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HOMENAGEM
Aposentado compulsoriamente durante o regime militar, filósofo torna-se professor emérito da FFLCH
USP dá título a Bento Prado, afastado em 69
MAURICIO PULS
da Redação
Afastado da USP desde 1969, quando foi aposentado pelo AI-5, Bento Prado Jr. recebeu anteontem o título de professor emérito da FFLCH (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas) da Universidade de São Paulo.
Na solenidade, que lotou o salão nobre da faculdade, compareceram diversos colegas de Bento Prado: José Arthur Giannotti, Paulo Eduardo Arantes, Roberto Schwarz, Oswaldo Porchat, Renato Janine Ribeiro -entre outros.
Coube a Marilena Chaui fazer a saudação: "Quando a congregação decidiu outorgar o título, eu declarei ser meu direito e meu privilégio saudá-lo: fui aluna de sua primeira turma na faculdade. Fui sua primeira orientanda", disse.
Bento Prado falou de sua alegria com a honra concedida -"talvez imerecida"-, relembrou seus anos de formação e a influência exercida por seus professores (Cruz Costa, Lívio Teixeira, Giannotti, Ruy Fausto, Gerard Lebrun).
Em seguida, falou de sua atividade docente e de seus alunos (Marilena, Paulo Arantes), acrescentando que, mesmo classificado como professor inativo por força da cassação, continuou trabalhando na USP como orientador de teses.
Bento Prado de Almeida Ferraz Jr. nasceu em Jaú (SP) no dia 21 de agosto de 1937. Cursou filosofia na USP de 56 a 59, recebendo grande influência do filósofo francês Jean-Paul Sartre. Em 60, tornou-se professor assistente de história da filosofia na universidade. Em 61, foi para a França, onde começou a preparar estudo sobre o pensador francês Henri Bergson. Em 65, aos 28 anos, obteve o título de professor livre-docente com sua tese, publicada em 89 sob o título de "Presença e Campo Transcendental -Consciência e Negatividade na Filosofia de Bergson" (Edusp).
Aposentado compulsoriamente pelo regime militar em 29 de abril de 69, juntamente com Fernando Henrique Cardoso, Bento Prado regressou à França, onde permaneceu cinco anos, um como bolsista do governo francês e quatro como pesquisador do Centro Nacional de Pesquisas Científicas, em Paris. Lá escreveu seu livro sobre a retórica de Rousseau, ainda não publicado na íntegra.
Voltou ao país em 74. Em 77, foi convidado para trabalhar na Universidade Federal de São Carlos. Após seis meses, decidiu se fixar na cidade. Hoje se dedica à análise do problema da subjetividade.
Bento Prado avalia que já existe uma tradição filosófica nacional, que produziu trabalhos relevantes. Para ele, a filosofia nacional dispõe de público interno consolidado e, pouco a pouco, começa a ser mais conhecida no exterior.
Além da tese de livre-docência, publicou "Alguns Ensaios - Filosofia, Literatura e Psicanálise" (Max Limonad, 1985) e "Filosofia da Psicanálise" (org., Brasiliense, 1991). Parte de seu livro sobre Rosseau foi publicado neste ano como introdução ("A Força da Voz e a Violência das Coisas") do "Ensaio sobre a Origem das Línguas" (Unicamp).
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