São Paulo, sexta-feira, 21 de outubro de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Knuckles e Farrell "eletronizam" Tim

DA REPORTAGEM LOCAL

Uma conversa com Frankie Knuckles pode gerar momentos tensos. Porque ele tem um passado singular -criou um gênero, a house music-, mas não gosta de falar do passado nem da house music. Não renega o legado, mas parece não gostar muito do que aquilo se transformou.
"Não me peça [sobre o que representa a house hoje] para responder isso. Não importa o que eu acho que é porque todos têm uma definição diferente do que é a house music. Eu sei o que é house music, de onde vem e por que tem esse nome. E havia apenas um DJ naquele clube quando tudo isso aconteceu, certo? Não precisamos entrar nesse assunto."
Certo. Voltando um pouco: nascido no Bronx, em Nova York, em 1955, Frankie Knuckles começou trabalhando como DJ -ele e Larry Levan- para Nicky Siano, em 1973, no clube The Gallery. Em 1977, Levan abriu o legendário Paradise Garage. No mesmo ano, Knuckles mudou-se para Chicago, para tocar na noite de abertura -e depois tornar-se o DJ residente- do Warehouse (o Warehouse é "aquele clube" citado por ele no parágrafo acima).
Bem, Knuckles e o clube -que fechou as portas em 1982- foram tão importantes que todo um gênero da música eletrônica, a house, formou-se ali, emprestando o próprio nome do lugar. Toda essa história atraca no Brasil na madrugada de segunda, quando Knuckles se apresenta dentro do Tim Festival. Ele é atração do palco Motomix, a parte dançante do evento, que terá, entre outros, Perry Farrell e Arthur Baker (estes na madrugada de sábado).
"A house tornou-se muito grande, mas não é muito diferente de como era no início. Claro, a tecnologia mudou, mas há os superstars DJs comerciais e os DJs tradicionais de house, que não têm tanto reconhecimento e que não tocam em superclubes, mas que são honestos quanto à música."
"Minha música é considerada underground, mas toco, normalmente, para pessoas mais velhas, gente que busca música com mais substância", disse o DJ à Folha.
No domingo, além de Knuckles, o palco dançante do Tim Festival terá o trio Body & Soul, formado por François Kevorkian, Danny Krivitt e Joe Claussell.
"Vou tocar com Arthur Baker? Uau! Vai ser interessante." Essa foi a reação de Perry Farrell, o líder do hibernante grupo Jane's Addiction, que, em sua faceta DJ, se apresenta como Peretz.
O entusiasmo de Farrell se explica: o inglês Baker, no início dos anos 80, foi um dos responsáveis, com Afrika Bambaataa, por "Planet Rock", principal ingrediente para o aparecimento do electro.
"O importante dessa canção é que serviu de inspiração para várias músicas e gêneros, até para essa onda de funk carioca e reggaeton", afirmou o produtor, que, nos anos 80, chegou a produzir bandas como New Order ("trabalhar com bandas requer tempo, e não há muitas que me excitem atualmente"). Em seu set no Brasil, Baker diz que tocará "electro, rock e rap. Faixas antigas misturadas com outras novas".
Essa mistura fará parte também do set de Farrell. Ele começou nos pick-ups há nove anos e costumava tocar house e progressive. "Mas há um ano e meio comecei a fazer um "party set" ["set festeiro], e agora me pedem para tocar assim... São clássicos do rock e canções novas, com algumas coisas de rap. Música de festa", resume.
Farrell compara o lado DJ com o de vocalista de rock: "Os dois são legais, mas não é a mesma coisa. Há a questão física. Como cantor, posso me mover, pular, instigar o público de várias maneiras. O DJ é uma figura mais cerebral, não existe o lado físico da performance. E, à medida que o público vai absorvendo a música, o DJ torna-se anônimo. Quando canto, sou o espírito e o corpo da canção; como DJ, sou apenas a mente da canção". (THIAGO NEY)


Texto Anterior: Frases
Próximo Texto: Lidell traz faceta "funk soul brother" ao Brasil
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.