São Paulo, quinta-feira, 21 de novembro de 2002

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CRÍTICA

TV Cultura imita o pior do mercado

XICO SÁ
FREE-LANCE PARA A FOLHA

A TV Cultura também ajoelhou e rogou a bênção de Marcelo Rossi, o padre de "Caras" e/ou o padre de auditório -só para lembrar a expressão "padre de passeata", usada pelo catolicíssimo Nelson Rodrigues, um papa-hóstia danado, para designar os "desvios" das batinas que iam às ruas em apoio aos comunistas.
O religioso, onipresente na TV brasileira -só não casa e batiza na Record do bispo Edir Macedo-, foi uma das principais atrações do "Alô, Alô", programa "popular" que a Cultura, com transmissão da rede educativa, estreou na noite de anteontem.
Como diria o velho Guy Debord, agitador social francês autor da tese da sociedade do espetáculo, a televisão pública de SP amplia e apressa a sua negação real de cultura e de sentido. Em crise, foi às compras.
É a transição, louve-se a resistência - "demorô", recitaria a galera popular, sem aspas, do funk carioca-, para a mediocridade do comércio. Gugu Liberato agora tem mais um concorrente para disputar os direitos sobre o padre que "estourou" -o verbo é de Fafy Siqueira, a apresentadora do "Alô, Alô".
Ela vem do teatro. Esforça-se para tornar o entusiasmo que finge algo bem natural. É difícil acertar esse tom no primeiro programa, independentemente do número de programas-pilotos que tenham sido feitos. Ficou apenas na "falsedade ensaiada", como diz um bolero de La Lupe. Puro teatro com gracinhas sem efeito.
O auditório foi outro ponto difícil para afinar o entusiasmo na estréia. Esse público depende tanto da temperatura do programa quanto da qualidade do lanche que recebe para manter as energias. Normalmente as emissoras oferecem migalhas e espera desumana. Aproveitam a vontade de "aparecer" da rapaziada.
E a apresentadora, embalada pelo forró mauriçola do Falamansa, outro arroz-de-festa dos auditórios, ainda se arvorou a achar que fazia algo além do circo convencional da TV. "O povo gosta do que é bom, é porque não tem acesso", bradava.
Na "privatização" gradual da TV Cultura, bom mesmo é Jorge Kajuru, que forma grande dupla com Flávio Prado no "Hora do Esporte", diário de futebol da mesma emissora. O estouro-da-boiada e o zen-budismo. Gol.

Alô, Alô


 
Onde: TV Cultura, terça, 20h



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