São Paulo, sexta-feira, 21 de outubro de 2005

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ANIMAÇÃO

Diretor usa bonecos e técnica de stop-motion para contar história baseada no folclore russo

Burton volta aos clássicos em "A Noiva-Cadáver"

Divulgação
A noiva-cadáver, dublada por Helena Bonham Carter, personagem-título da animação em stop-motion dirigida por Tim Burton e Mike Johnson, que estréia hoje


MARCO AURÉLIO CANÔNICO
ENVIADO ESPECIAL A TORONTO

O trabalho de Tim Burton chegou a tal nível de reconhecimento por parte da indústria -graças a campeões de bilheteria como "Batman" (1989) e "A Fantástica Fábrica de Chocolate" (2005)- que o diretor tem moral para impor sua vontade mesmo contra a ordem vigente. No caso da animação "A Noiva-Cadáver", que estréia hoje no Brasil, Burton ignorou a atual regra de ouro das animações hollywoodianas.
"Tudo agora tem de ser feito em computador. Eles acabaram com as animações clássicas em prol da informática, sem se dar conta de que os filmes feitos em computador são bons porque a Pixar faz grandes filmes", afirmou Burton em entrevista durante o lançamento de seu filme no Festival de Cinema de Toronto (Canadá). A lógica não poderia ser mais cristalina: um filme não é bom porque adota essa ou aquela técnica, mas porque foi bem feito.
"Acho que o meio tem que se adaptar à história. Todas as formas de animação são válidas, eu apenas tento não fazer o que Hollywood manda", diz o diretor. Assim como em "O Estranho Mundo de Jack" (1993), que Burton roteirizou e produziu, a animação de "A Noiva-Cadáver" é feita em stop-motion, técnica que apavora os estúdios por exigir um enorme tempo de filmagem e inúmeros recursos (cada movimento precisa ser fotografado passo a passo: 24 fotografias formam um segundo de filme), em comparação com a computação gráfica.
Burton queria trabalhar novamente com a animação de bonecos porque achava que o formato, mais orgânico e com uma intrínseca sensação de carpintaria, era o ideal para contar a história (baseada no folclore russo) da noiva que morre antes de seu casamento e encontra, acidentalmente, um noivo no mundo dos vivos. No elenco estão figuras que já se associam automaticamente ao diretor, como sua mulher, Helena Bonham Carter (no papel-título), e seu amigo Johnny Depp (que dá voz ao frágil noivo Victor, personagem tão parecido com ele que acaba sendo uma versão do ator em formato de boneco). Com Depp, a associação é tão automática que o próprio Burton ironiza.
"Nossa relação ainda não é sexual. Ele não é minha musa, mas gosto de Depp porque é um ator que se transforma. E, numa indústria em que as pessoas podem ser facilmente seduzidas, ele mantém sua integridade", conta.
Depp, por sua vez, devolve as amabilidades. "Trabalhar com Tim Burton é como estar em casa, é confortável", diz. A afinidade entre a dupla também não escapou ao radar dos produtores, especialmente depois do sucesso de "A Fantástica Fábrica de Chocolate": "Toda vez que Tim me queria em seus filmes, precisava brigar para os estúdios me aceitarem. Nesse último, eu fui sugerido a ele pelo estúdio", diz Depp.
E como a dupla, que tenta manter uma certa aura independente, lida com a pressão por um novo campeão de bilheteria que certamente envolve tudo que traz o nome dos dois? "Não crio expectativas sobre o sucesso dos filmes, até porque isso foi algo que me escapou por muitos anos. Não tinha e não tenho noção, mas acho que é bom o fato de um filme ser um "blockbuster'", diz Depp, irônico.
"Sempre me surpreendo com o resultado dos filmes, sejam eles um sucesso ou um fracasso. Me sinto com sorte quando uma obra é bem-sucedida na bilheteria", diz Burton.

O repórter Marco Aurélio Canônico viajou para Toronto a convite da Warner Bros. Pictures

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