São Paulo, domingo, 21 de outubro de 2007

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Crítica/"Lady Chatterley"

Francesa cria adaptação fiel ao clássico de Lawrence

CRÍTICO DA FOLHA

Escrito em 1928 por D. H. Lawrence, "O Amante de Lady Chatterley" entrou para a história da literatura inglesa pela porta do escândalo. O tema ousado (a relação extraconjugal de uma aristocrata com um empregado) e a descrição detalhada das cenas de sexo levaram o romance a ser banido -com direito, é claro, à circulação de várias edições piratas antes da primeira publicação oficial na Inglaterra, em 1960.
Para além do escândalo, o romance de Lawrence permaneceu por trazer o ponto de vista da mulher para o primeiro plano e por tocar francamente em questões consideradas tabus, como a sexualidade. O texto serviu de base para alguns filmes, entre eles o "soft porn" estrelado por Sylvia Kristel em 1981.
No ano passado, a cineasta francesa Pascale Ferran se encarregou de fazer uma adaptação "séria", quiçá definitiva. Ferran optou por ser fiel ao romance de Lawrence no melhor sentido. A cineasta se recusou a banalizar a proposta mas também não inventou muito ao transformar o texto em imagem.
Os problemas de uma adaptação literária são resolvidos pelo investimento em dois elementos básicos: encenação e atores. O preço que ela paga por isso é a longa duração (são 2h40 de projeção).
Nada de caminhos indiretos, portanto. Vez ou outra, ela recorre a uma narração em off aparentemente desnecessária. Mas, de uma maneira geral, Ferran dispõe diante da câmera os elementos necessários para contar sua história: um corpo na chuva é um corpo na chuva, uma mão que retira uma luva é uma mão que retira uma luva.

Elenco de primeira linha
A escolha dos atores principais é uma peça-chave para o sucesso dessa proposta. Marina Hands, que até então havia passado desapercebida em filmes como "As Invasões Bárbaras", se revela uma atriz de primeira grandeza.
E Jean-Louis Coulloch, além de ótimo ator, tem o chamado "physique du rôle" para o personagem (não glamourizado, mas capaz ainda de transmitir sensualidade).
É assim, de forma direta, não teorizada, que "Lady Chatterley" aborda duas questões fundamentais do cinema contemporâneo -o corpo e a subjetividade -, o que acaba servindo, ainda, como o melhor testemunho possível de que o romance de D. H. Lawrence continua atual como nunca. (PB)


LADY CHATTERLEY
Direção:
Pascale Ferran
Produção: Bélgica/França/Reino Unido, 2007
Com: Marina Hands, Jean-Louis Coulloch, Hippolyte Girardot
Quando: hoje, às 21h30, no Cinemark Shopping Eldorado; qua., às 17h10, no Cinesesc; qui., às 18h, no Reserva Cultural
Avaliação: bom


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