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Leandra Leal se despe da candura em peça e filme
Atriz vive mulher que se prostitui em "Simpatia" e escritora em crise em "Nome Próprio'
Conhecida por personagens doces, ela nega que escolha de papéis seja tentativa de "mudar um estereótipo': "Não tenho estratégias"
LUCAS NEVES
DA REPORTAGEM LOCAL
Da Marcela de "A Ostra e o
Vento" (1997) à Sílvia de "O Homem que Copiava" (2003), passando pela Bianca da novela "O
Cravo e a Rosa" (2000), Leandra Leal desenhou sua carreira
emprestando corpo e voz à candura. Até que vieram a escritora Camila, do filme "Nome Próprio" (a ser exibido na Mostra
de SP), e as várias mulheres da
peça "Simpatia" (dentre elas,
uma jovem que apanha do marido e se prostitui), e viraram de
vez a página da inocência.
Para quem se diz "muito mulherzinha, femininazinha", a
mudança de perfil dos personagens foi natural. "Não foi uma
tentativa de mudar um estereótipo. Não tenho estratégias do
tipo "agora, vou fazer para cá,
vou fazer para lá". Há processos
que me interessam."
No "processo colaborativo"
que gerou "Simpatia" -com
dramaturgia alinhavada a partir de depoimentos de vendedoras de cosméticos, improvisação e experiências pessoais
da equipe-, as lembranças das
excentricidades da avó materna foram a contribuição de
Leandra. "Ela era muito louca,
saía de baiana em escola de
samba e era religiosa de um
modo próprio: macumbeira,
mas católica", conta uma carioca indecisa entre o sotaque natal, um acento paulistano e
uma ou outra inflexão pernambucana (terra do marido, o músico Lirinha, do Cordel do Fogo
Encantado).
Costurando cenas autônomas estão as simpatias do título, como aquela em que uma
maçaroca de maisena e água
serve de molde ao tamanho do
seio que a mãe almeja para a filha -ritual a que a atriz conta
ter sido submetida pela avó.
Leandra descreve a peça como "retrato radical de uma geração anterior à minha, em que
a mulher vivencia um abismo
na relação com o marido". Em
cena, radical mesmo é a oscilação de seu figurino, que vai de
bem-comportados vestidos floridos a uma camisola enxeridamente transparente e um conjunto de cinta-liga e corpete.
Nudez
Coincidência ou não, é também (bastante) à vontade que
ela aparece em "Nome Próprio", o filme de Murilo Salles
em que vive uma escritora "autodestrutiva, suicida" à procura
de idéias para o primeiro livro.
Bebida, cigarros e sexo em alta
voltagem servem de válvula de
escape para bloqueios criativos
e inquietações existenciais.
As recorrentes cenas de nudez não tiraram seu sono, diz
Leandra. "Sou tímida, mas trabalho. Dessa exposição na minha profissão não tenho medo.
É isso que me dá prazer: ir rompendo barreiras e conceitos.
Trabalho é completo quando
vai até o fim. A gente tem que
dar a cara a tapa."
Mas deixemos as saliências
de lado para não melindrar o lado engajado da atriz, que diz
"que as pessoas da minha geração fogem de posicionamento".
"Está todo mundo numa onda
de politicamente correto, ninguém critica ninguém."
Blog no cinema
"Nome Próprio" é baseado
em "Máquina de Pinball" e
"Das Coisas Esquecidas atrás
da Estante", de Clarah Averbuck, uma das primeiras a levar
a linguagem pop dos blogs para
a literatura. "Desobedecendo"
a um pedido de Salles, Leandra
conheceu Averbuck antes das
filmagens. Ficaram amigas a
ponto de a escritora ser convidada para colaborar com o blog
da atriz, que reencarnará como
revista eletrônica.
"Estou fazendo trabalho de
curadoria. Vai ter artigo, vídeo,
artes plásticas, coluna de conselhos sentimentais", lista a
atriz, que também se prepara
para dirigir o documentário
"Divinas Divas", sobre travestis
do Rio e de São Paulo.
Paulistana por adoção há três
anos, mas "flamenguista, mangueirense, totalmente posto 9",
ela explica por que deixou a beira-mar. "O Rio é perfeito demais para mim. Estava muito
estável. Curto instabilidade,
risco." Quem te viu, quem te vê.
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