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"NAPOLA"
Filme abre brecha à humanidade na Alemanha hitlerista
DA REDAÇÃO
Lá estão as bandeiras nazistas. Lá estão os hinos sanguinários. Lá estão os discursos
anti-semitas, e as teses sobre a
superioridade ariana, e a violência e a humilhação contra os
considerados fracos para integrar a sociedade perfeita. No
entanto, em "Napola", há também ternura, amizade, amor e
coragem; isto é, nada que lembre um filme sobre nazistas.
O cinema habituou o mundo
a ver a Alemanha de Hitler como a quintessência do diabolismo, e os nazistas, como os
carrascos da civilização. O filme de Dennis Gansel não contradiz essa imagem, mas abre
uma brecha para que a humanidade desses alemães se manifeste, ainda que por alguns momentos. O resultado é uma história de rara sensibilidade.
"Napola" mostra Friedrich,
jovem que se sai bem lutando
boxe e, por isso, é convidado a
integrar uma escola de elite do
führer. À revelia do pai, um trabalhador que não queria que
seu filho se misturasse "àquela
gente", ele agarra a chance,
movido pelas mesmas razões
que fizeram a massa de jovens
defender o Reich: orgulho nacional e crença no projeto ariano. E, contudo, isso não faz de
Friedrich um monstro.
Ele e seus amigos vivem dilemas e nutrem esperanças semelhantes às de qualquer jovem. Há momentos no filme
em que a escola Napola -cujo
objetivo é formar os comandantes da campanha genocida
de Hitler- se parece muito
com uma escola comum, com
suas intrigas, seus jogos, seus
flertes. Chega a ser possível
abstrair o fato de que o ambiente é nazista.
Mas isso não é duradouro.
Friedrich e seus amigos vão
perceber em muito pouco tempo que o nazismo não é uma
escolha e que os preceitos totalitários cedo ou tarde acabarão
se impondo, mesmo que isso
signifique a morte, tão cultuada pelo romantismo alemão
como forma de purificação.
O jovem boxeador percebe
que não há saída: no Terceiro
Reich, não basta derrotar o inimigo, é preciso destruí-lo inteiramente, e não importa quem
seja o inimigo -ele pode ser
até mesmo o próprio filho. Afinal, é tarefa do bom nazista eliminar tudo aquilo que impeça
a realização da história tal como Hitler a concebeu.
Gansel fez um filme não para
reafirmar os velhos clichês do
nazismo, mas para mostrar
que, sim, embora fosse um regime totalitário, houve aqueles
que tentaram desafiá-lo por
dentro, movidos por sentimentos genuinamente humanos.
(MARCOS GUTERMAN)
Napola - Antes da Queda
Direção: Dennis Gansel
Quando: hoje, às 18h30, no Cine
Morumbi; domingo, às 15h20, no
Cineclube Vitrine; e dias 26, às 14h, no
Cine Bombril; e 31, às 15h, na Faap
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