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DOCUMENTÁRIO
Curta mostra luta pela memória de Glauber
BRUNO YUTAKA SAITO
DA REPORTAGEM LOCAL
No Brasil, qualquer artista morre ao menos duas vezes. Mesmo
sendo o maior cineasta do país,
Glauber Rocha (1938-81) não escapou da sina de quase ter sua
obra aos poucos enterrada, literalmente, pelo esquecimento.
Como qualquer outra mãe, dona Lúcia Rocha, mãe do cineasta,
busca proteger seu filho. Defende
com bravura os rebentos artísticos de Glauber, envolvendo-se
ativamente no Tempo Glauber,
instituição que abriga o acervo do
diretor, entre filmes, textos etc.
É esta personagem de diversas
nuances -a quem o cineasta pede, em carta enviada de Roma, em
75, para "curtir a vida"- que o
curta "A Mãe" (98) tenta retratar.
Dirigido por Fernando Belens e
Umbelino Brasil, o filme é atração
desta semana do "Curta STV".
O programa traz ainda uma entrevista feita com Belens: diz que
decidiu fazer "A Mãe" quando
viu, na TV, o enterro de Glauber.
Ficara impressionado com dona
Lúcia. "Ela dizia: "Meu filho, você
não tá descendo; você tá subindo'", conta Belens. Antes do cineasta, ela já tinha perdido a filha
Anecy e o marido. "Não consigo
ver essas cenas [do enterro]. Vai
doer por toda a vida", diz ela. Durante anos, dona Lúcia proibiu a
veiculação dessas imagens.
No curta, ela percorre antigos
cenários, entre Vitória da Conquista, Salvador e Rio de Janeiro,
para relembrar passagens de sua
vida e da de Glauber. No caminho, encontra gente como o poeta
Waly Salomão (1943-2003) e os cineastas Luiz Carlos Barreto e Nelson Pereira dos Santos.
Este dá o depoimento mais empolgado: "Desde aquele tempo
[anos 60] é a sua bravura que me
dá forças. Sou uma pessoa muito
medrosa". E é Barreto quem resume o drama de dona Lúcia, para
além das questões afetivas e familiares: "Enquanto não se resolve o
problema do Tempo Glauber,
não se resolve o problema do cinema brasileiro". E, aqui, o assunto não é apenas dinheiro.
Curta STV
Quando: hoje, às 10h; amanhã, às
15h30; qua., à 0h30, na Rede SescSenac
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