São Paulo, segunda-feira, 21 de novembro de 2005

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LITERATURA

Arnaldo Antunes, Antonio Cicero e Adriana Calcanhotto realizam "ações poéticas" para abordar obra do catalão

Espetáculo explora a poesia cênica de Joan Brossa

JULIÁN FUKS
DA REPORTAGEM LOCAL

Dê o nome de um poeta catalão que tenha se tornado paradigma na poesia política de cunho marxista. Agora o de um que tenha revolucionado a poesia visual, promovendo um desmonte da palavra até torná-la simples figura artística. Por fim, o de um catalão que tenha se dedicado por toda uma vida à construção de poemas-objetos, habitando os limites entre poesia e artes plásticas.
Falou três vezes Joan Brossa? Está feita a mágica: tem-se logo um quarto artista, desta vez de talento empregado na poesia cênica. Quem duvidar ou quiser compreender melhor o truque vá assitir ao espetáculo "Brossa.Bros.Br", que acontece hoje às 21h, em complemento à exposição "Joan Brossa, de Barcelona ao Novo Mundo", aberta até o dia 27.
Aquele que comparecer poderá se deparar com importantes poetas e artistas -como Arnaldo Antunes, Antonio Cicero, Lenora de Barros, Tom Zé e Adriana Calcanhotto- abordando a obra do catalão de uma maneira própria, seja através de leituras, seja em interpretações musicais ou teatrais de seus poemas. Cada um dos artistas, em lista que se estende com mais nomes conhecidos, fará seu número, sua performance ou, no termo cunhado por Brossa, sua "ação poética". Tudo sob direção cênica de Vadim Nikitim.
"Para Brossa, o teatro era uma maneira de fazer a poesia ser visualizada, em presença, na forma de esquetes, mímica ou prestidigitação", explica João Bandeira, idealizador e organizador do espetáculo. "Tudo para livrar a poesia de sua condição de remeter sempre a algo que não está ali", completa, talvez sugerindo uma explicação para essa busca tão eclética do catalão, para quem a poesia podia dialogar com todas as formas de arte.
Foi Bandeira quem cuidou de escolher e convidar os artistas participantes, sempre obedecendo a um critério de interesse prévio por Brossa, de relações efetivas com o poeta ou de uma afinidade imaginada que pudessem ter com ele. "De alguma forma, do outro lado do Atlântico, Brossa é como um irmão mais velho de todos esses artistas", diz Bandeira.
Uma irmandade que só pode trazer bons frutos à poesia brasileira. Só é pena que, estando Brossa morto há mais de cinco anos, pouco se poderá retribuir da atenção. No entra-e-sai das palavras pelo palco, porém, no surgimento e desaparição de cada letra, quem sabe o artista catalão não acabe dando as caras, nem que seja uma só dessas tão inusitadas.


Brossa.Bros.Br
Quando: hoje, às 21h
Onde: Centro Maria Antonia (r. Maria Antonia, 294, tel. 0/xx/11/3225-7182)
Quanto: entrada franca



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