São Paulo, domingo, 21 de outubro de 2007

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Leandra Leal se despe da candura em peça e filme

Atriz vive mulher que se prostitui em "Simpatia" e escritora em crise em "Nome Próprio'

Conhecida por personagens doces, ela nega que escolha de papéis seja tentativa de "mudar um estereótipo': "Não tenho estratégias"

LUCAS NEVES
DA REPORTAGEM LOCAL

Da Marcela de "A Ostra e o Vento" (1997) à Sílvia de "O Homem que Copiava" (2003), passando pela Bianca da novela "O Cravo e a Rosa" (2000), Leandra Leal desenhou sua carreira emprestando corpo e voz à candura. Até que vieram a escritora Camila, do filme "Nome Próprio" (a ser exibido na Mostra de SP), e as várias mulheres da peça "Simpatia" (dentre elas, uma jovem que apanha do marido e se prostitui), e viraram de vez a página da inocência.
Para quem se diz "muito mulherzinha, femininazinha", a mudança de perfil dos personagens foi natural. "Não foi uma tentativa de mudar um estereótipo. Não tenho estratégias do tipo "agora, vou fazer para cá, vou fazer para lá". Há processos que me interessam."
No "processo colaborativo" que gerou "Simpatia" -com dramaturgia alinhavada a partir de depoimentos de vendedoras de cosméticos, improvisação e experiências pessoais da equipe-, as lembranças das excentricidades da avó materna foram a contribuição de Leandra. "Ela era muito louca, saía de baiana em escola de samba e era religiosa de um modo próprio: macumbeira, mas católica", conta uma carioca indecisa entre o sotaque natal, um acento paulistano e uma ou outra inflexão pernambucana (terra do marido, o músico Lirinha, do Cordel do Fogo Encantado).
Costurando cenas autônomas estão as simpatias do título, como aquela em que uma maçaroca de maisena e água serve de molde ao tamanho do seio que a mãe almeja para a filha -ritual a que a atriz conta ter sido submetida pela avó.
Leandra descreve a peça como "retrato radical de uma geração anterior à minha, em que a mulher vivencia um abismo na relação com o marido". Em cena, radical mesmo é a oscilação de seu figurino, que vai de bem-comportados vestidos floridos a uma camisola enxeridamente transparente e um conjunto de cinta-liga e corpete.

Nudez
Coincidência ou não, é também (bastante) à vontade que ela aparece em "Nome Próprio", o filme de Murilo Salles em que vive uma escritora "autodestrutiva, suicida" à procura de idéias para o primeiro livro. Bebida, cigarros e sexo em alta voltagem servem de válvula de escape para bloqueios criativos e inquietações existenciais.
As recorrentes cenas de nudez não tiraram seu sono, diz Leandra. "Sou tímida, mas trabalho. Dessa exposição na minha profissão não tenho medo. É isso que me dá prazer: ir rompendo barreiras e conceitos. Trabalho é completo quando vai até o fim. A gente tem que dar a cara a tapa."
Mas deixemos as saliências de lado para não melindrar o lado engajado da atriz, que diz "que as pessoas da minha geração fogem de posicionamento". "Está todo mundo numa onda de politicamente correto, ninguém critica ninguém."

Blog no cinema
"Nome Próprio" é baseado em "Máquina de Pinball" e "Das Coisas Esquecidas atrás da Estante", de Clarah Averbuck, uma das primeiras a levar a linguagem pop dos blogs para a literatura. "Desobedecendo" a um pedido de Salles, Leandra conheceu Averbuck antes das filmagens. Ficaram amigas a ponto de a escritora ser convidada para colaborar com o blog da atriz, que reencarnará como revista eletrônica.
"Estou fazendo trabalho de curadoria. Vai ter artigo, vídeo, artes plásticas, coluna de conselhos sentimentais", lista a atriz, que também se prepara para dirigir o documentário "Divinas Divas", sobre travestis do Rio e de São Paulo.
Paulistana por adoção há três anos, mas "flamenguista, mangueirense, totalmente posto 9", ela explica por que deixou a beira-mar. "O Rio é perfeito demais para mim. Estava muito estável. Curto instabilidade, risco." Quem te viu, quem te vê.


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