São Paulo, sábado, 21 de novembro de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

HOMENAGEM
Aposentado compulsoriamente durante o regime militar, filósofo torna-se professor emérito da FFLCH
USP dá título a Bento Prado, afastado em 69

MAURICIO PULS
da Redação

Afastado da USP desde 1969, quando foi aposentado pelo AI-5, Bento Prado Jr. recebeu anteon tem o título de professor emérito da FFLCH (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas) da Universidade de São Paulo.
Na solenidade, que lotou o salão nobre da faculdade, comparece ram diversos colegas de Bento Pra do: José Arthur Giannotti, Paulo Eduardo Arantes, Roberto Schwarz, Oswaldo Porchat, Renato Janine Ribeiro -entre outros. Coube a Marilena Chaui fazer a saudação: "Quando a congregação decidiu outorgar o título, eu decla rei ser meu direito e meu privilégio saudá-lo: fui aluna de sua primeira turma na faculdade. Fui sua pri meira orientanda", disse.
Bento Prado falou de sua alegria com a honra concedida -"talvez imerecida"-, relembrou seus anos de formação e a influência exercida por seus professores (Cruz Costa, Lívio Teixeira, Gian notti, Ruy Fausto, Gerard Lebrun). Em seguida, falou de sua ativida de docente e de seus alunos (Mari lena, Paulo Arantes), acrescentan do que, mesmo classificado como professor inativo por força da cas sação, continuou trabalhando na USP como orientador de teses.
Bento Prado de Almeida Ferraz Jr. nasceu em Jaú (SP) no dia 21 de agosto de 1937. Cursou filosofia na USP de 56 a 59, recebendo grande influência do filósofo francês Jean-Paul Sartre. Em 60, tornou-se pro fessor assistente de história da filo sofia na universidade. Em 61, foi para a França, onde começou a preparar estudo sobre o pensador francês Henri Bergson. Em 65, aos 28 anos, obteve o título de profes sor livre-docente com sua tese, pu blicada em 89 sob o título de "Pre sença e Campo Transcendental -Consciência e Negatividade na Fi losofia de Bergson" (Edusp).
Aposentado compulsoriamente pelo regime militar em 29 de abril de 69, juntamente com Fernando Henrique Cardoso, Bento Prado regressou à França, onde perma neceu cinco anos, um como bolsis ta do governo francês e quatro co mo pesquisador do Centro Nacio nal de Pesquisas Científicas, em Paris. Lá escreveu seu livro sobre a retórica de Rousseau, ainda não publicado na íntegra.
Voltou ao país em 74. Em 77, foi convidado para trabalhar na Uni versidade Federal de São Carlos. Após seis meses, decidiu se fixar na cidade. Hoje se dedica à análise do problema da subjetividade.
Bento Prado avalia que já existe uma tradição filosófica nacional, que produziu trabalhos relevantes. Para ele, a filosofia nacional dispõe de público interno consolidado e, pouco a pouco, começa a ser mais conhecida no exterior.
Além da tese de livre-docência, publicou "Alguns Ensaios - Filoso fia, Literatura e Psicanálise" (Max Limonad, 1985) e "Filosofia da Psi canálise" (org., Brasiliense, 1991). Parte de seu livro sobre Rosseau foi publicado neste ano como intro dução ("A Força da Voz e a Violên cia das Coisas") do "Ensaio sobre a Origem das Línguas" (Unicamp).



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.