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CRÍTICA
TV Cultura imita o pior do mercado
XICO SÁ
FREE-LANCE PARA A FOLHA
A TV Cultura também
ajoelhou e rogou a bênção de
Marcelo Rossi, o padre de "Caras"
e/ou o padre de auditório -só
para lembrar a expressão "padre
de passeata", usada pelo catolicíssimo Nelson Rodrigues, um papa-hóstia danado, para designar
os "desvios" das batinas que iam
às ruas em apoio aos comunistas.
O religioso, onipresente na TV
brasileira -só não casa e batiza
na Record do bispo Edir Macedo-, foi uma das principais atrações do "Alô, Alô", programa
"popular" que a Cultura, com
transmissão da rede educativa, estreou na noite de anteontem.
Como diria o velho Guy Debord, agitador social francês autor da tese da sociedade do espetáculo, a televisão pública de SP
amplia e apressa a sua negação
real de cultura e de sentido. Em
crise, foi às compras.
É a transição, louve-se a resistência - "demorô", recitaria a galera popular, sem aspas, do funk
carioca-, para a mediocridade
do comércio. Gugu Liberato agora tem mais um concorrente para
disputar os direitos sobre o padre
que "estourou" -o verbo é de
Fafy Siqueira, a apresentadora do
"Alô, Alô".
Ela vem do teatro. Esforça-se
para tornar o entusiasmo que finge algo bem natural. É difícil acertar esse tom no primeiro programa, independentemente do número de programas-pilotos que
tenham sido feitos. Ficou apenas
na "falsedade ensaiada", como diz
um bolero de La Lupe. Puro teatro
com gracinhas sem efeito.
O auditório foi outro ponto difícil para afinar o entusiasmo na estréia. Esse público depende tanto
da temperatura do programa
quanto da qualidade do lanche
que recebe para manter as energias. Normalmente as emissoras
oferecem migalhas e espera desumana. Aproveitam a vontade de
"aparecer" da rapaziada.
E a apresentadora, embalada
pelo forró mauriçola do Falamansa, outro arroz-de-festa dos auditórios, ainda se arvorou a achar
que fazia algo além do circo convencional da TV. "O povo gosta
do que é bom, é porque não tem
acesso", bradava.
Na "privatização" gradual da
TV Cultura, bom mesmo é Jorge
Kajuru, que forma grande dupla
com Flávio Prado no "Hora do
Esporte", diário de futebol da
mesma emissora. O estouro-da-boiada e o zen-budismo. Gol.
Alô, Alô
Onde: TV Cultura, terça, 20h
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