São Paulo, Sábado, 22 de Janeiro de 2000


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ARTES PLÁSTICAS
Caverna está sendo construída no Ibirapuera para exibir filme que anima pintura pré-histórica
Brasil 500 faz "Disney" com arte rupestre


CASSIANO ELEK MACHADO
da Reportagem Local

No meio do parque Ibirapuera, em um local antes ocupado por quadras de tênis, começa a surgir uma caverna pré-histórica.
Daqui a três meses, quem entrar nesse "sítio arqueológico" vai encontrar imagens rupestres se movimentando, como em um desenho animado.
"Filmamos sítios arqueológicos e digitalizamos, de modo a dar vida animada a isso. É um pouco de Walt Disney, ficção sobre os trabalhos rupestres, no sentido de provocar o imaginário. Mas é tudo respaldado em um trabalho científico", explica Edemar Cid Ferreira, presidente da Associação Brasil 500 Anos Artes Visuais.
A organização é a responsável pela Mostra do Redescobrimento, que vai reunir no parque Ibirapuera, de 24 de abril a 7 de setembro, cerca de 6.500 obras de arte brasileira de todos os tempos.
A caverna, também batizada de museu ou teatro virtual, começou a ser construída esta semana, e é tratada como a "menina dos olhos" da exposição.
Desenvolvida por uma equipe integrada por Nelson Hoineff, jornalista e diretor de TV, pelo videomaker Marcello Dantas e pelo músico David Tygel (ex-Boca Livre), entre outros, a instalação é inspirada no sítio arqueológico de São Raimundo Nonato, no Piauí.
O projeto todo deve consumir cerca de R$ 4,5 milhões. Mas a maior fatia do orçamento não será gasta na construção da caverna, feita em uma estrutura metálica coberta com lona e uma resina elaborada pelo artista plástico goiano Siron Franco. O filme, que está sendo finalizado nos Estados Unidos, é o núcleo do projeto.
As imagens do filme foram captadas em todo o Brasil, do Rio Grande do Sul ao Piauí. Para tanto, a equipe teve à sua disposição um avião Bandeirante.
A "animação" de figuras desenhadas há mais de 10 mil anos será projetada em uma tela de 16 por 10 metros montada dentro do sítio arqueológico postiço. "Isso tudo com climatização própria, para que a pessoa se sinta dentro de uma caverna", ilustra Edemar.
A trilha sonora do ambiente será apoiada em duas vertentes. A primeira é uma pesquisa dos sons "da vida terrestre na era pré-histórica, incluindo-se aí as condições meteorológicas e os ambientes por elas produzidos", como descreve livreto da Mostra do Redescobrimento. A outra "soma massas instrumentais a efeitos eletrônicos para acompanhar as animações gráficas".
A instalação, de 5.500 metros quadrados, terá capacidade para receber 600 pessoas a cada 30 minutos, duração do filme.
Para Edemar, "essa animação tem o objetivo de mostrar os sítios arqueológicos de modo que as pessoas entrem para ver o filme com uma visão da arte pré-histórica brasileira e saiam com outra totalmente diferente".
Mais do que isso, o ex-presidente da Fundação Bienal de São Paulo diz que "a idéia é aculturar o brasileiro sobre sua civilização indígena e pré-indígena."
Ao final de quatro meses, o circo arqueológico será montado em outras praças. Primeiro no Rio, depois na Bahia e, por fim, no British Museum, em Londres.


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