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A nova "Bíblia"
especial para a Folha
Até o começo desta década, o inglês Jamie Byng, 29 anos, não sabia
se continuava tocando uma casa
noturna que tinha em Edimburgo
ou se dedicava mais à editora onde
trabalhava. Fez a segunda opção,
comprou a Canongate e a transformou no nome mais respeitado da
literatura alternativa britânica.
Byng falou com à Folha por telefone de Edimburgo, na Escócia,
onde foi morar para fazer universidade e decidiu nunca mais sair.
(DENISE BOBADILHA)
Folha - Como surgiu a idéia de
"tocar" editorialmente na "Bíblia"?
Jamie Byng - Em dezembro de
96, um velho amigo sem experiência em publicações me ligou e perguntou por que ninguém havia
pensado em quebrar a "Bíblia" em
cadernos antes. Vi que isso era
uma ótima idéia, mas eu sugeri introduções para cada livro, o que
seria crucial para apresentar a "Bíblia" como um trabalho literário e
não um texto religioso.
Escolhemos pessoas do meio literário para cada introdução e não
gente com compromisso religioso.
Folha - Há uma grande mistura
entre os colaboradores responsáveis por cada introdução, mas quase todos são escritores de ficção. A
escolha deles foi sua?
Byng - Foi parte minha e parte de
uma editora que veio trabalhar conosco especialmente para esse
projeto, Claire Paterson.
Folha - Você é religioso?
Byng - Não de uma maneira convencional. Eu não vou à igreja, eu
não acho que a "Bíblia" seja a palavra de Deus. Eu tenho crenças espirituais, mas elas não passam por
Cristo, generalizações ou morais
filosóficas. Não sou ligado a nenhuma organização religiosa, sou
um tipo de humanista. De certa
forma, eu aprecio a dimensão espiritual da vida.
Folha - De que forma você lê a
"Bíblia" hoje, como editor, em relação ao seu primeiro contato com
ela, na infância?
Byng - É estranho. É um livro e,
mesmo que você não goste dele,
você sabe da sua existência desde
muito cedo em sua vida, porque
está enraizado na nossa cultura, é
ensinado na escola, na imprensa,
indo ou não à igreja aos domingos.
Não há um questionamento se você deve gostar da "Bíblia" -por
essa imposição na sociedade, pouca gente reage contra ela. Todos
são forçados a ter contato com a
"Bíblia" desde muito cedo na vida.
Folha - Há, portanto, um receio
de que a série possa causar uma
certa indiferença?
Byng - O incentivo por trás dessa
série que estamos lançando é tentar mostrar às pessoas um outro lado da "Bíblia", que elas conhecem
desde sempre, mas não como gostariam. É necessário ver com novos olhos. Não é apenas um texto
religioso, e sim um maravilhoso
conjunto de ensinamentos, filosofia e poesia em forma de histórias
contadas. Da maneira como estamos publicando (a "Bíblia"), colocando em pequenos livros, num
formato pequeno, com opiniões de
personalidades literárias, nós oferecemos um fim a cada livro para
ajudar as pessoas a ler mesmo cada
um deles. É uma ajuda ao leitor
moderno para que ele realmente
leia esse texto.
Folha - A recepção do público foi
positiva?
Byng - Foi predominantemente
muito positiva. Apenas duas resenhas foram críticas demais quanto
à escolha dos escritores que fizeram as introduções. Mas 90% das
resenhas e críticas chamaram nossa série de maravilhosa. O formato, a edição gráfica, as introduções,
tudo muito provocante e de fácil
leitura.
Folha - E Will Self dizendo "fucking" na introdução...
Byng - Will Self escreveu um texto fantástico. E temos Richard Holloway, o bispo de Edimburgo, que
é um dos mais insanos e inteligentes homens da igreja no Reino Unido, com um lindo texto. Todas essas pessoas são de diferentes backgrounds, provocando uma mistura maravilhosa.
Folha - Como a igreja reagiu a esse conjunto de colaboradores?
Byng - A única repercussão seriamente negativa tivemos de um pequeno grupo ultraconservador e
fundamentalista de cristãos que
chamou todo o projeto de blasfêmia, desrespeitoso à palavra de
Deus. Considerando a minoria que
eles são, conseguiram fazer muito
barulho.
Folha - A Canongate ficou famosa por lançar nomes escoceses na
literatura britânica, mas só recentemente. Qual o papel dela no
mercado atual?
Byng - A Canongate fui fundada
em 1973 e passou por três diferentes donos. Eu a comprei em outubro de 1994 e, portanto, ela tem sido uma editora com caráter independente há quatro anos.
No mercado editorial, ela se firmou por lançar novos e excelentes
nomes da literatura recente, não só
do Reino Unido, mas de uma gama
bem ampla de escritores de todo o
mundo. E nós editamos uma revista chamada "Rebel Inc.", que lançou grandes nomes contemporâneos da literatura britânica como
Irvine Welsh, Alan Warner e John
King, para ficar entre alguns.
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