São Paulo, sábado, 22 de janeiro de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

LIVROS

BIOGRAFIA

Coletânea reúne artigos do premiê britânico escritos na década de 30

Churchill revela suas simpatias e dúvidas sobre Hitler e Roosevelt

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Nenhuma lista sensata das 20 personalidades mais importantes do século 20 deixaria de incluir Winston Churchill, o premiê britânico durante a Segunda Guerra Mundial e um dos principais responsáveis pela vitória aliada contra o terror nazista.
Poucos livros publicados neste século no Brasil têm tantos atrativos para os apreciadores da história do século passado quanto "Grandes Homens do Meu Tempo", que reúne artigos escritos por ele durante a década de 1930 sobre seus contemporâneos de destaque.
Os anos 30 foi um dos poucos períodos em que Churchill esteve afastado do poder entre 1900 e 1960. Para ganhar a vida, escreveu para revistas, jornais e editoras. Sua obra literária foi tão relevante que lhe garantiu um Prêmio Nobel de Literatura, embora todos que o conheceram dissessem que ele teria preferido o da Paz.
Seu estilo, grandiloqüente, autocentrado e peremptório, é um dos atrativos desse fascinante volume. Mas o que mais chama a atenção é perceber como Churchill percebia dois homens com quem viria a se relacionar para definir a história de seu tempo: o presidente norte-americano Franklin Roosevelt e o ditador alemão Adolf Hitler.
Os inimigos de Churchill, que não poucas vezes insinuaram simpatias veladas e recíprocas entre ele e o nazismo, costumavam citar trechos do final de sua análise sobre o Führer como evidência dessa pretensa identidade ideológica: "Os que conheceram Herr Hitler pessoalmente... encontraram um funcionário altamente competente, tranqüilo e bem-informado, de maneiras agradáveis e de um sorriso que desarma, e muitos poucos permaneceram insensíveis a um sutil magnetismo pessoal... Assim, o mundo vive na esperança de que o pior tenha passado e que ainda possamos ver em Hitler uma figura mais moderada, em tempos mais felizes".
Não é possível negar o equívoco dessa visão otimista, redigida em 1935, dois anos após a vitória eleitoral nazista e ano que marca o início da ditadura. Mas o tom do artigo do texto sobre Hitler é inquestionavelmente crítico. Churchill chama a atenção dos seus leitores para aspectos sombrios da personalidade do então chanceler do Reich e para a carga de ódio, violência e paixão que o levaram ao poder.
Quanto a Roosevelt, a quem conheceria com intimidade durante a guerra, Churchill também cometeu enganos. Por exemplo, duvidava que o New Deal pudesse trazer prosperidade econômica.
Escrito em 1934, quando ainda era difícil prever com segurança se Roosevelt seria capaz de reerguer a economia americana destroçada pelo crash da Bolsa de Nova York, o texto reflete muitas dúvidas que conservadores, como Churchill, tinham diante do liberalismo do presidente americano.
Mas Winston Churchill não deixou dúvida a respeito de qual lado defendia, ao responder àqueles que diziam que Roosevelt poderia ser um Hitler do outro lado do Atlântico:
"Comparar o trabalho de Roosevelt com o de Hitler equivale a insultar não Roosevelt, mas a civilização. As perseguições mesquinhas e as demonstrações de brutalidade medieval em que o ídolo germânico tem incorrido simplesmente revelam sua pequenez e sordidez, comparadas com o renascimento de esforço criativo com o qual o nome de Roosevelt ficará ligado para sempre".


Carlos Eduardo Lins da Silva é jornalista e diretor da Patri Relações Governamentais e Políticas Públicas

Grandes Homens do Meu Tempo
    
Autor: Winston Churchill
Tradução: Gleuber Vieira
Editora: Nova Fronteira
Quanto: R$ 45 (328 págs.)


Texto Anterior: Cinema: Curso sobre história abre suas inscrições
Próximo Texto: "O Cemitério dos Vivos" /Romance; "Um Passeio..." :Reedição de obra de Lima tropeça
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.