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MILTON
"O preconceito ainda existe"
Agora dono de sua própria
gravadora, Milton Nascimento está mais relaxado. Em São
Paulo para duas apresentações do show "Pietá" (amanhã e domingo, no Olympia),
ele conversou com a coluna
depois de cinco horas de viagem de carro -solícito, até
trocou de camisa para fotos.
Folha - A ministra Benedita da
Silva disse, recentemente, que
toda a patrulha que vem sofrendo por causa de sua viagem à Argentina [em que ela foi a um encontro evangélico com dinheiro
público] só acontece porque ela
é mulher e negra. Ainda há preconceito no Brasil?
Milton Nascimento - Claro que
há. Outro dia eu estava na rua, e
dois meninos jovens gritaram
coisas preconceituosas para
mim. O negócio só não me pegou forte porque eu estava com
um monte de músicos, superfeliz. Mas eu jamais esperava
ouvir coisas assim na minha
própria cidade. No caso da Benedita, se fosse uma dondoca
ninguém pegaria no pé.
Folha - O que eles falaram?
Milton - Prefiro não dizer. Foi
muito forte, muito triste.
Folha - E do Gilberto Gil ministro, gosta?
Milton - Ele sempre conversou muito sobre política. Ele é
um político, foi uma ótima escolha. O problema é que querem que as pessoas façam as
coisas muito depressa. E a gente tem 500 anos de erros para
consertar.
Folha - E qual a sua avaliação
do governo Lula?
Milton - O Brasil está mal
acostumado com os políticos.
Gente legal tem que penar para
conseguir fazer as coisas que
são necessárias. Acho o Lula legal. Uma pessoa com o passado
dele não consegue mentir.
Folha - Você conviveu com a
Luana Piovani [Milton é autor da
trilha sonora da peça da atriz,
"Alice no País das Maravilhas"].
O que achou de suas declarações, de que usa maconha "para
relaxar"?
Milton - Luana é muito honesta, não falou para gerar confusão. Mas ela podia esquecer essas coisas. Já está provado que
droga nenhuma faz bem.
Folha - E a Maria Rita? Por que
ela quer tanto se desvencilhar
da sombra da mãe, Elis Regina?
Milton - Sempre foi difícil para ela começar a cantar. Um dia
ela me deu um CD que havia
gravado e disse: "Só você tem
isso. Quero que você me diga o
que devo fazer da minha vida".
Acho que foi uma coisa espiritual, porque ela nem devia saber que foi a mãe dela que me
lançou. Ser filha da Elis é um
privilégio, Maria Rita não precisa ter medo porque ela é ela.
Com o tempo as comparações
diminuem. Ela tem um talento
enorme.
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