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"Descoberta' divide historiadores
CYNARA MENEZES
da Reportagem Local
Dizer a um português que não foi
Pedro Álvares Cabral o primeiro
europeu a aportar no Brasil é tomado quase como ofensa -apesar
de ter sido um deles, o professor
Jorge Couto, presidente do Instituto Camões, quem levantou a hipótese de que Duarte Pacheco teria
chegado aqui, em missão secreta,
dois anos antes de "seu' Cabral.
"Essa é uma história muito conhecida, muito batida e muito refutada", disse à Folha, por telefone, o professor Romero Magalhães, responsável, do lado português, pelas comemorações dos 500
anos do descobrimento.
"Já em 1922, o então embaixador
português no Brasil, Duarte Leite,
refutou totalmente essa história.
Um de seus argumentos foi que essas viagens só foram documentadas muitos anos depois. Os fatos
apresentados não permitem dizer
que Cabral não foi o primeiro."
Em seguida, até admite que algum outro navegador tenha estado
antes na costa norte do território
brasileiro, mas diz que "isso é irrelevante". "Cabral é o único que historicamente tem consequências",
diz Magalhães.
Já a historiadora brasileira Janaína Amado, da Universidade de
Brasília, acha que colocar Cabral
como descobridor vem da necessidade portuguesa de encontrar um
"herói" lusitano para ser o iniciador do Brasil. Ela aceita completamente a tese de que navegadores
espanhóis chegaram aqui antes.
"Não há dúvida de que Pinzón
teria chegado ao território que hoje é brasileiro. A escolha de Cabral
como descobridor foi uma decisão
política e cultural de dar uma origem portuguesa a uma terra que se
tornou portuguesa. Foi uma escolha a posteriori", diz.
A professora Laura de Melo e
Souza, chefe do Departamento de
História da USP, rejeita o termo
"descobrimento", mas afirma que
foi Cabral quem tomou posse da
terra. "Quem incorporou o território a Portugal foi Cabral, sobre isso
não tem discussão possível", diz.
"Ele tomou posse em nome do
rei e Portugal começou a enviar
missões ao Brasil."
Geraldo Pieroni, também da
UnB, acha que a carta de Pero Vaz
de Caminha é o documento que
prova que foi Cabral o descobridor. "Não há outro documento de
posse igual. Não é importante
quem chegou primeiro, afinal dizem que até os chineses estiveram
aqui antes. Importante é efetivar a
descoberta, o que Cabral fez."
A tese da carta como documento
é, porém, rejeitada por Janaína
Amado. "A carta de Caminha só
foi descoberta no século 19. Na verdade, havia pelo menos quatro
possíveis descobridores. Mas a história é feita de escolhas e era importante que, naquela hora, a escolha recaísse sobre um português."
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