São Paulo, sexta-feira, 21 de outubro de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"NAPOLA"

Filme abre brecha à humanidade na Alemanha hitlerista

DA REDAÇÃO

Lá estão as bandeiras nazistas. Lá estão os hinos sanguinários. Lá estão os discursos anti-semitas, e as teses sobre a superioridade ariana, e a violência e a humilhação contra os considerados fracos para integrar a sociedade perfeita. No entanto, em "Napola", há também ternura, amizade, amor e coragem; isto é, nada que lembre um filme sobre nazistas.
O cinema habituou o mundo a ver a Alemanha de Hitler como a quintessência do diabolismo, e os nazistas, como os carrascos da civilização. O filme de Dennis Gansel não contradiz essa imagem, mas abre uma brecha para que a humanidade desses alemães se manifeste, ainda que por alguns momentos. O resultado é uma história de rara sensibilidade.
"Napola" mostra Friedrich, jovem que se sai bem lutando boxe e, por isso, é convidado a integrar uma escola de elite do führer. À revelia do pai, um trabalhador que não queria que seu filho se misturasse "àquela gente", ele agarra a chance, movido pelas mesmas razões que fizeram a massa de jovens defender o Reich: orgulho nacional e crença no projeto ariano. E, contudo, isso não faz de Friedrich um monstro.
Ele e seus amigos vivem dilemas e nutrem esperanças semelhantes às de qualquer jovem. Há momentos no filme em que a escola Napola -cujo objetivo é formar os comandantes da campanha genocida de Hitler- se parece muito com uma escola comum, com suas intrigas, seus jogos, seus flertes. Chega a ser possível abstrair o fato de que o ambiente é nazista.
Mas isso não é duradouro. Friedrich e seus amigos vão perceber em muito pouco tempo que o nazismo não é uma escolha e que os preceitos totalitários cedo ou tarde acabarão se impondo, mesmo que isso signifique a morte, tão cultuada pelo romantismo alemão como forma de purificação.
O jovem boxeador percebe que não há saída: no Terceiro Reich, não basta derrotar o inimigo, é preciso destruí-lo inteiramente, e não importa quem seja o inimigo -ele pode ser até mesmo o próprio filho. Afinal, é tarefa do bom nazista eliminar tudo aquilo que impeça a realização da história tal como Hitler a concebeu.
Gansel fez um filme não para reafirmar os velhos clichês do nazismo, mas para mostrar que, sim, embora fosse um regime totalitário, houve aqueles que tentaram desafiá-lo por dentro, movidos por sentimentos genuinamente humanos. (MARCOS GUTERMAN)


Napola - Antes da Queda
   
Direção: Dennis Gansel
Quando: hoje, às 18h30, no Cine Morumbi; domingo, às 15h20, no Cineclube Vitrine; e dias 26, às 14h, no Cine Bombril; e 31, às 15h, na Faap


Texto Anterior: "O Projeto Goebbels": Documentário recita profecias do nazista
Próximo Texto: Estréia: "Reis de Dogtown" dramatiza boa história de skatistas
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.