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"Anti-freyrianos o reconhecem"
da Redação
Edson Nery da Fonseca, que será o narrador no documentário
de "Casa-Grande & Senzala", diz
que toda a geração que foi anti-Freyre na USP, na década de 60,
por considerá-lo de direita, hoje o
reconhece.
"Florestan Fernandes, Fernando Henrique Cardoso, Carlos
Guilherme Motta e Octavio Ianni
tiveram uma posição emocional
contra Gilberto Freyre, num primeiro momento, mas já reviram
suas posições e o consideram como um marco no pensamento
brasileiro", disse à Folha.
Edson Nery, 78, professor emérito da Universidade de Brasília,
amigo pessoal de Gilberto Freyre
e colaborador do sociólogo em
inúmeros livros alerta para a tendência de se considerar Gilberto
Freyre como sendo somente o autor de "Casa-Grande & Senzala".
"A história da sociedade patriarcal no Brasil está em todo o Freyre, em toda a sua vasta obra."
"Gilberto Freyre foi o criador da
história oral, mesmo sem gravador. Ele se infiltrava na cultura do
povo, colhia depoimentos, registrava tudo e então escrevia." Uma
influência também do antropólogo Franz Boas.
A história teria deixado de ser
cronológica, para ser psicológica,
deixou de ser o registro dos grandes eventos para ser a da história
da intimidade, da família, da cultura. "O povo entra na história."
"Freyre não era anti-nada, ele
não guardava rancor." Ele desmistifica também as desavenças
entre o grupo de sociólogos da
USP. Em 1961, o professor Florestan Fernandes, da Universidade
de São Paulo, tentou convencer
Gilberto Freyre a participar da
banca examinadora de dois alunos seus -Octavio Ianni e Fernando Henrique Cardoso. Freyre
responde educadamente, mas
não aceita o convite. "Ele não foi
porque não pôde", explica Nery.
Ele também critica a tendência
de se contrapor Gilberto Freyre a
Sergio Buarque de Holanda. Os
dois pensadores se afastaram em
função das próprias idéias e diferenças políticas. Em 1951, Sergio
Buarque publicou uma série de
artigos dizendo que, embora possuísse uma obra de muitos méritos, Freyre apresentava apenas
uma "visão lírica".
Porém, ressalta Nery, Sergio
Buarque vai beber e muito das
idéias de Freyre para publicar três
anos depois "Raízes do Brasil"
(1936). Buarque também teria
ajudado Freyre em traduções.
Gestual de Freyre
Crônicas retiradas de "Assombrações do Recife Velho" foram
uma das inspirações dos criadores do espetáculo teatral "O Nome
do Sujeito". "Selecionamos alguns textos de Freyre, com a ajuda do historiador Evaldo Cabral
de Mello Neto, pela questão do
devassamento tão presente", explicou o diretor à Folha. Ele explica o gestual de Freyre: "Devassamento do outro, destruição do
corpo do outro, do escravo. Esse
olhar freyriano sobre um país em
que um indivíduo se afirma suprimindo um outro".
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