São Paulo, Sábado, 22 de Janeiro de 2000 |
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A hora e vez de Gilberto Freyre
SHEILA GRECCO da Redação Ele já foi chamado de anarquista e reacionário, de pornográfico e conservador, de romantizar a escravidão e de ser a âncora da tese da democracia racial. "Casa-Grande & Senzala" foi apelidada de "Casa-Grande sem Sala" e aconselhada a ser queimada, assim como classificada pelo crítico Antonio Candido como uma das obras do século no Brasil. Controverso e polêmico, o sociólogo Gilberto Freyre (1900-1987) é revisitado em relançamentos, lançamentos de sua obra e de interpretações de seus escritor, adaptações para o teatro e para o cinema, nas mãos de Nelson de Pereira dos Santos, seminários, concursos, festivais, descoberta de materiais inéditos (veja relação completa nesta edição). Os preparativos para a comemoração de seu centenário já começaram. Impulsionadas pela concorrência, editoras se antecipam ao mês de nascimento de Gilberto Freyre, (março) e se revezam na briga pelo mercado. A Record acaba de lançar em edição gráfica mais bem-acabada os três livros clássicos do sociólogo: "Casa-Grande & Senzala" (1933), "Sobrados e Mucambos" (1936) e "Ordem e Progresso" (1959). A Cia. das Letras prepara o lançamento de "Interpretação do Brasil" (1987). A Nova Aguilar planeja editar em fevereiro a coleção especial "Intérpretes do Brasil", na qual seleciona textos de 13 autores -entre eles, Gilberto Freyre- fundamentais para a o pensamento brasileiro. "É preciso descobrir Gilberto Freyre. Seus livros estavam esgotados, dispersos. Só os clássicos naquelas edições velhas da Record. Há muita obra dele inédita", afirma José Mário Pereira, da editora Top Books, que tem previstos lançamentos de dez livros que se encontram fora de catálogo. O editor também questiona que se tenha produzido tão poucos estudos sobre Gilberto Freyre. "Sua obra ficou soterrada devido a vetos tolos. Só depois do prefácio de Antonio Candido, em que ele menciona "Casa-Grande & Senzala" ao lado de "Raízes do Brasil",de Sergio Buarque de Holanda e de "Formação do Brasil Contemporâneo", de Caio Prado Júnior como os três principais livros para se entender o Brasil, é que começou a se dizer "esse camarada é de direita, mas vale a pena ler "Casa-Grande & Senzala'". O editor também alfineta os concorrentes: "Vamos lançar em breve toda a correspondência inédita de Gilberto Freyre que está sendo mantida e organizada pela família. O volume de cartas é tão grande quanto o de Mario de Andrade", diz. Não é a versão da Fundação Gilberto Freyre, que cataloga o material. Segundo Gilberto Freyre Neto, superintendente-geral da fundação, o objetivo é colocar parte desse material na rede, quanto à publicação em livro não há contrato com nenhuma editora. Enquanto isso, a mesma fundação, que está sendo motivo de cobiça pelas editoras, está servindo de cenário para algumas das tomadas de "Casa-Grande e Senzala", documentário de Nelson Pereira dos Santos que começa a ser rodado hoje em Recife. Acompanhe nesta edição os bastidores das filmagens e o impacto queFreyre continua provocando na intelectualidade brasileira. Texto Anterior: Programação de TV Próximo Texto: Nelson Pereira une pontas da carreira Índice |
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