São Paulo, sexta-feira, 21 de outubro de 2005

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MÚSICA

O poeta e compositor recebe Zé Renato, Zélia Duncan e Alaíde Costa no Sesc Pompéia, onde mostra canções da caixa "Timoneiro"

Hermínio faz "encontro de águas" em SP

JANAINA FIDALGO
DA REPORTAGEM LOCAL

Em se tratando de um poeta, compositor, pesquisador e revelador de talentos, além de parceiro de Cartola, Chico e Paulinho da Viola, o lançamento da caixa "Timoneiro" no ano em que Hermínio Bello de Carvalho faz 70 anos poderia ser encarado como uma consagração de seu trabalho.
Não é esse o pensamento de Carvalho, que lança hoje e amanhã, no teatro do Sesc Pompéia, a caixa gravada pela Biscoito Fino.
"Diria que é uma prestação de contas de um poeta que se dividiu entre letras de música e poesia e que não deixou de lado suas convicções político-ideológicas em seu ofício de operário da palavra e de estivador cultural."
Pois a poesia desse "operário da palavra", tantas vezes cantada sem que se atine o nome do autor, transcende as letras das músicas e ganha corpo em "Embornal Antologia Poética" (ed. Martins Fontes), também lançado no final de semana. "[É uma] antologia que enfeixa os meus trabalhos publicados em cinco livros de poesia."
Se a navegação entre música e poesia soa inerente a Carvalho, no campo das parcerias tampouco há distinção entre gerações. Nos cinco discos de "Timoneiro" há, claro, canções feitas com seus pares consagrados, mas o compositor ladeia-se também dos mais jovens, como Zélia Duncan e Bia Paes Leme, produtoras do CD com inéditas que dá nome à caixa.
"É o encontro de um velho rio com vertentes de diversos riachos, e isso é a mistura que sempre idealizei (e pratiquei). Meu arco autoral vai de Pixinguinha a Frejat, passando pelos córregos de Baden, Tapajós, Vital Lima, Joyce, Sueli Costa, Martinho da Vila, Dona Ivone Lara -e por aí vou rolando entre os seixos."
O que esperar então dos shows que fará em São Paulo, nos quais vão convergir os afluentes Zé Renato, Zélia Duncan, Alaíde Costa, Mauricio Carrilho, Simone, Zezé Gonzaga e Áurea Martins?
"É uma surpresa. Acho prematuro revelar o roteiro. Tendo tantos amigos-intérpretes no palco, é inevitável que surjam algumas surpresas. Talvez a Zélia com o Zé Renato ou a Zezé e a Simone cantando comigo -quem pode prever? É um encontro de águas."
Difícil é selecionar, entre tantas canções, as que serão levadas ao palco. O que não pode faltar?
"É sempre um problema o de não deixar de fora alguns sucessos que há 40 anos resistem na memória do povo. Quando fui rever o roteiro, estavam de fora "Sei lá, Mangueira", "Alvorada" e "Chão de Esmeraldas". Como deixar de lado parceiros como Paulinho da Viola, Cartola e Carlos Cachaça, Chico Buarque? Os chamados "clássicos", garanto, não ficarão de fora."

Nova safra
Àquele que tirou do anonimato, em 1963, Clementina de Jesus -embora evite o rótulo de "descobridor"-, inevitável perguntar sobre os novos talentos.
"Meu mais novo parceiro, Moacyr Luz, organiza, às segundas, uma roda de samba [o Samba do Trabalhador] no Clube Renascença, no Rio. A quantidade de compositores que ele vem revelando (assim como fazem Beth Carvalho e Zeca Pagodinho) é uma boa prova de que existe uma nova safra importante surgindo."
Conselheiro da Escola Portátil de Música, onde mantém uma oficina, Carvalho se queixa por não ter acesso às gravações que serviriam de material didático. "Inauguraram a Midiateca Hermínio Bello de Carvalho, com vídeos de música brasileira -e parte do material foi gravado na TVE que, infelizmente, não me cede cópias dos programas que lá produzi", conta. "A gente vai furando as ondas por baixo, meio na marginalidade. Assim também se faz cultura no Brasil: feito minhocas perfurando a terra."


Hermínio Bello de Carvalho
Quando:
hoje e amanhã, às 21h
Onde: Sesc Pompéia (r. Clélia, 93, SP, tel. 0/xx/11/3871-7700)
Quanto: R$ 10 a R$ 25


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