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São Paulo, sexta-feira, 21 de novembro de 2003

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MILTON

"O preconceito ainda existe"

Agora dono de sua própria gravadora, Milton Nascimento está mais relaxado. Em São Paulo para duas apresentações do show "Pietá" (amanhã e domingo, no Olympia), ele conversou com a coluna depois de cinco horas de viagem de carro -solícito, até trocou de camisa para fotos.
 

Folha - A ministra Benedita da Silva disse, recentemente, que toda a patrulha que vem sofrendo por causa de sua viagem à Argentina [em que ela foi a um encontro evangélico com dinheiro público] só acontece porque ela é mulher e negra. Ainda há preconceito no Brasil?
Milton Nascimento -
Claro que há. Outro dia eu estava na rua, e dois meninos jovens gritaram coisas preconceituosas para mim. O negócio só não me pegou forte porque eu estava com um monte de músicos, superfeliz. Mas eu jamais esperava ouvir coisas assim na minha própria cidade. No caso da Benedita, se fosse uma dondoca ninguém pegaria no pé.

Folha - O que eles falaram?
Milton -
Prefiro não dizer. Foi muito forte, muito triste.

Folha - E do Gilberto Gil ministro, gosta?
Milton -
Ele sempre conversou muito sobre política. Ele é um político, foi uma ótima escolha. O problema é que querem que as pessoas façam as coisas muito depressa. E a gente tem 500 anos de erros para consertar.

Folha - E qual a sua avaliação do governo Lula?
Milton -
O Brasil está mal acostumado com os políticos. Gente legal tem que penar para conseguir fazer as coisas que são necessárias. Acho o Lula legal. Uma pessoa com o passado dele não consegue mentir.

Folha - Você conviveu com a Luana Piovani [Milton é autor da trilha sonora da peça da atriz, "Alice no País das Maravilhas"]. O que achou de suas declarações, de que usa maconha "para relaxar"?
Milton -
Luana é muito honesta, não falou para gerar confusão. Mas ela podia esquecer essas coisas. Já está provado que droga nenhuma faz bem.

Folha - E a Maria Rita? Por que ela quer tanto se desvencilhar da sombra da mãe, Elis Regina?
Milton -
Sempre foi difícil para ela começar a cantar. Um dia ela me deu um CD que havia gravado e disse: "Só você tem isso. Quero que você me diga o que devo fazer da minha vida". Acho que foi uma coisa espiritual, porque ela nem devia saber que foi a mãe dela que me lançou. Ser filha da Elis é um privilégio, Maria Rita não precisa ter medo porque ela é ela. Com o tempo as comparações diminuem. Ela tem um talento enorme.


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