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MinC fará reunião para debater preservação
Convocado pelo ministro Juca Ferreira, encontro acontece no início de novembro
Curadores e familiares discutem papel do Estado na conservação das obras de artistas mortos; em outros países, há leis de proteção
CAIO BARRETTO BRISO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO RIO
O ministro da Cultura, Juca
Ferreira, está convocando uma
reunião para o próximo dia 9,
no Rio, devido à destruição de
parte do legado de Hélio Oiticica. "Queremos discutir com todo o setor de artes visuais políticas que envolvam aquisição e
preservação de acervos de artistas, pois está claro que, como
está, a situação não pode ficar",
disse à Folha o presidente do
Instituto Brasileiro de Museus,
José Carlos do Nascimento Júnior, organizador do encontro.
Entre os convocados para a
reunião, estão membros da Receita Federal. Curadores ouvidos pela Folha consideram esta uma medida acertada.
"Creio que é legítimo o direito
à herança, mas é legítimo também o Estado cobrar impostos
sobre a transferência de legados familiares. Não digo isso
apenas no caso das famílias de
artistas, mas me refiro a todas
aquelas que possuam patrimônio a ser transferido", diz o crítico e curador Tadeu Chiarelli.
Para ele, a experiência de outros países
deve servir como modelo: "Sabemos que, em alguns outros
países, impostos sobre herança
têm possibilitado o incremento
de acervos públicos e mesmo a
criação de novos museus."
Maior presença do Estado
nessa questão também é defendida por Aracy Amaral, que admite que acervos como os recebidos pelas famílias de Hélio
Oiticica e Lygia Clark poderiam ser tombados pelo Iphan
(Instituto de Patrimônio Histórico e Nacional), "para ser
protegidos e mantidos em local
que garantisse minimamente a
sua preservação".
O tombamento poderia ser a
chave para um dos principais
problemas que envolvem instituições e herdeiros, pois muitas vezes os museus investem
para preservar uma coleção,
que segue particular, e pode ser
vendida a qualquer momento.
Mas o incêndio revela ainda
outra faceta que envolve os
herdeiros: "É o momento, em
função desse desastre, de repensar os direitos das famílias
de artistas já falecidos, sobre
direitos de divulgação, igualmente, da obra de artistas. Há
casos em que as famílias cobram tão elevadas somas que
eventos e exposições desistem
de reproduzir em catálogos
obras de determinados artistas", conta Amaral. Um caso
exemplar é o livro "Lygia Clark:
Obra e Trajeto", de Maria Alice
Milliet, publicado em 1992 e
um dos primeiros estudos extensos sobre Clark (1920-1988). O livro nunca foi reeditado porque a família cobra um
valor que o torna inviável para
uma editora universitária, como a Edusp, que o publicou.
Para Álvaro Clark, filho da
artista, o acervo de artistas
mortos deve permanecer sob a
responsabilidade da família.
"Mas caso a obra fosse adquirida por algum museu, deveria
ser cuidada por profissionais
da arte, e não por administrações públicas, que mudam de
quatro em quatro anos", disse,
por telefone, de Paris.
Paula Pape, filha de Lygia Pape (1927-2004), diz que o incêndio no acervo de Hélio Oiticica não é capaz de iniciar uma
política de aquisição de obras
nos museus brasileiros. "Tudo
será igual ao que sempre foi. As
famílias continuarão cuidando
da obra de seus artistas mortos
sem apoio de ninguém."
Já o acervo de Franz Weissmann (1911-2005) está em um
galpão no bairro de Ramos, na
zona norte do Rio. Quem o
mantém é a filha do artista,
Wal Weissmann. "Dói ter que
entrar naquele galpão, em uma
região perigosa da cidade, e ver
a obra de meu pai reclusa. Ela
deveria estar em algum museu.
Essa obra não é da família. É
um patrimônio cultural da humanidade", disse Wal.
Apesar disso, ela afirma que
o acervo de um artista é um
bem da família. "Somos nós, os
herdeiros, quem passamos por
diversas dificuldades para
manter as obras preservadas.
Ninguém ajuda, nem governos
nem empresas. É um direito da
família ser a dona do acervo."
Jandira Feghali, secretária
de Cultura do município, disse
que a secretaria tem interesse
em criar um museu a céu aberto para expor a obra de Weissmann, possivelmente na Quinta da Boa Vista.
Colaborou FABIO CYPRIANO , da Reportagem
Local
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