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CINEMA
Arnaldo Carrilho, 63, vem de Bancoc, onde mora, para substituir João Batista Athayde na presidência da Riofilme
Presidente defende "pensamento e ação"
SILVANA ARANTES
DA REPORTAGEM LOCAL
Antes de assumir oficialmente a
presidência da Riofilme, o embaixador Arnaldo Carrilho, 63, precisa se despedir de quatro chefes de
Estado (os do Camboja, Laos,
Mianmar e Tailândia, junto aos
quais representa o governo brasileiro) e três primeiros-ministros.
O protocolo de remoção do embaixador brasileiro deve alargar a
interinidade na principal distribuidora de filmes nacionais, hoje
a cargo do assessor João Batista
Athayde.
Mas de Bancoc, onde mora -e
de onde conversou com a Folha-, Carrilho já articula as
ações que pretendem injetar fôlego sobretudo no cinema carioca.
Está em contato com representantes da política cinematográfica
nos governos estadual e federal e
diz que não vê "como produzir,
distribuir e exibir imagens sem a
presença normatizante e financeira do poder público".
Folha - Qual deverá ser o perfil da
Riofilme em sua gestão?
Arnaldo Carrilho - Não creio que
sejam necessárias grandes mudanças. Vou suceder a um amigo
de várias décadas, o José Carlos
Avellar, companheiro de lutas pela afirmação de um cinema brasileiro de pensamento e ação.
Pretendo manter contatos estreitos com o Avellar, sobretudo
porque ele se encarrega agora da
estruturação de um sistema estadual de incentivo ao cinema fluminense.
Ora, o Rio é parte do Estado, o
que me leva a propor um trabalho
complementar com o órgão de fomento sob sua direção.
Folha - Será dada prioridade total
ao cinema carioca?
Carrilho - Quero me aproximar
muito do pessoal de Fortaleza,
dos documentaristas e curtas-metragistas do resto do Nordeste, de
Minas Gerais, de Santa Catarina,
do Rio Grande do Sul.
Devemos começar com urgência um "municipalismo de imagem e de som" porque se trata de
assunto mais próximo das comunidades: não conheço nenhum
caso de cinema federal.
Em São Paulo, tenho velhas
amizades e acredito em mecanismos de co-produção nacional.
Mas, evidente, o compromisso
básico da Riofilme é com o cinema carioca.
Folha - O que significa o "cinema
brasileiro de pensamento e ação"?
Carrilho -O cinema de pensamento e ação não implica engajamento ideológico. O cinema novo
era equivocadamente visto por
meio desse ângulo pela burguesia.
Nossos filmes destacavam-se pelas denúncias de males seculares
da nossa sociedade.
Eles permanecem, infelizmente,
porque a classe dominante é indiferente às mazelas do povo. É cafona e provinciana, agressiva.
Os comunistas brasileiros não
apreciavam o cinema novo. Eles
nunca foram democráticos, pois
também eram fruto de uma sociedade autoritária (daí a presença
militar no partido).
Não proponho um gênero qualquer de cinema. Sou contra o cinema "digestivo", mais ainda, o
"tarado-violento" dos enlatados
"action-moving" americanos. As
más qualidades de um filme se denotam em qualquer plano.
Folha - Como o sr. avalia a condição atual do cinema nacional nos
aspectos de produção, distribuição
e exibição?
Carrilho - O ponto crucial do cinema brasileiro está na distribuição. Não adianta produzir se não
se consegue distribuir. A Embrafilme teve sucesso porque distribuía, chegando a 35% anuais médios do mercado para nossas produções. Quando Fernando Collor
e Ipojuca Pontes a desmontaram,
tudo veio abaixo.
A empresa tinha defeitos: burocracia especiosa, folha de pagamento sobrecarregada, sabotagens nos escalões intermediários
a cargo de "emissários" de grupos
em disputa etc.. Em vez de colocá-la em ordem, o governo preferiu
fechá-la, sintoma de incompetência executiva.
Já tenho em mãos os pré-relatórios do Gedic/MinC (grupo executivo de instalação de uma indústria cinematográfica no país,
criado por decreto, no ano passado, pelo presidente da República),
os quais todos esperamos resultem num documento básico que
sirva como diretriz da imprescindível agência reguladora da atividade audiovisual entre nós.
Não vejo como produzir, distribuir e exibir imagens sem a presença normatizante e financeira
do poder público.
O universo audiovisual tornou-se anglo-saxônico porque as outras culturas não estavam preparadas para impor seus produtos.
Insistiam na industrialização da
atividade, perdendo em vantagens competitivas.
Folha - A que modelo deveria
obedecer essa agência reguladora
da atividade audiovisual?
Carrilho - Penso que a agência a
ser criada deva supervisionar técnica e profissionalmente a utilização dos fundos criados pelas leis
de incentivos fiscal (Rouanet e do
Audiovisual). Como os recursos
não dão para cobrir todos os projetos, há que concursá-los transparentemente.
O modelo dessa agência obedeceria ao das outras já criadas pelo
governo e seus funcionários
(poucos) com experiência na parte mais saudável do ramo.
Ela não produziria nem distribuiria. Parte dos seus recursos seria aplicada na restauração e arquivologia de filmes nacionais,
em convênios com as cinematecas locais.
Folha - Vivendo há 32 anos fora
do país, como o sr. se manteve
atualizado em relação à produção
cinematográfica brasileira?
Carrilho - Porque o barão do Rio
Branco nos ensinou como viver
intensamente dentro do Brasil fora dele.
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