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Frank Miller leva Spirit ao cinema e fracassa
Filme inspirado no personagem de Will Eisner mistura ação sem sentido e falta de graça
Com estréia em fevereiro no Brasil, produção tem elenco estelar, com as belas Eva Mendes e Scarlett Johansson, além de Samuel L. Jackson
LEONARDO CRUZ
ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK
Frank Miller, 51, cria HQs
desde a infância, era amigo de
Will Eisner, leitor assíduo das
histórias dele e em 2006 já tinha dirigido "Sin City", filme
inspirado em um de seus próprios gibis. "Senti que era o melhor cara para este trabalho,
pois conhecia a obra dele mais
do que qualquer outra pessoa",
diz Miller, sobre "The Spirit",
sua versão para o cinema das
aventuras do mais famoso personagem de Eisner.
Bem, seu filme é a comprovação de que nem sempre "o melhor cara para o trabalho" faz o
melhor trabalho possível. "The
Spirit, o Filme", que estréia nos
EUA neste Natal e no Brasil em
6/2, é uma equivocada mistura
de ação sem sentido e comédia
sem graça que tenta, sem sucesso, reproduzir o espírito das
histórias de Denny Colt, o detetive que sobrevive à morte para
se tornar um vigilante mascarado em defesa de Central City.
Eisner (1917-2005) criou
"The Spirit" em 1940 para inserções dominicais em uma rede de jornais dos EUA -seu
personagem se distanciava dos
heróis dos quadrinhos da época
por não ter nenhum grande poder nem um conjunto de armas
mirabolantes para combater o
crime. Mulherengo, enfrentava
seus inimigos no tapa, em histórias de mistério, clima noir e
humor ingênuo.
O "Spirit" de Miller é mais
"contemporâneo" -computadores e celulares surgem em
meio ao cenário e figurino anos
40. É mais violento, e o humor
inocente foi substituído pelo
pastelão, que mimetiza o espírito de desenhos animados. Ao
contrário de recentes versões
de HQs ao cinema, aqui não há
reflexões ou parábolas sobre o
mundo atual. E Denny Colt
continua um sedutor, mas com
um superpoder: o seu corpo cura os ferimentos rapidamente.
Sobre as adaptações que fez
no personagem, Miller defende
que uma revisão era necessária:
"Se mantivesse todos os detalhes do que Eisner fez quando
tinha seus 20 anos, eu teria feito um filme, primeiro, muito
bobo e, segundo, que ele jamais
teria perdoado. Eisner era um
experimentador, um inventor,
e muito do que ele fez funcionou brilhantemente, e muito
do que fez foi terrível".
Colcha de histórias
A linha mestra do filme é
uma fusão de três histórias escritas por Eisner nos anos 40 e
50, uma sobre a origem do personagem e outras duas sobre a
relação entre Spirit e Sand Saref, sedutora trambiqueira que
é paixão de infância do herói e
sabe sua identidade secreta.
A trama se resume à busca
pelos tesouros guardados em
dois baús que estavam em um
navio que naufragou na baía de
Central City. Saref procura um
deles. Octopus, o arquiinimigo
de Spirit, quer o outro. A origem e o passado de Spirit estão
ligados ao conteúdo dos dois.
Dada a fragilidade narrativa,
o elenco faz o que pode. O novato Gabriel Macht ficou fisicamente parecido com o Spirit da
HQ. Eva Mendes, como Sand
Saref, não compromete. Samuel L. Jackson é um bom vilão -seu Octopus, criminoso
que nos quadrinhos nunca
mostrava o rosto, virou um
cientista maluco que faz experiências genéticas atrás da
imortalidade. Sua assistente é
Silken Floss, vivida por Scarlett
Johansson. Depois de três filmes com Woody Allen, ela poderia ter passado sem essa.
Questionado se gostaria de
adaptar mais alguma HQ de outro autor ao cinema, Miller diz
que não. Está focado em preparar as continuações de "Sin
City" e "300", outra história de
sua autoria levada às telas.
Mas nem obras posteriores
de Eisner, como "O Edifício"?
Nova negativa: ""Spirit" combina comigo porque foi escrito na
fase romântica de Will Eisner, e
eu sou muito romântico. Mas
seu período naturalista, seus
últimos trabalhos, eu os aprecio, mas não sou a pessoa certa
para dirigi-los". A julgar por
"Spirit", ainda bem.
O jornalista LEONARDO CRUZ viajou a Nova
York a convite da Sony Pictures
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