São Paulo, Sábado, 22 de Janeiro de 2000


Envie esta notícia por e-mail para
assinantes do UOL ou da Folha
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"Anti-freyrianos o reconhecem"

da Redação


Edson Nery da Fonseca, que será o narrador no documentário de "Casa-Grande & Senzala", diz que toda a geração que foi anti-Freyre na USP, na década de 60, por considerá-lo de direita, hoje o reconhece.
"Florestan Fernandes, Fernando Henrique Cardoso, Carlos Guilherme Motta e Octavio Ianni tiveram uma posição emocional contra Gilberto Freyre, num primeiro momento, mas já reviram suas posições e o consideram como um marco no pensamento brasileiro", disse à Folha.
Edson Nery, 78, professor emérito da Universidade de Brasília, amigo pessoal de Gilberto Freyre e colaborador do sociólogo em inúmeros livros alerta para a tendência de se considerar Gilberto Freyre como sendo somente o autor de "Casa-Grande & Senzala". "A história da sociedade patriarcal no Brasil está em todo o Freyre, em toda a sua vasta obra."
"Gilberto Freyre foi o criador da história oral, mesmo sem gravador. Ele se infiltrava na cultura do povo, colhia depoimentos, registrava tudo e então escrevia." Uma influência também do antropólogo Franz Boas.
A história teria deixado de ser cronológica, para ser psicológica, deixou de ser o registro dos grandes eventos para ser a da história da intimidade, da família, da cultura. "O povo entra na história."
"Freyre não era anti-nada, ele não guardava rancor." Ele desmistifica também as desavenças entre o grupo de sociólogos da USP. Em 1961, o professor Florestan Fernandes, da Universidade de São Paulo, tentou convencer Gilberto Freyre a participar da banca examinadora de dois alunos seus -Octavio Ianni e Fernando Henrique Cardoso. Freyre responde educadamente, mas não aceita o convite. "Ele não foi porque não pôde", explica Nery.
Ele também critica a tendência de se contrapor Gilberto Freyre a Sergio Buarque de Holanda. Os dois pensadores se afastaram em função das próprias idéias e diferenças políticas. Em 1951, Sergio Buarque publicou uma série de artigos dizendo que, embora possuísse uma obra de muitos méritos, Freyre apresentava apenas uma "visão lírica".
Porém, ressalta Nery, Sergio Buarque vai beber e muito das idéias de Freyre para publicar três anos depois "Raízes do Brasil" (1936). Buarque também teria ajudado Freyre em traduções.

Gestual de Freyre
Crônicas retiradas de "Assombrações do Recife Velho" foram uma das inspirações dos criadores do espetáculo teatral "O Nome do Sujeito". "Selecionamos alguns textos de Freyre, com a ajuda do historiador Evaldo Cabral de Mello Neto, pela questão do devassamento tão presente", explicou o diretor à Folha. Ele explica o gestual de Freyre: "Devassamento do outro, destruição do corpo do outro, do escravo. Esse olhar freyriano sobre um país em que um indivíduo se afirma suprimindo um outro".


Texto Anterior: Cronologia
Próximo Texto: Gilberto Freyre é o Orson Welles magno da sociologia
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.