as portas em 1982- foram tão importantes que todo um
gênero da música eletrônica, a
house, formou-se ali, emprestando o próprio nome do lugar. Toda
essa história atraca no Brasil na
madrugada de segunda, quando
Knuckles se apresenta dentro do
Tim Festival. Ele é atração do palco Motomix, a parte dançante do
evento, que terá, entre outros,
Perry Farrell e Arthur Baker (estes
na madrugada de sábado).
"A house tornou-se muito grande, mas não é muito diferente de
como era no início. Claro, a tecnologia mudou, mas há os superstars DJs comerciais e os DJs tradicionais de house, que não têm
tanto reconhecimento e que não
tocam em superclubes, mas que
são honestos quanto à música."
"Minha música é considerada
underground, mas toco, normalmente, para pessoas mais velhas,
gente que busca música com mais
substância", disse o DJ à Folha.
No domingo, além de Knuckles,
o palco dançante do Tim Festival
terá o trio Body & Soul, formado
por François Kevorkian, Danny
Krivitt e Joe Claussell.
"Vou tocar com Arthur Baker?
Uau! Vai ser interessante." Essa
foi a reação de Perry Farrell, o líder do hibernante grupo Jane's
Addiction, que, em sua faceta DJ,
se apresenta como Peretz.
O entusiasmo de Farrell se explica: o inglês Baker, no início dos
anos 80, foi um dos responsáveis,
com Afrika Bambaataa, por "Planet Rock", principal ingrediente
para o aparecimento do electro.
"O importante dessa canção é
que serviu de inspiração para várias músicas e gêneros, até para
essa onda de funk carioca e reggaeton", afirmou o produtor, que,
nos anos 80, chegou a produzir
bandas como New Order ("trabalhar com bandas requer tempo, e
não há muitas que me excitem
atualmente"). Em seu set no Brasil, Baker diz que tocará "electro,
rock e rap. Faixas antigas misturadas com outras novas".
Essa mistura fará parte também
do set de Farrell. Ele começou nos
pick-ups há nove anos e costumava tocar house e progressive.
"Mas há um ano e meio comecei a
fazer um "party set" ["set festeiro],
e agora me pedem para tocar assim... São clássicos do rock e canções novas, com algumas coisas
de rap. Música de festa", resume.
Farrell compara o lado DJ com o
de vocalista de rock: "Os dois são
legais, mas não é a mesma coisa.
Há a questão física. Como cantor,
posso me mover, pular, instigar o
público de várias maneiras. O DJ é
uma figura mais cerebral, não
existe o lado físico da performance. E, à medida que o público vai
absorvendo a música, o DJ torna-se anônimo. Quando canto, sou o
espírito e o corpo da canção; como DJ, sou apenas a mente da
canção".
(THIAGO NEY)
Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Lidell traz faceta "funk soul brother" ao Brasil Índice
|