São Paulo, domingo, 21 de dezembro de 2008

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Frank Miller leva Spirit ao cinema e fracassa

Filme inspirado no personagem de Will Eisner mistura ação sem sentido e falta de graça

Com estréia em fevereiro no Brasil, produção tem elenco estelar, com as belas Eva Mendes e Scarlett Johansson, além de Samuel L. Jackson

LEONARDO CRUZ
ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK

Frank Miller, 51, cria HQs desde a infância, era amigo de Will Eisner, leitor assíduo das histórias dele e em 2006 já tinha dirigido "Sin City", filme inspirado em um de seus próprios gibis. "Senti que era o melhor cara para este trabalho, pois conhecia a obra dele mais do que qualquer outra pessoa", diz Miller, sobre "The Spirit", sua versão para o cinema das aventuras do mais famoso personagem de Eisner. Bem, seu filme é a comprovação de que nem sempre "o melhor cara para o trabalho" faz o melhor trabalho possível. "The Spirit, o Filme", que estréia nos EUA neste Natal e no Brasil em 6/2, é uma equivocada mistura de ação sem sentido e comédia sem graça que tenta, sem sucesso, reproduzir o espírito das histórias de Denny Colt, o detetive que sobrevive à morte para se tornar um vigilante mascarado em defesa de Central City. Eisner (1917-2005) criou "The Spirit" em 1940 para inserções dominicais em uma rede de jornais dos EUA -seu personagem se distanciava dos heróis dos quadrinhos da época por não ter nenhum grande poder nem um conjunto de armas mirabolantes para combater o crime. Mulherengo, enfrentava seus inimigos no tapa, em histórias de mistério, clima noir e humor ingênuo. O "Spirit" de Miller é mais "contemporâneo" -computadores e celulares surgem em meio ao cenário e figurino anos 40. É mais violento, e o humor inocente foi substituído pelo pastelão, que mimetiza o espírito de desenhos animados. Ao contrário de recentes versões de HQs ao cinema, aqui não há reflexões ou parábolas sobre o mundo atual. E Denny Colt continua um sedutor, mas com um superpoder: o seu corpo cura os ferimentos rapidamente. Sobre as adaptações que fez no personagem, Miller defende que uma revisão era necessária: "Se mantivesse todos os detalhes do que Eisner fez quando tinha seus 20 anos, eu teria feito um filme, primeiro, muito bobo e, segundo, que ele jamais teria perdoado. Eisner era um experimentador, um inventor, e muito do que ele fez funcionou brilhantemente, e muito do que fez foi terrível".

Colcha de histórias
A linha mestra do filme é uma fusão de três histórias escritas por Eisner nos anos 40 e 50, uma sobre a origem do personagem e outras duas sobre a relação entre Spirit e Sand Saref, sedutora trambiqueira que é paixão de infância do herói e sabe sua identidade secreta. A trama se resume à busca pelos tesouros guardados em dois baús que estavam em um navio que naufragou na baía de Central City. Saref procura um deles. Octopus, o arquiinimigo de Spirit, quer o outro. A origem e o passado de Spirit estão ligados ao conteúdo dos dois. Dada a fragilidade narrativa, o elenco faz o que pode. O novato Gabriel Macht ficou fisicamente parecido com o Spirit da HQ. Eva Mendes, como Sand Saref, não compromete. Samuel L. Jackson é um bom vilão -seu Octopus, criminoso que nos quadrinhos nunca mostrava o rosto, virou um cientista maluco que faz experiências genéticas atrás da imortalidade. Sua assistente é Silken Floss, vivida por Scarlett Johansson. Depois de três filmes com Woody Allen, ela poderia ter passado sem essa. Questionado se gostaria de adaptar mais alguma HQ de outro autor ao cinema, Miller diz que não. Está focado em preparar as continuações de "Sin City" e "300", outra história de sua autoria levada às telas. Mas nem obras posteriores de Eisner, como "O Edifício"? Nova negativa: ""Spirit" combina comigo porque foi escrito na fase romântica de Will Eisner, e eu sou muito romântico. Mas seu período naturalista, seus últimos trabalhos, eu os aprecio, mas não sou a pessoa certa para dirigi-los". A julgar por "Spirit", ainda bem.


O jornalista LEONARDO CRUZ viajou a Nova York a convite da Sony Pictures

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