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MÚSICA
O poeta e compositor recebe Zé Renato, Zélia Duncan e Alaíde Costa no Sesc Pompéia, onde mostra canções da caixa "Timoneiro"
Hermínio faz "encontro de águas" em SP
JANAINA FIDALGO
DA REPORTAGEM LOCAL
Em se tratando de um poeta,
compositor, pesquisador e revelador de talentos, além de parceiro
de Cartola, Chico e Paulinho da
Viola, o lançamento da caixa "Timoneiro" no ano em que Hermínio Bello de Carvalho faz 70 anos
poderia ser encarado como uma
consagração de seu trabalho.
Não é esse o pensamento de
Carvalho, que lança hoje e amanhã, no teatro do Sesc Pompéia, a
caixa gravada pela Biscoito Fino.
"Diria que é uma prestação de
contas de um poeta que se dividiu
entre letras de música e poesia e
que não deixou de lado suas convicções político-ideológicas em
seu ofício de operário da palavra e
de estivador cultural."
Pois a poesia desse "operário da
palavra", tantas vezes cantada
sem que se atine o nome do autor,
transcende as letras das músicas e
ganha corpo em "Embornal Antologia Poética" (ed. Martins Fontes), também lançado no final de
semana. "[É uma] antologia que
enfeixa os meus trabalhos publicados em cinco livros de poesia."
Se a navegação entre música e
poesia soa inerente a Carvalho, no
campo das parcerias tampouco
há distinção entre gerações. Nos
cinco discos de "Timoneiro" há,
claro, canções feitas com seus pares consagrados, mas o compositor ladeia-se também dos mais jovens, como Zélia Duncan e Bia
Paes Leme, produtoras do CD
com inéditas que dá nome à caixa.
"É o encontro de um velho rio
com vertentes de diversos riachos, e isso é a mistura que sempre idealizei (e pratiquei). Meu arco autoral vai de Pixinguinha a
Frejat, passando pelos córregos
de Baden, Tapajós, Vital Lima,
Joyce, Sueli Costa, Martinho da
Vila, Dona Ivone Lara -e por aí
vou rolando entre os seixos."
O que esperar então dos shows
que fará em São Paulo, nos quais
vão convergir os afluentes Zé Renato, Zélia Duncan, Alaíde Costa,
Mauricio Carrilho, Simone, Zezé
Gonzaga e Áurea Martins?
"É uma surpresa. Acho prematuro revelar o roteiro. Tendo tantos amigos-intérpretes no palco, é
inevitável que surjam algumas
surpresas. Talvez a Zélia com o Zé
Renato ou a Zezé e a Simone cantando comigo -quem pode prever? É um encontro de águas."
Difícil é selecionar, entre tantas
canções, as que serão levadas ao
palco. O que não pode faltar?
"É sempre um problema o de
não deixar de fora alguns sucessos
que há 40 anos resistem na memória do povo. Quando fui rever
o roteiro, estavam de fora "Sei lá,
Mangueira", "Alvorada" e "Chão de
Esmeraldas". Como deixar de lado
parceiros como Paulinho da Viola, Cartola e Carlos Cachaça, Chico Buarque? Os chamados "clássicos", garanto, não ficarão de fora."
Nova safra
Àquele que tirou do anonimato,
em 1963, Clementina de Jesus
-embora evite o rótulo de "descobridor"-, inevitável perguntar
sobre os novos talentos.
"Meu mais novo parceiro,
Moacyr Luz, organiza, às segundas, uma roda de samba [o Samba
do Trabalhador] no Clube Renascença, no Rio. A quantidade de
compositores que ele vem revelando (assim como fazem Beth
Carvalho e Zeca Pagodinho) é
uma boa prova de que existe uma
nova safra importante surgindo."
Conselheiro da Escola Portátil
de Música, onde mantém uma
oficina, Carvalho se queixa por
não ter acesso às gravações que
serviriam de material didático.
"Inauguraram a Midiateca Hermínio Bello de Carvalho, com vídeos de música brasileira -e parte do material foi gravado na TVE
que, infelizmente, não me cede
cópias dos programas que lá produzi", conta. "A gente vai furando
as ondas por baixo, meio na marginalidade. Assim também se faz
cultura no Brasil: feito minhocas
perfurando a terra."
Hermínio Bello de Carvalho
Quando: hoje e amanhã, às 21h
Onde: Sesc Pompéia (r. Clélia, 93, SP, tel.
0/xx/11/3871-7700)
Quanto: R$ 10 a R$ 25
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