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"O PROJETO GOEBBELS"
Documentário recita profecias do nazista
MARCOS GUTERMAN
EDITOR-ADJUNTO DE MUNDO
Como bom dirigente nazista,
Joseph Goebbels era dado a
profecias. Mas ele foi muito além
das conhecidas "previsões" sobre
o futuro sombrio dos judeus da
Europa, que todo líder do Terceiro Reich gostava de recitar, a começar por Hitler. O documentário "O Projeto Goebbels" mostra
que ele era bem mais sofisticado:
suas teorias sobre comunicação
política são assustadoramente
pertinentes nestes dias em que estadistas resultam da milimétrica
elaboração de marqueteiros.
Com sensibilidade instintiva,
Goebbels formulou a estrutura de
propaganda da Alemanha nazista, um dos pilares do regime, ao
lado do terrorismo. Certo de que a
história lhe daria razão, ele argumenta: "Não há bom governo
sem propaganda". Idéias como
essa conferiam a Goebbels brilho
próprio num universo criado para fazer apenas Hitler reluzir.
O diretor Lutz Hachmeister
mostra quem é esse personagem,
muito comentado e pouco conhecido, por meio da leitura de seus
diários, feita por Kenneth Branagh. O documentário faz ligeiras
intervenções; é Goebbels, e sobretudo ele, quem comenta os acontecimentos de seu tempo. O filme
mostra um Goebbels torturado,
que teve problemas com a mulher, com dirigentes nazistas e
mesmo com Hitler, a quem acusa
de lhe faltar com a palavra.
Ele se refere a si mesmo como
um homem solitário e triste, que
sofre desesperadamente por causa de dores. Declara ter tido alucinações na infância, época "sem
alegria", segundo suas palavras.
Não é difícil, diante disso, deixar-se seduzir pela impressão de
que esse passado fez de Goebbels
o celerado que conhecemos. Talvez sim, talvez não. O fato histórico é que a apática Alemanha que
precedeu a ascensão nazista era o
ambiente ideal para a glória de
atormentados como Goebbels. "A
revolução está dentro de mim."
O documentário é feito para que
Goebbels explique seu papel nessa revolução com suas próprias
palavras. Ele faz várias considerações sobre a capacidade do novo
regime de criar uma realidade a
partir da simples vontade de que
ela se materialize, fenômeno em
que a propaganda tem óbvio papel central. E Goebbels, cuja crença na superioridade ariana é inabalável, surpreende ao dizer que
os nazistas têm o que aprender
com os bolcheviques nessa área.
O ministro demonstra, porém,
que não há boa propaganda sem
um bom "produto": Hitler. Num
dos melhores momentos do filme, o ministro disseca a capacidade oratória do führer. Afirma que
nada se compara a ele no que diz
respeito à "harmonia entre palavra, gesto, expressão" -e a prova
disso é uma imagem em que Hitler, durante um discurso, demonstra domínio total da situação e explora longos segundos de
silêncio para eletrizar a audiência.
Mas o que torna Goebbels inquietante é sua capacidade de antecipar o futuro da comunicação
na nascente sociedade de massa.
Ele prevê o sucesso da TV, comenta o alcance do cinema e planeja estratégias com a imprensa.
"A nova geração é midiática",
afirma. Nada mais profético.
O Projeto Goebbels
The Goebbels Experiment
Direção: Lutz Hachmeister
Quando: amanhã, às 17h40, no
Cineclube Vitrine; e dias 28, às 18h30, no
Espaço Unibanco; e 30, às 14h, no
Reserva Cultural
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