São Paulo, sexta-feira, 21 de outubro de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

MPB

Disco de Moraes Moreira espana o óbvio

DA SUCURSAL DO RIO

Quando a indústria fonográfica já acabava de costurar o figurino de "velho novo baiano" para Moraes Moreira, tentando embalsamá-lo em estereótipos ripongas e repetições de sucessos setentistas, não é que ele espana o falso incenso e lança um disco para lá de surpreendente?
Pois "De Repente" é um estranho e -por isso- interessante tapa na cara dos coveiros engravatados. É possível que nenhuma das 12 faixas do CD toque nas rádios, mas o conjunto delas forma uma das mais louváveis alquimias feitas recentemente no país.
"Eu estava me cobrando uma coisa nova, que motivasse a mim e ao meu público, que me permitisse falar algo diferente para você agora. As gravadoras só querem saber de DVD ao vivo com convidados e velhos sucessos. Isso não me interessa. O "Acústico MTV" eu fiz em 96", diz Moraes, 58.
A "música-conceito" do CD, segundo ele, é a dançante "Baião D2", no qual une rap e baião, Marcelo D2 (homenageado) e Ivete Sangalo (nos vocais), programação eletrônica com viola de 12 cordas, além de uma letra que traduz o momento: "De repente/ O fim me leva ao começo/ Traz o infinito/ O que não conheço".
"Eu quero continuar sendo um novo baiano, mas sem saudosismo. Não é repetir "Acabou Chorare", mas partir dele para fazer algo novo", resume Moraes, referindo-se ao mais famoso disco dos Novos Baianos, de 1972.
A eletrônica está presente no CD, mas não de forma ostensiva. Presença mais forte mesmo é a do rap -ou da "palavra falada", como Moraes prefere, já que nem tudo o que recita se encaixa no que costumamos chamar de rap. Em "Palavra de Poeta", ele reverencia Drummond, Bandeira, Quintana e outras balizas líricas.
Casando samba com hip hop, ele homenageia Cartola, Caymmi, Assis Valente, Tom Jobim, Vinicius, Chico Buarque e outros em "Na Glória do Samba". Nas entrelinhas, está homenageando também todos os renovadores: "Samba esquema novo plano/ Onde tudo vai dar certo/ Tomara que Caetano/ Oxalá João Gilberto".
Já em "Rap da República", a mensagem é política. Ou melhor, de quem assume que só pode ser político se estiver fora das disputas por cargos e poderes. "Não tenho críticas ao trabalho do [ministro da Cultura, Gilberto] Gil, mas sinto que a política tirou alguém da música. Como músico, tenho saudade", afirma.
O melhor Moraes do CD é o que desrespeita convenções e assume: "Até eu fiquei assustado com o resultado do disco". Assim, ele continua sendo, para sempre, um novo baiano. (LFV)


De Repente
   
Artista: Moraes Moreira
Gravadora: Rob Digital
Quanto: R$ 25, em média


Texto Anterior: CDs - Folk: Disco duplo recupera Bob Dylan jovem e pungente
Próximo Texto: Coleção Folha: Volume de domingo destaca Rossini
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.