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MPB
Disco de Moraes Moreira espana o óbvio
DA SUCURSAL DO RIO
Quando a indústria fonográfica já acabava de costurar o
figurino de "velho novo baiano"
para Moraes Moreira, tentando
embalsamá-lo em estereótipos ripongas e repetições de sucessos
setentistas, não é que ele espana o
falso incenso e lança um disco para lá de surpreendente?
Pois "De Repente" é um estranho e -por isso- interessante
tapa na cara dos coveiros engravatados. É possível que nenhuma
das 12 faixas do CD toque nas rádios, mas o conjunto delas forma
uma das mais louváveis alquimias
feitas recentemente no país.
"Eu estava me cobrando uma
coisa nova, que motivasse a mim
e ao meu público, que me permitisse falar algo diferente para você
agora. As gravadoras só querem
saber de DVD ao vivo com convidados e velhos sucessos. Isso não
me interessa. O "Acústico MTV"
eu fiz em 96", diz Moraes, 58.
A "música-conceito" do CD, segundo ele, é a dançante "Baião
D2", no qual une rap e baião,
Marcelo D2 (homenageado) e
Ivete Sangalo (nos vocais), programação eletrônica com viola de
12 cordas, além de uma letra que
traduz o momento: "De repente/
O fim me leva ao começo/ Traz o
infinito/ O que não conheço".
"Eu quero continuar sendo um
novo baiano, mas sem saudosismo. Não é repetir "Acabou Chorare", mas partir dele para fazer algo
novo", resume Moraes, referindo-se ao mais famoso disco dos
Novos Baianos, de 1972.
A eletrônica está presente no
CD, mas não de forma ostensiva.
Presença mais forte mesmo é a do
rap -ou da "palavra falada", como Moraes prefere, já que nem
tudo o que recita se encaixa no
que costumamos chamar de rap.
Em "Palavra de Poeta", ele reverencia Drummond, Bandeira,
Quintana e outras balizas líricas.
Casando samba com hip hop,
ele homenageia Cartola, Caymmi,
Assis Valente, Tom Jobim, Vinicius, Chico Buarque e outros em
"Na Glória do Samba". Nas entrelinhas, está homenageando também todos os renovadores: "Samba esquema novo plano/ Onde tudo vai dar certo/ Tomara que Caetano/ Oxalá João Gilberto".
Já em "Rap da República", a
mensagem é política. Ou melhor,
de quem assume que só pode ser
político se estiver fora das disputas por cargos e poderes. "Não tenho críticas ao trabalho do [ministro da Cultura, Gilberto] Gil,
mas sinto que a política tirou alguém da música. Como músico,
tenho saudade", afirma.
O melhor Moraes do CD é o que
desrespeita convenções e assume:
"Até eu fiquei assustado com o resultado do disco". Assim, ele continua sendo, para sempre, um novo baiano.
(LFV)
De Repente
Artista: Moraes Moreira
Gravadora: Rob Digital
Quanto: R$ 25, em média
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