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ANÁLISE
"Big Brother" é versão fútil do cotidiano
ESTHER HAMBURGER
ESPECIAL PARA A FOLHA
Difícil aguentar mais um
"Big Brother Brasil" (exibido diariamente pela Globo). Os
mesmos tipos -jovens bonitos,
aspirantes a uma carreira em algum ramo do mundo do espetáculo- se dedicam à árdua tarefa
de entreter sem substância.
Na ausência de trama articulada
em roteiro de autor, os personagens de si mesmos, parecidos, se
dedicam à mais reles versão de
cotidiano fútil: quem vai dormir
com quem, quem vai namorar
quem, quem será eliminado.
A estrutura de gincana procura
compensar a ausência de roteiro,
forçando algum parco drama. E
como no fogo de conselho dos
acampamentos adolescentes, haja
lágrimas.
Não é só roteiro que falta. Falta
movimento de câmera e cuidado
com o som. O formato indiscreto
das câmeras ocultas inibe o desenvolvimento de qualidade mínima de imagem e som. Muitas
vezes não é possível ouvir o cochichar dos personagens.
Pensando assim, o formato
mais parece uma corruptela das
piores versões de ficção seriada. É
como se recebêssemos de volta o
que sobra em cada telespectador
da repetição contínua de um repertório que apequena e carrega
de ansiedade as relações humanas
e, principalmente, as relações
amorosas.
Alguns lances são dignos do
melodrama. Um dos personagens
dessa terceira edição do "reality
show" conta para os amigos/inimigos com quem convive na casa
fechada, e portanto também para
os telespectadores, que sua família -pai, mãe e um irmão- se
reuniu pela primeira vez em 14
anos no "Big Brother".
O que faz o aceno da fama. A fama já não é mais, como era nos
tempos de Maquiavel, associada à
maior ou menor habilidade dos
que têm sangue azul. Ela também
não está restrita ao universo dos
políticos ou sábios profissionais.
A fama parece estar ao alcance
da mão de quem se empenhar nas
artes da representação. Para
quem ainda sintoniza no programa seduzido por essa possibilidade, vale lembrar que a via é instável e arbitrária.
O consolo é que o formato pega
cada vez menos. Resta entender
porque a Globo decidiu empurrar
para mais tarde a outra "casa" em
exibição na emissora, a das sete
mulheres, cujos índices de audiência surpreendem.
Esther Hamburger é antropóloga e
professora da ECA-USP
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