JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

A soprano norte-americana June Anderson, 49, faz hoje às 21h, no Teatro Municipal de São Paulo, a única récita dessa sua quarta visita ao Brasil. Cantará árias de Rossini, Bellini, Donizetti e Verdi, acompanhada pela Orquestra Sinfônica Municipal, sob a regência de Ira Levin.
O concerto é beneficente. É o último da temporada organizada para levantar recursos à Tucca (Associação para Crianças e Adolescentes com Tumor Cerebral), com ingressos de R$ 90 a R$ 200.
Anderson esteve pela última vez em São Paulo há dois anos. Fez em três récitas o papel título de "Lucia di Lammermoor", de Gaetano Donizetti. Foi uma interpretação memorável.
"Creio que minha voz é hoje mais segura e melhor do que era antes. Hoje tenho uma idéia mais aprofundada sobre a interpretação de meus personagens", afirma em entrevista à Folha.
Formada em letras francesas pela Universidade de Yale, Anderson demonstra preocupação ao falar das novas gerações de cantores líricos: "Se um dia eu tiver alguma influência na formação de jovens cantores, insistirei para que eles aprofundem seus conhecimentos em literatura, em poesia. O cantor tem como matéria-prima a palavra".
A crítica parte do reconhecimento da tendência atual em países como os Estados Unidos, a Alemanha e o Reino Unido em confundir sucesso artístico com o sucesso puramente comercial, a exemplo de nomes como Andrea Bocelli e os três tenores. "Digamos que, separadamente, os três tenores tinham carreiras artísticas extraordinárias. Mas é também verdade que eles contribuíram para essa idéia esquisita, segundo a qual o dinheiro é uma medida perfeita para se calcular o grau de sucesso artístico", diz Anderson.
"Elas [as classes médias consumidoras de música erudita] também acreditam que a música foi feita para provocar apenas fortes emoções, elas gostam de reconhecer o que estão ouvindo, gostam de ouvir pessoalmente cantores que já assistiram pela TV."